Espero o momento
Em que dois olhos se encontrem
E apaguem a rua
Tatuando no pensamento
Uma nova realidade
De sentimento de mundo
Onde duas pessoas possam
Fundar qualquer sentimento de vida
Dentro do cotidiano caos do mundo
No qual desaparecemos
Serenamente em silêncio...
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
NOTA SOBRE O NEO FUNDAMENTALISMO CONTEMPORÂNEO
Seja nas artes ou nas ciências, o séc. XIX representou um momento de definitiva ruptura entre as representações de mundo inspiradas pelo sobrenatural, pela tradição judaico-cristã, e o paradigma realista de inspiração materialista, condicionado a nova linguagem de mundo, então emergente, sustentada por uma nova cultura urbana, pós- revolução industrial, que serviria de base para a verdadeira transmutação de todos os valores que caracterizaria o séc.XX através de uma laicização radical do cotidianamente vivido.
De muitas maneiras, ainda somos mais diretamente herdeiros do longo sec. XIX do que propriamente do curto sec. XX, já que ainda nos debruçamos consideravelmente sobre suas questões e heranças políticas e culturais.
Entretanto, o imaginário contemporâneo, cada vez mais moldada pela técnica, pelo virtual e por diversos desconstrucionismos identidários, estabelece progressivamente novos desafios, principalmente diante da contrapartida conservadora dos neo-fundamentalismos religiosos e políticos frente a hegemonia de uma imagem fragmentária e efêmera de mundo, diante da qual pregam o retorno ingênuo a simplicidade de certos valores arcaicos.
É possível dizer que vivemos hoje tempos de encruzilhadas e impasses culturais cujos desdobramentos e potencialidades ainda são incertos...
Em nenhuma outra época o futuro foi tão opaco e refratário a teleologias ...
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
O LIVRO DOS ESNOBES: ESCRITO POR UM DELES by W.M. Thackeray
«há muitas coisas desagradáveis que, em sociedade, somos obrigados a engolir. Já que assim é, façamo-lo com um sorriso» W M Thackeray in O Livro dos Esnobes: escrito por um deles
O conceito moderno de esnobe (Snob) remete a uma modalidade de mimetismo social observado na cultua urbana da Europa oitocentista, cujo fundamento é a tendência das classes medias então emergentes para reproduzirem comportamentos e valores de grupos sociais identificados como superiores, o que naturalmente remete a certa “nostalgia aristocratica” .
A primeira referencia a este fenomeno social que conheço, são os artigos publicados anonima e originalmente na revista Punch de Londres, por William Makepeace Thackeray ( 1811-1863), sob o titulo The Snobs of England by One of Themselve e posteriormente reunidos em brochura no muito significativo ano de 1848.
Thackeray, através um refinado senso de humor e perfeito sarcasmo, expõe em sua cronica de costumes a bizarra realidade do esnobismo como um traço da cultura da época disseminado por todas as classes sociais. Ricamente ilustrada por inumeros exemplos e situações cotidianas sua narrativa agrada e cativa até mesmo o leitor contemporâneo que, sem muito esforço, poderá ver um pouco de sua própria sociedade nas paginas deste livro sem seder a qualquer anacronismo.
Afinal, este bem humorado e divertido retrato da Inglaterra Vitoriana, que também aborda o “esnobismo continental”, especialmente o francês, possui um apelo atemporal, enquanto critica das convenções sociais e da transitoriedade das coisas humanas, que nos faz pensar o quanto cada um de nós nutre dentro de si um esnobe...
Ao falar sobre sua “missão” de dissecar e analisar o mal social representado pelo esnobismo o autor a sim se expressa:
“Eu tenho ( e por esse dom me congratulo com uma Profunda e Permanente Gratidão) um olho clínico para o esnobe. Se o verdadeiro é o Belo, é belo estudar até mesmo o esnobismo; seguir o rastro dos esnobes através da história, assim como certos cãezinhos procuram trufas em Hampshire; mergulhar a pena na sociedade e garimpar ricos veios de minério-de-esnobe. O esnobismo é como a Morte, segundo uma citação de Horácio que espero vocês nunca tenham ouvido: “o mesmo pé que bate nas portas dos pobres chuta os portões dos imperadores”. É um erro julgar os esnobes de maneira leviana e pensar que eles só existem entre as categorias inferiores. Acredito que uma imensa porcentagem de esnobes deve ser encontrada em cada uma das classes desta vida mortal. Não devemos julgar os esnobes de modo precipitado ou vulgar: se agir assim, você demonstra que também é um esnobe. Eu mesmo fui visto como esnobe.”
