sexta-feira, 13 de novembro de 2015

IMPULSO

Antes que o dia envelheça,
que não haja mais nada a ser dito,
quero semear no vento
toda a minha  vontade de voar,
acontecer sobre o sol a pino
e renascer em palavras
que não cabem na boca.
Quero gritar o silêncio
e amanhecer  de repente

no silêncio dos abismos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

NÃO SEI SE VALHO UMA AUTOBIOGRAFIA

A ideia de fazer anotações biográficas sempre me pareceu patética. Não porque não tinha alguma coisa a dizer sobre o meu cotidiano. Mas porque tudo aquilo que poderia ser dito não passava de um lugar comum de merda.

Como fazer anotações biográficas quando a gente sente que falta um pouco  de realidade nos afazeres banais do dia a dia?
Escrever sobre minhas  angustia, meus desconfortos, medos e frustrações ?

Redizer, talvez, A NAUSEA do Sartre?
Sinceramente, não vale a pena. Não quero ser mais um palhaço no teatro das letras.


O real desafio é deixar a vida viver, conseguir acontecer profundamente no raso da realidade até  perder o juízo e ter algo absurdo para decorar o papel com um mínimo de dignindade.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

RETRATO DE UM ARTISTA SEM ROSTO

Você pode viver varias vidas em algumas décadas e achar que sempre foi apenas este seu ego sujo e sem grandes objetivos. As pessoas, de modo geral, se definem pela mediocridade dos  genéricos propósitos impostos pela pauta social. Seja bem sucedido, faça viagens, farte-se de boa comida e tenha verdades limpas e decentes. Seja apenas o que esperam de você e isso definirá a segurança infantil tão cara ao seu pequeno ego.

Mas a cultura e a civilização avançam apenas quando temos por ai um bando de desajustados e perturbados buscando alguma coisa nova que não cabe no ego ou nas massas. Mesmo em tempos como o de hoje em que toda a novidade é enfadonha e tediante existem aqueles que se perdem na busca de coisas que ainda não tem nome nem lugar na realidade  coletivamente inventada dia após dia.

Eu poderia ficar por horas a fio escrevendo sobre isso. Mas o que quero dizer é simples e pode ser resumido em apenas uma frase:

O MUNDO É UM LIVRO ALUCINADO QUE VAI MUDANDO O TEXTO NA MEDIDA EM VOCÊ O LÊ ENQUANTO VAI VIVENDO.

Talvez porque o leitor do primeiro capítulo não seja  o mesmo do décimo, ou, quem sabe, o livro se faça através dos seus olhos, já que o ato de olhar pressupõe mutação e movimento e o texto, de um modo muito estranho, está dentro de você.
O livro pode ser apenas um espelho...

O grande problema é que nunca sabemos direito que livro é este que estamos lendo...



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

MARCAS DE INFÂNCIA

As marcas indiscretas da minha infância
são visíveis sobre a pele, em cada gesto,
em cada riso e modo imperfeito ,
que ainda hoje define meu modo de saber o mundo.

Guardo dentro de mim os primeiros sentimentos,
os primeiros sonhos e imaginações,
os anos em que eu era menos  do que um garoto
e a vida acontecia leve como a visão de um céu estrelado.

Mesmo que o mundo siga agora quebrado,
que muitos já estejam mortos,
que eu não tenha lugar ou chão,

ainda sonho como um simples menino.

OS LIMITES DO PENSAMENTO

Não podemos reduzir a subjetividade ao ego psicológico. Somos complexos demais e o eu que pensa e se auto representa é apenas parte do nosso acontecer enquanto micro universo da condição humana.

A pergunta sobre o que significa uma individualidade psicológica não tem resposta fácil  e muito menos é um questionamento que possa ser feito sobre as bases mais lúcidas, considerando que o eu que pensa tende a reduzir a resposta a experiência de si mesmo.

O que aqui se coloca é a questão dos limites do próprio pensamento, o que é aquilo que podemos saber e não saber? Onde o pensamento se cala e a realidade deixa de ser inteligível  Quais as consequências disso?

Seria ingênuo tentar aqui responder a tais questões, pois, neste caso, aquilo que  não é dito é mais importante do que aquilo que foi escrito...

