quinta-feira, 5 de novembro de 2015

FANTASIA

E tudo se foi com o instante
Para o lugar comum da angustia,
Dos pesadelos e das dúvidas
Que minha imaginação bem conhece.
Suspirei alguns infinitos,
Bebi eternidades
E depois me perdi
Nas incertezas do ego.
Tudo no fim deu em silêncio
No rosto dos outros

Diante das fronteiras do meu rosto.

domingo, 1 de novembro de 2015

O PASSADO COMO AGORA E SEMPRE

Um dos aspectos mais incômodos da cultura contemporânea  é a instabilidade de nossas referências de realidade. Os padrões de representação de mundo se modificam a curto prazo, graças as novas sensibilidades e linguagens engendradas pela digitalização da vida cotidiana.

Já não somos os construtores do real, do tempo presente, mas instrumentos de produção espontânea de um passado que não para de crescer.

A mudança  e a transformação, entretanto, não  conduz ao novo, mas a inovação do sempre igual como falsa meta da cultura e da própria vida. É como se o horizonte houvesse desaparecido do caminho.

A  vida individual como introjeção absoluta e reprodução vazia da vida social e coletiva se transformou em um pesadelo que reduziu a experiência do indivíduo a um apêndice da sociedade.  Torna-se cada vez mais difícil ser diferente em tempos de padronização comportamental como princípio da própria possibilidade de expressão.

Os que ousam o descaminho da contramão da sociedade, tendem ao isolamento, a invisibilidade privada, em tempos em que a própria privacidade se torna cada vez mais pública.


Tudo aquilo que somos e fazemos já nasce como passado, como algo despido de realidade e a margem de todo tempo presente. 

sábado, 31 de outubro de 2015

O DRAMA DA INDIVIDUAÇÃO

Tornar-se livre é individuar-se. Mas quanto mais nos fazemos conscientes da pluralidade de coisas que somos, menos nos interessamos por aquilo que para os outros goza de importância no acontecer coletivo da condição humana.

Conquistar a si mesmo e viver dilacerado pela própria consciência, perceber o não significado das coisas, a opacidade  e banalidade dos valores e tradições que inspiram o  rebanho humano, nos custa  a ilusão da felicidade vindoura. Diante de nós o desafio da vertigem, da avalanche e do abismo esclarecem o incerto caminho do indivíduo.


Pois, para o pleno indivíduo, o agir torna-se um fardo. Ele não é inspirado por nenhuma grande paixão ou convicção.  O horror diante dos olhos é sua única e insensata motivação. Isso o torna impróprio para ação, para o acontecer em um mundo que já perdeu todas as suas justificativas, toda razão de ser. Cabe-lhe a sina do herói trágico.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DESENCANTAMENTO

A vida acontece no  avesso
Da cotidiana existência
Individualmente sonhada
Nos desvãos e devassidões  do acontecer coletivo.
Ela é a vertigem do pensamento cego
Que se perde no labirinto dos afetos,
Das pulsões,
Como irracional necessidade
De  escrever na carne  a marca do rosto,
A urgência dos objetos
No vazio do sujeito.
Fomos condenados a nós mesmos,
A avalanche  das paixões  transfiguradas
Em fantasias infantis de sociedade.

Nos tornamos mais pesados que o céu...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

NÃO SOU RESPONSÁVEL

Não sou responsável pelo mundo em que vivo.
Não sou responsável se quer pelo meu pensamento,
pois ele me acontece expontaneamente
tanto quanto o bater  do meu coração.
Por isso não vivo de erros ou de culpas.
Sou apenas o resultado de um complexo conjunto de fatos.
Não passo de um enigma sem solução.
Nada tenho a dizer de mim mesmo
que não seja o dizer de um outro no espelho.
Aprendi a viver sem rumo
desconstruindo mundos,
desdizendo a mim mesmo.
Não sou responsável  por nada.
os da morte


como senhora do tempo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

STAR TREK

A terra não tem quatro cantos,
é plena esfera
que  nos inventa
na alternância dos dias e noites.

