quarta-feira, 19 de agosto de 2015

NOTA BIO BIBLIOGRÁFICA

Minha existência é feita de livros. Poderia definir cada época da minha vida em função de alguma leitura vivida, de algum modo de sentir as coisas do dia a dia através do ritmo  de alguma excitante narrativa literária ou algum conjunto de conceitos filosóficos que me iluminavam os dias e as situações.

Livros sempre me disseram mais do que qualquer pessoa, me souberam mais do que qualquer viagem, ou sonho de felicidade. Pois viver é inventar algum senso estético para codificar a realidade e respirar abstrações na descontrução do mais imediato dos fatos.

Lêr e escrever é uma estratégia de liberdade.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

ELOGIO A SIGMUND FREUD

Hoje, aleatoriamente me caiu sobre os pés da estante, o primeiro volume da Interpretação dos Sonhos de Freud. Cabe esclarecer que sou um leitor crítico da psicologia profunda. Mas, para mim, particularmente, assim como Nietzsche inaugurou nos oitocentos uma matriz intelectual singular  contra o seu próprio tempo, Freud  definitivamente, representa seu paralelo nos  novecentos.  Impossível pensar o século XX sem Freud ou o século XIX sem Nietsche justamente pela inigualável coragem e violência intelectual destes dois autores frente ao desafio  de afirmar o intelecto como carne alem de toda metafísica do espírito ferindo de morte o dualismo descarteano.

Mas no contexto deste aforisma, me basta deixar aqui um elogio a   afirmação do intelecto contra o mundo, contra o lugar comum da futilidade do agora.

Freud sabia o que fazia, da agressão que dirigia contra os  lugares comuns das coisas pensadas e até então possíveis em sua época.

A  máxima que inaugura a Interpretação dos sonhos diz tudo sobre a sua coragem, sobre a sua ousadia intelectual....  No plano simbólico e mitológico, contra a qual a ideia de inconsciente se insurge, não tememos  revelar  a profundidade obscura de nossa patologia cotidiana...

È preciso descer ao inferno, ao mundo inferior, quando ousamos buscar a fundo o conhecimento do irracional que sustenta nossa racionalidade aparente.

“Numa carta de 30 de janeiro de 1927 a Warner Achelis, Freud escreveu: “ Por fim, uma palavra sobre a sua introdução da máxima  de  A Interpretação dos Sonhos, e  também sobre a interpretação da máxima. Você traduz: ‘Acheronta movebo’ por ‘ mover as cidades da terra’. Mas o significado é de ‘agitar o submundo’. Tomei esta citação de empréstimo a Lassare, em cujo o caso ele tivesse um sentido pessoal e se relacionasse  com classificações pessoais e não psicológicas. No meu caso, meu sentido foi meramente o de enfatizar a parte mais  importante da dinâmica do sonho) agita o submundo. O desejo rejeitado pelas instâncias psíquicas  superiores ( o desejo recalcado do sonho) agita o submundo psíquico ( o inconsciente) para se fazer escutar. O que você pode ver de  ‘prometeico’ nisso?

  • “Se não puder comover os deuses de cima , comovei o Aqueronte’. ( Virgilio, Eneida, Livro II,312) O Arqueronte, um dos rios do Inferno, segundo a mitologia antiga, simboliza os deuses inferiores. ( ver Paulo Ronai  não perca o Seu Latim, 1980, 4 ed., Nova Fronteira.)    

ALHEAMENTO

Eu tenho perguntas complexas para questões tolas e cotidianas.
Tenho duvidas tolas e soluções toscas.
Talvez eu não tenha nada
e seja exatamente este o problema.
O tempo passa e as coisas quase acontecem.
o futuro esta sempre a um passo a frente
enquanto eu me afogo no passado.
Não me procurem dentro de mim,
pois estou distante,
ausente do dia,

desencontrado das coisas.

domingo, 16 de agosto de 2015

AFINAL, A REALIDADE EXISTE?

