terça-feira, 21 de julho de 2015

HIPÓTESE


Entre o viver e o querer
Inventa-se um sonho,
Uma fantasia,
Na redescoberta da incerteza
Como princípio da realidade.

Em meio ao cotidiano delírio
De nossos dias banais
Abraçamos o impossível
Como precária meta
De simulacro e verdade.
E inventamos o improvável

Como uma hipótese...

quarta-feira, 15 de julho de 2015

POEMA DE QUASE SER

Busco o futuro à sombra dos dias mortos.
Quase não me vejo,
Quase não sinto.
Mas sou todas as coisas
Que neste instante definem
O micro cosmos do meu mundo.
Serei apenas uma miragem
De mim mesmo?
Talvez eu seja apenas
O sonho da minha sombra.
Nada importa...
De tanto ser
Não sou.
Guardei o sol dentro do bolso
E apaguei sem pudor
O brilho desta manhã.


sexta-feira, 10 de julho de 2015

MINEMOSYNE

Minemosyne conduz serena
O coro das musas
Que inflamam  o poeta
Entre o passado perdido
E o futuro que evoca.
Ela inventa a memória,
Os lugares da vida
Que seu irmão Cronos
Anula sem piedade.
Ela delira e sonha
Nosso perene delírio

De humanidade.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

FUJA DE TI MESMO




"O melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário."

MANOEL DE BARROS

Nunca fiz outra coisa na vida do que fugir de mim mesmo,
Me esconder sob justificativas
E proclamar o aleatório e o absurdo
Como regra suprema.
Percebia que as pessoas nunca coincidiam
Com suas auto definições,
Com seus discursos ou crenças.
Todas tinham suas contradições,
Seus pontos cegos
E nem percebiam.
Por isso optei por fugir de mim
E nunca ter que encarar
Minha própria sombra.


DESFEITO NO TEMPO

Procuro reunir os pedaços
De uma vida inteira
Tentando atualizar passados,
Reencontrar meu rosto
E dar realidade ao meu tempo mais pessoal.
Mas quem sou eu hoje
Entre meus desastres?
Quem ainda posso ser?
Talvez seja tarde.
E eu definitivamente tenha me perdido

De minhas imaginações.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

CONSIDERAÇÕES CÉTICAS

“A dialética nasce no terreno do agonismo. Quando o fundo religioso se afastou e o impulso cognoscitivo não precisa mais ser estimulado por um desafio do deus, quando uma desputa pelo conhecimento entre os homens não mais requer que estes sejam advinhos, eis que aparece um agonismo apenas humano.”

Giorgio  Colli in  O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

Estamos acostumados a acomodação com opiniões superficiais sobre tudo. Raramente nos damos o trabalho de tentar entender porque pensamos como pensamos e não de outra maneira. A soma de impressões e ideias que nos parecem afetivamente significativas muita vezes, aliais, encontram-se em desacordo com nossos atos.
Por tudo isso não é de fácil definição o problema das verdades diárias que nos orientam entre os outros através da vida coletiva. Raramente voltamos contra nós mesmos a arte do juízo. Estamos sempre  superficialmente convictos de alguma coisa.
Mas  as convicções humanas são frágeis, circunstanciais e tolas. Daqui a cem anos nossas mais caras convicções podem ser consideradas tolices infantis abandonadas por algum novo consenso de mundo.

Não vale a pena viver grandes verdades ou render-se a alguma fé ou “positividade” de um mundo inteligível e permeável a qualquer noção de ordem e sentido.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

ANOTAÇÃO SOBRE AS NOTAS DE SUSOLO

“Um romance precisa de um herói, e aqui foram reunidos intencionalmente todos os traços para  anti-herói,e, o que é mais importante, tudo isso vai produzir uma impressão muito desagradável, porque nós todos  nos desacostumamos  da vida, uns mais, outros menos, e nos desacostumamos  ao ponto de sentirmos às vezes uma certa repugnância pela verdadeira “vida-viva”, e por isso não podemos suportar que nos façam lembrar dela. Pois chegamos ao ponto de achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho,quase um emprego, e todos nó no intimo pensamos que nos livros é melhor. E porque às vezes ficamos inquietos, inventamos caprichos? E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos. Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos..”
DOSTOIÉVSKI in NOTAS DO SUBSOLO