É um grão de areia
perdido no universo.
Qualquer quase nada
onde nos cabe tudo.

A terra talvez
um dia
se faça nosso passado
no navegar o universo
na aventura das estrelas.

SOBRE A COINCIDÊNCIA DO PENSAMENTO COM O CORPO

Não é raro ficar dias tentando escrever sobre alguma coisa da exata maneira que acredito que ela deveria ser escrita. Entretanto, não faço a mínima ideia, nestas ocasiões do que isso exatamente significa.

É como se houvesse na palavra um limite para personificar certas ideias e experiências realçadas por tonalidades afetivas e emocionais. Por isso costumo dizer que as coisas mais importantes não cabem em palavras, estão condenadas ao silêncio e só podem ser percebidas no superficial dos gestos e expressões corporais.

Quando pensamos com o corpo, quando sentimos profundamente determinadas ideias como imagens, não conseguimos satisfatoriamente converte-las em palavras, pois elas se tornam concretas, físicas e irracionais.   



A CONDIÇÃO HUMANA DA REALIDADE

A realidade  existe apenas enquanto representação de nossa própria condição humana. Como não podemos perceber o mundo de fora de nossas possibilidades cognitivas, então a realidade, que é a dialética do eu e do mundo, é apenas aquilo que nos é sensualmente e intelectualmente  legível.

A realidade não está condicionada a nossa vontade, mas a nossa própria vontade é parte dela. Mesmo quando nossa engenhosa imaginação elabora imagens e fantasias irracionais e que parecem distantes da realidade, ela ainda é a matéria prima de tais fantasias.

A realidade não existe em si ou para si, mas através de nossa percepção. Ela só é na medida em que existimos e a tornamos  real. Desta forma, tudo aquilo que sabemos e potencialmente podemos saber já está prefigurado por nossas possibilidades cognitivas. Assim, o humano é, de certa forma, a medida de tudo aquilo que pode ser conhecido ou criado.

Não existe uma meta consciência fora da percepção humana capaz de eclipsar sua apreensão do mundo, um absoluto cognitivo que ofereça uma alternativa a percepção humana, da mesma forma as coisas não existem em si mesmas, não apresentam uma “natureza”.


Somos aquilo que concebemos e pensamos, e a realidade é um ato humano que acontece através da linguagem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

EXISTÊNCIA E DEVIR

Não sou mais o mesmo de antigamente.
Mesmo sem nunca  ter sido  quem eu era
nos atos e pensamentos  incertos
que me definem em cada  momento.

Sou indeterminado, uma abstração,
que se reinventa ao sabor dos fatos.

Não me prendam a identidades,
sentimentos ou escolhas.

Sou aquele que nunca se sabe
entre as náufragas certezas
da simples existência.


Não estou aberto a diálogos.

BREVE DIVERTIMENTO FILOSÓFICO SOBRE O TEMA DA AUTO CONSCIÊNCIA

As pessoas são sempre o centro de suas próprias vidas na medida em que a realidade só existe enquanto consciência de algo fora de nós. Em contrapartida, não é obvio o que significaria o oposto “dentro de nós”. Pois o que somos é pura abstração. A auto consciência é um dado, mais do que um conceito. Não há como julga-la de fora dela mesma. Logo, somos em nossa consciência e ela é a medida de todas as coisas concebidas.

Pode-se dizer, entretanto, que a própria autoconsciência, em suas atuais configurações,  é formatada pelo mundo exterior através da cultura. Logo, a própria auto consciência é uma construção social.  Tal hipótese não exclui a primeira. Apenas a complementa. Pois a auto consciência é, paradoxalmente, as duas coisas. A auto consciência se define como consciência de alguma coisa estabelecida na dialética com o mundo. Ela é auto representação que se forma como consciência de alguma coisa que ela não é, que a transcende e, ao mesmo tempo, engendra.

Assim, se tradicionalmente, a questão da auto consciência remete a ideia de identidade e de Ser, hoje tais grandezas já não exercem grande importância na definição da questão. Pois o Ser e sua metafísica já não são entidades do pensamento, não dizem quem somos enquanto abstração coletiva.