segunda-feira, 9 de novembro de 2015

ENTRE OS NIILISTAS

Havia uma estranha distância entre o muito que eu queria e o pouco que esperava. Havia perdido o mau hábito de me levar por utopias e o bom senso de ser prudente com os fatos.

Reescrevia minhas ousadias e vontades em um silêncio explosivo que, de modo surpreendentemente discreto, desafiava todas as ordens e representações  do mundo.

Minha única arma era a aventura do pensamento e a descrença nos tantos lugares comuns e carcomidas certezas que ainda coletivamente nos sustentava qualquer ideal de vida.


Fui beber entre os niilistas que estavam serenamente sentados a beira do abismo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

PARA ALÉM DO HUMANISMO


A superação da forma-homem, a dissolução do “saber”, a superação do moderno cenário epistêmico, proposto por FOUCAULT, ainda é uma trama a ser resolvida em nossos contemporâneos tempos de meta realidade...

A superação do geral que nos  codifica  na ordem da infinitude é também é a consciência de que

“Antes do fim do século XVIII, o homem não existia. [...] É uma criatura muito recente, que a demiurgia do saber fabricou com suas mãos há menos de 200 anos”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 425

Assim sendo,

“Para despertar o pensamento de tal sono – tão profundo que ele o experimenta paradoxalmente como vigilância, de tal modo confunde a circularidade de um dogmatismo que se desdobra para encontrar em si mesmo seu próprio apoio com a agilidade e a inquietude de um pensamento radicalmente filosófico – para chamá-lo às suas mais matinais possibilidades, não há outro meio senão destruir, até seus fundamentos, o “quadrilátero” antropológico."

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002, P.472


PERSPECTIVAS INDIVIDUALISTAS

Espero Algum dia atingir, como indivíduo, uma espécie de estado de indiferença e relativa autonomia em relação ao mundo vivido. Falo da possibilidade de escapar das fantasias socialmente compartilhadas de realidade a partir de uma experiência estética de meus arranjos subjetivos e fantasias sobre a experiência dos meus dias.


É premissa de tal objetivo a constatação de que a vida, em estado bruto, é impermeável as significações e interpretações coletivas e nossas convenções de real. Atualmente, diante das transformações das sensibilidades e redefinições de nosso modo de estar no mundo através das tecnologias digitais, o indivíduo pode finalmente vislumbrar sua condição de singularidade como uma potencial extra territoriedade asocial, ou seja,  como um não lugar ontológico mediante a abstração da dimensão social da vida.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

FANTASIA

E tudo se foi com o instante
Para o lugar comum da angustia,
Dos pesadelos e das dúvidas
Que minha imaginação bem conhece.
Suspirei alguns infinitos,
Bebi eternidades
E depois me perdi
Nas incertezas do ego.
Tudo no fim deu em silêncio
No rosto dos outros

Diante das fronteiras do meu rosto.

domingo, 1 de novembro de 2015

O PASSADO COMO AGORA E SEMPRE

Um dos aspectos mais incômodos da cultura contemporânea  é a instabilidade de nossas referências de realidade. Os padrões de representação de mundo se modificam a curto prazo, graças as novas sensibilidades e linguagens engendradas pela digitalização da vida cotidiana.

Já não somos os construtores do real, do tempo presente, mas instrumentos de produção espontânea de um passado que não para de crescer.

A mudança  e a transformação, entretanto, não  conduz ao novo, mas a inovação do sempre igual como falsa meta da cultura e da própria vida. É como se o horizonte houvesse desaparecido do caminho.

A  vida individual como introjeção absoluta e reprodução vazia da vida social e coletiva se transformou em um pesadelo que reduziu a experiência do indivíduo a um apêndice da sociedade.  Torna-se cada vez mais difícil ser diferente em tempos de padronização comportamental como princípio da própria possibilidade de expressão.

Os que ousam o descaminho da contramão da sociedade, tendem ao isolamento, a invisibilidade privada, em tempos em que a própria privacidade se torna cada vez mais pública.


Tudo aquilo que somos e fazemos já nasce como passado, como algo despido de realidade e a margem de todo tempo presente. 

sábado, 31 de outubro de 2015

O DRAMA DA INDIVIDUAÇÃO

Tornar-se livre é individuar-se. Mas quanto mais nos fazemos conscientes da pluralidade de coisas que somos, menos nos interessamos por aquilo que para os outros goza de importância no acontecer coletivo da condição humana.

Conquistar a si mesmo e viver dilacerado pela própria consciência, perceber o não significado das coisas, a opacidade  e banalidade dos valores e tradições que inspiram o  rebanho humano, nos custa  a ilusão da felicidade vindoura. Diante de nós o desafio da vertigem, da avalanche e do abismo esclarecem o incerto caminho do indivíduo.


Pois, para o pleno indivíduo, o agir torna-se um fardo. Ele não é inspirado por nenhuma grande paixão ou convicção.  O horror diante dos olhos é sua única e insensata motivação. Isso o torna impróprio para ação, para o acontecer em um mundo que já perdeu todas as suas justificativas, toda razão de ser. Cabe-lhe a sina do herói trágico.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DESENCANTAMENTO

A vida acontece no  avesso
Da cotidiana existência
Individualmente sonhada
Nos desvãos e devassidões  do acontecer coletivo.
Ela é a vertigem do pensamento cego
Que se perde no labirinto dos afetos,
Das pulsões,
Como irracional necessidade
De  escrever na carne  a marca do rosto,
A urgência dos objetos
No vazio do sujeito.
Fomos condenados a nós mesmos,
A avalanche  das paixões  transfiguradas
Em fantasias infantis de sociedade.

Nos tornamos mais pesados que o céu...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

NÃO SOU RESPONSÁVEL

Não sou responsável pelo mundo em que vivo.
Não sou responsável se quer pelo meu pensamento,
pois ele me acontece expontaneamente
tanto quanto o bater  do meu coração.
Por isso não vivo de erros ou de culpas.
Sou apenas o resultado de um complexo conjunto de fatos.
Não passo de um enigma sem solução.
Nada tenho a dizer de mim mesmo
que não seja o dizer de um outro no espelho.
Aprendi a viver sem rumo
desconstruindo mundos,
desdizendo a mim mesmo.
Não sou responsável  por nada.
os da morte


como senhora do tempo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

STAR TREK

A terra não tem quatro cantos,
é plena esfera
que  nos inventa
na alternância dos dias e noites.

É um grão de areia
perdido no universo.
Qualquer quase nada
onde nos cabe tudo.

A terra talvez
um dia
se faça nosso passado
no navegar o universo
na aventura das estrelas.

SOBRE A COINCIDÊNCIA DO PENSAMENTO COM O CORPO

Não é raro ficar dias tentando escrever sobre alguma coisa da exata maneira que acredito que ela deveria ser escrita. Entretanto, não faço a mínima ideia, nestas ocasiões do que isso exatamente significa.

É como se houvesse na palavra um limite para personificar certas ideias e experiências realçadas por tonalidades afetivas e emocionais. Por isso costumo dizer que as coisas mais importantes não cabem em palavras, estão condenadas ao silêncio e só podem ser percebidas no superficial dos gestos e expressões corporais.

Quando pensamos com o corpo, quando sentimos profundamente determinadas ideias como imagens, não conseguimos satisfatoriamente converte-las em palavras, pois elas se tornam concretas, físicas e irracionais.