Sinceramente, não consigo acreditar em objetividade, em uma consciência objetiva através da qual as coisas são apenas coisas. Pois a consciência  e vivencias que temos delas é sempre subjetiva e fantasiosa.

Meu aparelho de telefone celular, por exemplo, está longe de ser para mim um objeto na medida em que ele se torna um artifício, um prolongamento de minha própria capacidade de fazer coisas. Não no sentido de uma maquina industrial,  pois ele também cria novas possibilidades  de pensar e agir. Logo, ele se torna parte de mim enquanto sujeito e inventa, ao mesmo tempo, o próprio ato.  Afinal, meu telefone não é um mero instrumento para fazer ligações. Ele me permite acontecer no mundo através dos novos protocolos desenhados pela  cultura digital.

Quase não nos damos conta do enorme impacto das inovações tecnológicas em nossas vidas atualmente, o quanto elas reinventam a nossa própria condição humana, para o desespero dos mais conservadores.

Mas, apesar de todas as resistências, estamos mudando. O modo como codificamos a realidade está se transformando a ponto de nos darmos conta de que a própria ideia de realidade não é algo dado ou obvio naturalmente, mas construído. Os critérios a partir dos quais a realidade é tradicionalmente elaborada pelos nossos cérebros deve ser questionada , investigada.

Talvez a realidade seja apenas o sonho dos nossos corpos, do nosso cérebro...


Talvez, em algum momento, tenhamos de reaprender a existir.

sábado, 15 de agosto de 2015

DESCONSTRUINDO A REALIDADE

Eu me deixava ali ao sabor dos acontecimentos. Tudo estava acontecendo, pesar de mim.  Caso não estivesse ali, tudo aconteceria da mesma forma. Os acontecimentos seriam os mesmos. Gosto da ideia de  ficar indiferente e não entrar no jogo dos fatos e atos. Gosto de fingir inércias enquanto me dedico a qualquer exercício de desconstrução.

Não quero cometer o erro de acreditar em minhas ilusões, em meus medos e certezas. Não quero cometer o crime perfeito de ser eu mesmo, quando este “eu” é tão incerto e abstrato quanto a própria ideia de vida, tal como concebida em termos humanos.


Hoje em dia a própria ideia de realidade deve ser questionada, ou jamais compreenderemos devidamente o que estamos fazendo...

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ONDE ESTÃO OS LEITORES?

Há mais escrevinhadores

hoje em dia

Do que escritores;

Ambos disputam leitores

Que já quase não existem.

Pois  há  mais livros

do que pessoas no mundo,

mais palavras impressas

do que olhos e cérebros


podem contemplar.

domingo, 9 de agosto de 2015

PORQUE ALMOCEI MEU PAI by Roy Lewis

PORQUE ALMOCEI MEU PAI  foi um cultbook muito popular na  Inglaterra da década de 1960. Trata-se de boa mistura entre  ficção cientifica e humor britânico concebida pelo jornalista  Roy Lewis.

Um dos traços mais marcantes deste insólito romance é o anacronismo da narrativa . O autor empresta aos seus homens macacos  jargões acadêmicos do cientificismo do século XIX , carregando suas falas com os lugares comuns da linguagem da antropologia, etnologia zoologia e botânica.

 Lewis apresenta sua obra da seguinte forma: “Nunca acreditei na versão do Genesis- Adão, Eva e a Maça - e, então, decidi reescrever a evolução do meu modo. Acho que não fiquei muito longe da verdade. Tudo está ancorado sobre  solidas bases científicas.”

A história se passa no  Pleistoceno Médio, tempo da pedra lascada, e tem como personagem principal o jovem e idealista  Edward que busca o progresso da sua horda e conversão na primeira tribo de Homo Sapiens. Seu Tio Vanya, ao contrário, vê grandes perigos na descoberta do fogo e defende a volta ao primitivismo. O pai de Edward, entretanto, foi o primeiro a domesticar o fogo e realizar avanços tecnológicos  como a culinária, a dança, o arco e flecha e o casamento exogâmico. Sua morte no final da história marca o fim do Pleistoceno.