(W.M. Thackeray. O Livro dos Esnobes: escrito por um deles/ tradução de reinaldo Guarany;. Porto Alegre: L & PM, 2010, p. 21 e 22)
INCERTEZAS
Nunca são claros
Os sinais do acaso,
O sussurro dos destinos
Que dão forma ao dia a dia
E se perdem, as vezes,
Em um só segundo,
Em um ato imprudente
De vontade
Através do qual a vida
Nos surpreende
Escrevendo-se
Em qualquer outra direção...
Os sinais do acaso,
O sussurro dos destinos
Que dão forma ao dia a dia
E se perdem, as vezes,
Em um só segundo,
Em um ato imprudente
De vontade
Através do qual a vida
Nos surpreende
Escrevendo-se
Em qualquer outra direção...
domingo, 9 de janeiro de 2011
QUASE UTOPIA
Povoado por imaginações
As horas já não cabem
No tempo certo do relógio,
Escrevem-se imprudentes
Na festa de paisagens,
Ócios e inércias,
Onde se desfazem cotidianos ,
Onde toda existência
Ocorre nua e crua
No sem rosto da mais simples
Alegria...
sábado, 8 de janeiro de 2011
FREE AS A BIRD
Existo na surpresa
De cada momento
Vivido e estendido
No outro de si mesmo
dentro do mero passar
Do tempo...
Sou quase
Meu pretendido eu
No buscar do riso
De uma simples manhã seguinte...
Nas entrelinhas de uma imagem
De espelho,
Perdida
Na esquecida parede
De qualquer tardio infinito...
No minimo de todas as coisas
Tento constantemente
Tento constantemente
Me reinventar
ao sabor do vento...
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
WALTER BENJAMIM E A EXPERIÊNCIA COM O HAXIXI
Os ensaios de Walter Benjamim sobre o Haxixe são qualquer coisa a mais do que simples narrativas de “um comedor de Haxixe” sobre sua experiência com a droga. Em seu conjunto elas esboçam uma Filosofia da História, um modo de codificar a realidade a partir da “fulgurância do instante”, dos labirintos do momento, cuja pluralidade e profundidade imagética reinventam o tempo e o real na numinosidade do “apresentar-se” do mundo, durante o qual certas coisas se verbalizam por si mesmas em um encadeamento mágico.
O ensaio abaixo reproduzido, que integra a citada obra, é um eloqüente exemplo disso :
NOTAS SOBRE O ÊXTASE DO HAXIXE
1
“ Nada mais eficaz para legitimar o êxtase do haxixe do que a consciência de que graças a ele penetramos naquele universo de superfícies, recõndido e em geral de difícil acesso, que o ornamento expõe à nossa vista. Esse universo nos rodeia quase que por toda parte. No entanto, nosso entendimento fracassa por tentar apreende-lo. Na verdade, quase nunca o vemos. Já sobre o efeito da droga sua presença nos atrai intensamente. Chegamos ao ponto de exaurir ludicamente e com profunda satisfação aquela relação com o ornamento que se estabelece na infância e nos momentos de febre; ela se sustenta sobre dois elementos que, no êxtase do haxixe, são decisivos. Trata-se aqui da ambigüidade do ornamento. Todo ornamento pode ser encarado de duas maneiras distintas: como superfície imaginária ou como configuração linear. No entanto, as formas isoladas, integrando-se nos mais diferentes grupos, permitem quase sempre inúmeras configurações. Basta essa constatação para que se evidencie uma das propriedades intrínsecas do êxtase: sua incansável disposição para emprestar a um mesmo estado de coisas- por exemplo, um cenário ou uma paisagem- os mais diferentes aspectos, conteúdos e significações. Mais adiante trataremos de mostrar que essa multiplicidade de interpretações, cuja manifestação primeira repousa no ornamento, representa apenas a outra face daquela relação com a própria identidade inaugurada pelo êxtase. Outra característica do ornamento que o faz corresponder à fantasia acionada pelo haxixe é a perseverança. É típico que a fantasia apresenta ao fumante objetos- em geral, de pequeno porte- dispostos em série. As sequências infinitas, nas quais se lhe dão a ver sempre os mesmos utensílios, objetos e plantas, representam de certo modo esboços quase informes de um ornamento primitivo.
