Historias de detetive podem ser consideradas por alguns como um sub gênero literário datado e fadado ao esquecimento ou a alimentar para sempre a pálida caricatura de si mesmo através de versãos contemporâneas sem qualquer gramour ...
Creio, ao contrario, que tal gênero é o que melhor personifica o devaneio inspirado pela nova racionalidade que passa a formatar o existir coletivo na sociedade urbana pós –industrial e massificada a partir da segunda metade do sec. XIX .
O herói das histórias de detetive é, afinal, justamente o individuo que se destaca das massas pelo domínio da inconfundível arte de ler a vida em seus pormenores, através do efêmero e do singular da paisagem urbana, onde o único significado e sentido, refugia-se no particular , no ínfimo, vislumbrando-o como um novo universo de possibilidades de codificação do real.
O detetive, em suas variadas versões, é antes de tudo um observador da vida cotidiana, alguém que despido das convenções da cultura vigente, aprendeu a codificá-la nas entrelinhas, em seus silêncios e hiatos mais significativos. Ele é alguém que aprendeu a viver a vida e a si mesmo como um grande quebra cabeça...
Creio que tais palavras se aplicam perfeitamente ao celebre Sherlock Holmes criado por Connan Doyle, ou ao Auguste Dupin de “Os assassinos da Rua Morgue” de Edgar Allan Poe, tanto quanto as reinvenções contemporâneas da velha formula das histórias de detetive personificadas pela rica ficção de series como House MD ou CSI.
Afinal, o individuo contemporâneo é cada vez mais o teimoso leitor de um livro em branco que se confunde com o mundo vivido... o que torna as velhas histórias de detetive cada vez mais contemporâneas.
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