segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

META REALIDADE



Não ficarei aqui
Deitado
Sobre o passado.
Também não sairei correndo
Em busca
De qualquer futuro
E muito menos
Provarei das urgências
Do tempo presente...

Talvez me baste
Permanecer inerte
A sofrer pensamentos
Inventando dentro de mim
Íntimos mundos...

APOSTA DE TOLO



Sem querer,
Guardei em teus olhos
O sonho de um antigo jardim
Para fugir de toda incomoda realidade...

Desde o inicio
Sabia  inútil
Meu ato...
Mas que outra escolha
Se apenas mentiras
Sustentam felicidades?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CÔNICA DO PóS MUNDO



Retalhos de nuvens
Chovem
Sobre a cidade em branco
Enquanto o sol
Se desfaz em espirais...

O tempo apertado
No espaço
Cospe passados virgens
Sobre a avenida central
Onde meus restos
Desfilam em carro aberto
Vestidos de borboletas.

Depois de hoje
Todas as coisas
Serão incertas...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

NIETZSCHE CONTRA A FALÁCIA DA IDEIA DE "CRIAÇÃO" DO MUNDO...


A nova concepção de mundo.- O mundo subsiste; não é nada que vem  a ser, nada que perece. Ou antes: vem a ser, perece, mas nunca começou a vir a ser  e nunca cessou de perecer, - conserva-se em ambos... Vive de si próprio: seus excrementos são seu alimento.
A hipótese de um mundo criado não deve afligir-nos nem por um instante. O conceito “criar” é hoje perfeitamente indefinível, inexeqüível , meramente uma palavra ainda, rudimentar, dos tempos da superstição; com uma palavra não se explica nada.  A ultima tentativa de conceber um mundo que começa foi feita recentemente, várias vezes, com o auxilio de uma procedura lógica- na maioria das vezes, como é de adivinhar, com uma segunda intenção teológica.”

F. Nietzsche.  O Eterno Retorno. A VONTADE DE POTENCIA, TEXTOS DE 1884-1888; in Obras Incompletas, seleção de textos de Gerard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; 5 ed. SP: Nova Cultural, 1991- ( Coleção Os Pensadores); p.  176.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A CONTEMPORANEIDADE DO UNIVERSO FICCIONAL DAS HISTORIAS DE DETETIVE


Historias de detetive podem ser consideradas por alguns como um sub gênero literário datado e fadado ao esquecimento ou a alimentar para sempre a pálida caricatura de si mesmo através de versãos contemporâneas sem qualquer gramour ...

Creio, ao contrario, que tal gênero é o que melhor personifica o devaneio inspirado pela nova racionalidade que passa a formatar o existir coletivo na sociedade urbana pós –industrial e massificada a partir da segunda metade do sec. XIX .

O herói das histórias de detetive é, afinal, justamente o individuo que se destaca das massas pelo domínio da inconfundível arte de ler a vida em seus pormenores, através do efêmero e do singular da paisagem urbana, onde o único significado e sentido, refugia-se no particular , no ínfimo, vislumbrando-o como um novo universo de possibilidades de codificação do real.

O detetive, em suas variadas versões, é antes de tudo um observador da vida cotidiana, alguém que despido das convenções da cultura vigente, aprendeu a codificá-la nas entrelinhas, em seus silêncios e hiatos mais significativos. Ele é alguém que aprendeu a viver a vida e a si mesmo como um grande quebra cabeça...

Creio que tais palavras se aplicam perfeitamente ao celebre Sherlock Holmes criado por Connan Doyle, ou ao Auguste Dupin de “Os assassinos da Rua Morgue” de Edgar Allan Poe, tanto quanto as reinvenções contemporâneas da velha formula das histórias de detetive personificadas pela rica ficção de series como House MD ou CSI.

Afinal, o individuo contemporâneo é cada vez mais o teimoso leitor de um livro em branco que se confunde com o mundo vivido... o que torna as velhas histórias de detetive cada vez mais contemporâneas.

O NADA E AS COISAS


Nada é preciso ou seguro na elementar indeterminação do ininterrupto devir de todas “as coisas” que somadas figuram agora como “existência”...

Pois perpetuadas no continuum do efêmero e do superficial em sua máxima e profunda materialização diária, “as coisas” se despem das teleologias e significações socialmente estabelecidas, convertendo-se em opaca e imediata finitude de múltiplas abstrações e variações do nada...

Tudo hoje está tão próximo quanto distante em nosso profundo sentimento de tempo e rosto...





FRAGMENTO SOBRE PIRATARIA E AMBIGUIDADE

Embora somente entre os sec.XVI e XVII tenha adquirido uma significação mais complexa ao converter-se em um dos mais populares mitos literários da modernidade, uma das mais antigas imagens de “marginalidade”, de subversão das codificações sociais que informam qualquer cultura ou sociedade, é, definitivamente, a da pirataria marítima, cujos primeiros registros remontam a antiguidade.

O que me parece pertinente observar sobre o tema é que, já na antiguidade, ou mais especificamente por volta do sec. III, o combate a pirataria proporcionou, por exemplo, uma progressiva extensão das conquistas romanas através de uma política de pacificação dos mares que pressupôs não só a criação de alfândegas para garantir “a liberdade de navegar” , mas também a normatização do comercio marítimo mediterrâneo e asiático sob hegemonia de Roma.

Há neste exemplo uma paradoxal relação entre marginalidade e poder que poderíamos identificar em inúmeros outros casos.

Em outras palavras, a marginalidade inspira um lugar de poder que lhe é complementar e oposto, que se nutre dela para criar ou manter uma determinada representação de ordem e codificação de autoridade...
Toda imagem de ordem esta fadada ao peso do seu especifico oposto...





terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O NÃO LUGAR DO QUERER

Sei eu agora



O quanto


Tua face ofusca o mundo,


O tanto que vejo


No invisível do teu rosto ateu


Que por enquanto


Não passa


De um sonho


A inspirar-me vazias realidades...

NÃO MEMÓRIA



A sala em branco
Guarda de si mesma
Poucas lembranças;
Quase não  vejo
Minhas marcas
Escritas nas paredes
Ou o rastro dos meus olhos
Na janela em silêncio...

Todo o passado
Desapareceu,
Toda memória é agora
Bruto silencio
E indeterminada ausência...