Além do ornamento, porém, há na esfera banal das coisas observáveis certos objetos que transmitem ao êxtase o peso e o significado que os habitam. Entre eles incluem-se as cortinas e os rendados. As cortinas são interpretes da linguagem dos ventos. Elas conferem a cada sopro o perfil e a sensualidade das formas femininas. Diante delas o fumante, absorto em seu jogo ondulatório, desfruta do mesmo prazer que lhe proporcionaria uma bailarina consumada. Mas, se a cortina estiver aberta de par em par, ela pode tornar-se instrumento de um jogo ainda mais extraordinário. Pois essas rendas funcionarão para o fumante como padrões que, por assim dizer, seu olho imprimira sobre a paisagem, transformando-a de maneira singular. As rendas submetem à moda a paisagem que elas emolduram mais ou menos como o arranjo de certos chapéus submete à moda a plumagem dos pássaros ou um maço de flores. Existem cartões- postais antigos nos quais, sob dizeres do tipo “Lembrança de Bad Sem”, vê-se a cidade dividida em Passeio das Águas, Estação Central, Monumento ao Imperador Guilherme, Grupo Escolar e Morro de Carolina, cada coisa num círculo diminuto. Postais desse gênero dão uma noção aproximada da intensidade com que uma cortina de renda modifica uma paisagem. Tentei agora entrever uma bandeira naquela cortina, mas a aproximação não foi feliz.
As cores podem exercer sobre o fumante um impacto imenso. Um dos ângulos da sala de Selz fora decorada com xales que pendiam das paredes. Sobre um baú recoberto por uma toalha de renda havia algumas jarras de flores. Nos xales e nas flores predominava o vermelho em suas diferentes nuanças. Minha repentina descoberta desse recanto deu-se mais tarde, quando já ia adiantada a festa. Mas o efeito deixou-me quase atordoado. Por um momento senti que me cabia investigar o modo de ser da cor daquele instrumental incomparável. Chamei esse recanto de Laboratoire du Rouge. Minha primeira tentativa de absorver-me no trabalho não deu resultado. Mais tarde, porém,insisti novamente. No momento, a única lembrança dessa empresa que consigo evocar é o fato de que o objeto de minha investigação parecia ter se deslocado. Ele era agora mais abrangente e dizia respeito às cores em geral. Pareceu-me notável que elas possuíssem uma forma, que elas se identificassem perfeitamente com a matéria que as exibia. No entanto, uma vez que se manifestavam igualmente sobre os mais diferentes objetos- por exemplo, uma pétala de flor ou uma folha de papel-, elas funcionavam também como intermediárias ou alcoviteiras do reino inanimado; através delas associavam-se em perfeita harmonia as coisas mais díspares.
2
A atitude moralista, que escamoteia dados essenciais sobre a natureza do êxtase, deixa de considerar também um aspecto decisivo da intoxicação. Trata-se do aspecto econômico. Não é temerário afirmar que, em, muitos casos, o vício serve principalmente para aumentar a disposição do viciado em sua luta pela sobrevivência. E essa meta não é absolutamente fictícia; pelo contrário, na grande maioria dos casos ela se verifica plenamente. Tal fato não surpreende a ninguém que tenha tido a oportunidade de constatar até que ponto a droga aumenta o poder de atração do viciado. O fenômeno é tão incontestável quanto são obscuras suas causas. Pode-se presumir que, no rol das modificações introduzidas pela droga, esteja também a abolição de certos sentimentos que tolhem o indivíduo. Aspereza, arrogância e farisaísmo são traços que só se encontram raramente em viciados. Soma-se a isso um efeito sedativo da droga que perdura até o fim do transe, sendo que um dos componentes desse efeito se traduz na convicção de que nada se equipara à droga em valor e importância. Tudo isso pode conferir às naturezas mais modestas uma ilusão de soberania que seria impossível em casa ou no exercício das funções profissionais. O fumante valoriza esse estado de espírito não apenas porque ele influi na sua relação com os outros-, mas porque o próprio viciado passa a se ver com outros olhos. Do mesmo modo como o mecanismo da inibição se manifesta sobretudo na voz tornada áspera, rouca, embargada, coisa de que o falante se dá conta um pouco melhor que o ouvinte, a abolição desse mecanismo, ao menos no modo de sentir do sujeito, dá-se a conhecer por meio de um surpreendente, preciso e agradável domínio da própria voz.