A psicologia de Dostoiévski nos defronta com a decadência do indivíduo na modernidade e a própria morte da cultura. Talvez seja este o grande impasse que se apresenta ao “paradoxista” , o protagonista narrador de Notas do Subsolo. Sua angustia é a constatação da falência de um mundo onde nenhum indivíduo encontra seu lugar e  a sociedade nos impõe seus piores defeitos como regra e moral do existir coletivo.
É diante desta opacidade de um real que se decompõe que o paradoxista mergulha em si mesmo em atitude hostil a tudo aquilo que o cerca. A vida encontra-se danificada, mas as pessoas continuam vivendo ignorando o naufrágio da civilização.

Ainda somos contemporâneos deste dilema. Fato que sustenta a atualidade desta novela espetacular do ponto de vista narrativo e psicológico. Mas ela não nos oferece respostas ou soluções as questões que apresenta. Apenas nos faz consciente da desastrosa avalanche cultural que nos carrega tragicamente em direção ao abismo. 

O ANTI HERÓI E A LITERATURA MODERNA

Creio que  a grande imagem da literatura moderna do século XX tenha sido a do anti herói impotente diante  da dramática tragédia  que é a própria vida humana em suas vertigens e ausência de significados. Notas do Subsolo de Dostoievski talvez tenha sido a obra responsável pela constelação arrebatadora desta imagem no imaginário ocidental elevando a litertura a condição de extraterritoriedade do real.

Ainda hoje o anti herói encanta nossas imaginações e nos inspira na construção caótica de nossa individualidade que já não conta mais com o consolo de um existir linearmente definido e sustentado por falsas certezas coletivas sobre o progresso do bem comum e triunfo da razão instrumental.


Seguimos justamente na direção contrária. Despimos nossas vidas de  da alegria ingênua de migalhas de realizações pessoais e momentos de bem estar e prazer. Aprendemos vertigens e desconfortos, absurdos e vazios como as condições essenciais da miséria de nossa condição humana.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

PARA ALÉM DO HUMANO

Desafiar a lógica e o senso comum é reduzir ao absurdo nosso ordinário sentimento de mundo. Trata-se de um questionamento sobre o  “fazer-sentido” das coisas. Afinal, a razão não passa de um  artifício humano e não uma propriedade da realidade.

Nossa capacidade de cognição, de inventar esta realidade, nunca deve tentar reduzir tudo o que existe aquilo que podemos conceber. Em contrapartida devemos com a mesma ousadia duvidar de nossas imaginações. Estas são mais perigosas do que nossas razões, considerando todos os absurdos que já foram cometidos ou ditos em nome de qualquer metafisica.

O alcance de nossas realizações e ações possuem limites, mas não  é prudente substitui-los por delírios megalomaníacos onde somos parte de um cosmos ordenado que só existe em nossas limitadas cabeças.  

A vida é essencialmente caos, um caos que muito precariamente somos capazes de apreender. E nunca seremos capazes. Por maiores que sejam os avanços tecno científicos sem superarmos nossa condição humana.


segunda-feira, 29 de junho de 2015

NÔMADAS

Não deixarei que minha existência se reduza a meia dúzia de tolices sobre a beleza da vida ou algumas asneiras sobre o futuro da humanidade.

Viverei de vertigens, da ousadia dos abismos, em busca de qualquer coisa sem nome que desvele o mais profundo do pensamento.

O sentimento de si mesmo que nos define como indivíduos é algo incomunicável, uma espécie de caos pessoal que domesticamos a cada palavra dita.


Mas quão insuficiente é todo o dizer das coisas frente a emoção da auto consciência! È justamente quando nada consigo dizer quando melhor defino quem sou nas inércias de minhas imaginações. Por isso gosto de me largar aqui as vezes em perplexidade e auto contemplação.