A dimensão afetiva da memoria relaciona-se
em parte a invenção do eu através do outro. Esta banalidade ontológica torna-se,
entretanto, interessante quando associamos a construção da individualidade com
uma estratégica de contraposição ao coletivo e aos valores socialmente aceitos.
O individuo torna-se complexo e autônomo
na medida em que escolhe o isolamento, o questionamento como via de auto - descoberta
constante e desafio aos lugares comuns dos intercâmbios societários. Desta forma, pouco importa a gênese social da
individualidade. São suas escolhas e tendências introspectivas que condicionam
sua maior ou menor importância enquanto personificação privilegiada da
experiência humana.
Lamentavelmente, o que se
descreve aqui não é uma tendência. Pelo contrário, o indivíduo contemporâneo tende
a buscar segurança em uma identidade coletiva, a abrigar-se no grupo e não em
investir em si mesmo como singularidade. A memoria torna-se compartilhamento
com o outro da experiência indiferenciada do mundo.