ENTRE OS NIILISTAS

Havia uma estranha distância entre o muito que eu queria e o pouco que esperava. Havia perdido o mau hábito de me levar por utopias e o bom senso de ser prudente com os fatos.

Reescrevia minhas ousadias e vontades em um silêncio explosivo que, de modo surpreendentemente discreto, desafiava todas as ordens e representações  do mundo.

Minha única arma era a aventura do pensamento e a descrença nos tantos lugares comuns e carcomidas certezas que ainda coletivamente nos sustentava qualquer ideal de vida.


Fui beber entre os niilistas que estavam serenamente sentados a beira do abismo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

PARA ALÉM DO HUMANISMO


A superação da forma-homem, a dissolução do “saber”, a superação do moderno cenário epistêmico, proposto por FOUCAULT, ainda é uma trama a ser resolvida em nossos contemporâneos tempos de meta realidade...

A superação do geral que nos  codifica  na ordem da infinitude é também é a consciência de que

“Antes do fim do século XVIII, o homem não existia. [...] É uma criatura muito recente, que a demiurgia do saber fabricou com suas mãos há menos de 200 anos”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 425

Assim sendo,

“Para despertar o pensamento de tal sono – tão profundo que ele o experimenta paradoxalmente como vigilância, de tal modo confunde a circularidade de um dogmatismo que se desdobra para encontrar em si mesmo seu próprio apoio com a agilidade e a inquietude de um pensamento radicalmente filosófico – para chamá-lo às suas mais matinais possibilidades, não há outro meio senão destruir, até seus fundamentos, o “quadrilátero” antropológico."

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002, P.472


PERSPECTIVAS INDIVIDUALISTAS

Espero Algum dia atingir, como indivíduo, uma espécie de estado de indiferença e relativa autonomia em relação ao mundo vivido. Falo da possibilidade de escapar das fantasias socialmente compartilhadas de realidade a partir de uma experiência estética de meus arranjos subjetivos e fantasias sobre a experiência dos meus dias.


É premissa de tal objetivo a constatação de que a vida, em estado bruto, é impermeável as significações e interpretações coletivas e nossas convenções de real. Atualmente, diante das transformações das sensibilidades e redefinições de nosso modo de estar no mundo através das tecnologias digitais, o indivíduo pode finalmente vislumbrar sua condição de singularidade como uma potencial extra territoriedade asocial, ou seja,  como um não lugar ontológico mediante a abstração da dimensão social da vida.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

FANTASIA

E tudo se foi com o instante
Para o lugar comum da angustia,
Dos pesadelos e das dúvidas
Que minha imaginação bem conhece.
Suspirei alguns infinitos,
Bebi eternidades
E depois me perdi
Nas incertezas do ego.
Tudo no fim deu em silêncio
No rosto dos outros

Diante das fronteiras do meu rosto.

domingo, 1 de novembro de 2015

O PASSADO COMO AGORA E SEMPRE

Um dos aspectos mais incômodos da cultura contemporânea  é a instabilidade de nossas referências de realidade. Os padrões de representação de mundo se modificam a curto prazo, graças as novas sensibilidades e linguagens engendradas pela digitalização da vida cotidiana.

Já não somos os construtores do real, do tempo presente, mas instrumentos de produção espontânea de um passado que não para de crescer.

A mudança  e a transformação, entretanto, não  conduz ao novo, mas a inovação do sempre igual como falsa meta da cultura e da própria vida. É como se o horizonte houvesse desaparecido do caminho.

A  vida individual como introjeção absoluta e reprodução vazia da vida social e coletiva se transformou em um pesadelo que reduziu a experiência do indivíduo a um apêndice da sociedade.  Torna-se cada vez mais difícil ser diferente em tempos de padronização comportamental como princípio da própria possibilidade de expressão.

Os que ousam o descaminho da contramão da sociedade, tendem ao isolamento, a invisibilidade privada, em tempos em que a própria privacidade se torna cada vez mais pública.


Tudo aquilo que somos e fazemos já nasce como passado, como algo despido de realidade e a margem de todo tempo presente.