Hoje, aleatoriamente me caiu
sobre os pés da estante, o primeiro volume da Interpretação dos Sonhos de
Freud. Cabe esclarecer que sou um leitor crítico da psicologia profunda. Mas,
para mim, particularmente, assim como Nietzsche inaugurou nos oitocentos uma
matriz intelectual singular contra o seu
próprio tempo, Freud definitivamente, representa
seu paralelo nos novecentos. Impossível pensar o século XX sem Freud ou o
século XIX sem Nietsche justamente pela inigualável coragem e violência intelectual
destes dois autores frente ao desafio de
afirmar o intelecto como carne alem de toda metafísica do espírito ferindo de
morte o dualismo descarteano.
Mas no contexto deste aforisma,
me basta deixar aqui um elogio a
afirmação do intelecto contra o mundo, contra o lugar comum da
futilidade do agora.
Freud sabia o que fazia, da
agressão que dirigia contra os lugares
comuns das coisas pensadas e até então possíveis em sua época.
A
máxima que inaugura a Interpretação dos sonhos diz tudo sobre a sua
coragem, sobre a sua ousadia intelectual....
No plano simbólico e mitológico, contra a qual a ideia de inconsciente
se insurge, não tememos revelar a profundidade obscura de nossa patologia
cotidiana...
È preciso descer ao inferno, ao
mundo inferior, quando ousamos buscar a fundo o conhecimento do irracional que
sustenta nossa racionalidade aparente.
“Numa carta de 30 de janeiro de
1927 a Warner Achelis, Freud escreveu: “ Por fim, uma palavra sobre a sua
introdução da máxima de A Interpretação dos Sonhos, e também sobre a interpretação da máxima. Você
traduz: ‘Acheronta movebo’ por ‘ mover as cidades da terra’. Mas o significado
é de ‘agitar o submundo’. Tomei esta citação de empréstimo a Lassare, em cujo o
caso ele tivesse um sentido pessoal e se relacionasse com classificações pessoais e não
psicológicas. No meu caso, meu sentido foi meramente o de enfatizar a parte
mais importante da dinâmica do sonho)
agita o submundo. O desejo rejeitado pelas instâncias psíquicas superiores ( o desejo recalcado do sonho)
agita o submundo psíquico ( o inconsciente) para se fazer escutar. O que você
pode ver de ‘prometeico’ nisso?
- “Se não puder comover os deuses de cima , comovei o Aqueronte’. ( Virgilio, Eneida, Livro II,312) O Arqueronte, um dos rios do Inferno, segundo a mitologia antiga, simboliza os deuses inferiores. ( ver Paulo Ronai não perca o Seu Latim, 1980, 4 ed., Nova Fronteira.)
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