“E aquele foi o fim de Papai em carne e osso, meu filho, um final que ele teria desejado para si – ser abatido por uma arma realmente moderna e ser comido de modo civilizado.”  

sábado, 8 de agosto de 2015

O NIILISMO OU O FUTURO A CONTRA PELO

No Ocidente a cultura se transformou em uma avalanche de irracionalidade e transfiguração que ameaça mortalmente tudo aquilo que até hoje oi possível. O niilismo é a  personificação mais autentica da mudança violenta que representa toda contemporaneidade contra o passado e suas inércias. É sobre o cadáver das tradições e certezas sobre os quais marcham os seletos portadores do mal estar reinante, aqueles que ousam suas alturas contra as certezas do rebanho. Tudo está como nunca antes para mudar. Todas as seguranças e boas intenções caíram por terra. A seguinte citação de  A VONTADE DE PODER  by F. NIETZSCHE  define o atualíssimo dilema do mundo ocidental:


“O  que conto é a história dos dois próximos séculos. Descrevo o que vem, o que não pode mais vir de outro modo: o  advento do niilismo. Essa história pode já agora ser contada: pois aqui obra a própria necessidade.Esse futuro pronuncia-se em cem sinais, esse destino  anuncia-se por toda  parte; para essa música do futuro, todos os ouvidos estão afinados. Toda a nossa cultura europeia move-se  já, desde há muito, com a tortura de uma tensão que cresce de década a década, como se estivesse encaminhando-se para uma catástrofe: inquieta, violenta, precipitada: como uma correnteza que anseia  por chegar ao fim e que não  mais se lembra, tem medo de lembrar.”

SOBRE A ESTÉTICA DA VIDA E O ESPIRITO TRÁGICO


“A arte e nada como a arte! Ela é a grande possibilidade da vida, a grande sedutora para a vida, o grande estimulante da vida...
A arte como a única força contrária superior, em oposição a toda vontade de negação; anticristã, antibudista e antiniilista por excellence.
A arte como redenção de quem conhece, daquele que vê,- e quer ver  o caráter temível e problemático da existência, do conhecedor,(-) Trágico.
A arte como a redenção do homem de ação,- daquele que não apenas vê o caráter terrível e problemático da existência, mas antes o vive e quer vive-lo, do homem que é guerreiro trágico, do herói.
A arte como redenção do sofredor,- como caminho para estados nos quais o sofrer é querido, transfigurado, divinizado; nos quais o sofrer é uma forma de grande arrebatamento.”





É impossível ler esta passagem de A Vontade de Poder, obra  derradeira e inacabada de Nietzsche, sem construir paralelos com a Teoria Estética, obra também derradeira de Theodor W. Adorno. O fato é que o mundo e a cultura revelaram-se na modernidade tardia simples simulacro, ilusões onde o próprio conceito de realidade perdeu sua importância. 

 Assim sendo, a arte tornou-se mais verdadeira e rica enquanto experiência  do que  todo cotidiano possível.  Neste sentido, o seguinte fragmento de A Vontade de Poder é um perfeito exemplo do lugar da arte em nossas configurações toscas de realidade e mundo.

A arte redime a vida fazendo da existência um arrebatamento estético.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

PRINCÍPIO DA INCERTEZA

Imaginava possível viver em segurança
Restrito a pequena zona de razão
Que me definia os dias.
Confiava na mínima morada dos fatos abstratos
Que me explicavam a vida.
Mas tudo mudou tão de repente
No silencio das coisas
Que hoje nada mais explicam.
Sigo a deriva entre teorias,
Identidades e melancolias.
Habito agora
Apenas os labirintos

Das minhas incertezas.