A descontração que está na raiz desses acontecimentos não é sempre um efeito imediato da droga. Surge outro fator nos casos em que várias pessoas intoxicadas se reúnem. Certas drogas têm em comum o fato de aumentarem consideravelmente o prazer da convivência entre parceiros, a tal ponto que não é raro manifestar-se uma espécie de misantropia entre eles. Lidar com alguém que não participe de suas práticas parece-lhes tão penoso quanto inútil. Obviamente, esse encantamento não deriva apenas da conversação. Por outro lado, é provável que, para aqueles que as promovem constantemente, o grande atrativo dessas experiências não resida apenas na mera supressão das inibições. Aqui parece dar-se como que uma junção dos sentimentos de inferioridade, complexos e perturbações dos diferentes parceiros. Cada viciado absorve no outro seus fluidos negativos, participando assim de uma catarse coletiva. É obvio que isso acarreta riscos extraordinários. Porém, tal circunstância pode explicar também o valor enorme e até inestimável que o vício assume justamente nas constelações mais comuns do dia a dia.
O fumante de ópio ou comedor de haxixe experimenta uma força no olhar que lhe permite apreender no mesmo espaço mil lugares diferentes.
Sono pela manhã, depois de fumar. Disse-me naquele momento que era como se a vida houvesse sido posta em conserva num pote fechado. O sono era o líquidoi que a conservara e que agora se despejava na pia, repleto de todos os odores da vida.
“Les mouchoirs accrochés au mur tiennent pour moi La place entre torche et torchon.”
Rot c’est comme um papillon qui va se poser sur chacune dês nuances de la couleur rouge”
(Walter Benjamim. Haxixe. Tradução: Flávio de Menezes e Carlos Nelson Coutinho, SP: Brasiliense, 2º edição, 1984, p. 37 á 41 )
HEAVY METAL NO JUBILEU DE SUA MAGESTADE ELIZABETH II
Na conclusão de sua já clássica obra HEAVY METAL: A HISTÓRIA COMPLETA Ian Christe nos relata um inusitado e celebre episódio que certamente merecia lugar nos anais da história britânica ou, pelo menos, na mítica que define o rock and roll enquanto símbolo e cultura social. Refiro-me mais especificamente a aparentemente paradoxal apresentação de Ozzy e Tony Iommi na celebração do Jubileu da Rainha Elisabeth II que involuntariamente provocou a primeira evacuação do palácio de Buckingham desde a segunda guerra mundial. Nada mais simbólico e rico para excitar a imaginação dos historiadores que cultivam pelo heavy metal alguma simpatia. Afinal, os celebres e rockeiros protagonistas cresceram sobre as ruínas de guerra. Nas palavras do próprio autor:
“Em junho de 2002, Ozzy e Tony Iommi tocaram “Paranoid” no Palácio de Buckingham, para celebração do Jubileu da rainha Elisabeth II. O príncipe Charles e a própria rainha estavam presentes recebendo estes convidados de outro mundo. “Isso significa mais para mim do que qualquer outra coisa”, disse Ozzy sobre ser convidado pela realeza. Somente um título poderia ser uma honra maior para um pobre cidadão de Birmingham.
Estranhamente ferozes e inexplicáveis labaredas irromperam nos pavimentos superiores durante os ensaios, enquanto Ozzy fazia a passagem de som, obrigando a primeira evacuação do palácio desde a Segunda Guerra Mundial.”
Ian Christie. Heavy Metal: a história completa/ tradução de Milena Durante e Augusto Zantoz, SP: Arx, Saraiva, 2010, pg. 452
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
NOTA SOBRE A MORTE CONTEMPORÂNEA DA SUBJETIVIDADE
O deslocamento da imagem heróica do sujeito ( e do herói) do centro do imaginário contemporâneo ganha corpo como ato lingüístico, tanto quanto como a negação do já roto conceito de sujeito ( fundador da modernidade)... através da desconstruçãso de todo “realismo” científico personificado pela racionalidade inspirada no iluminismo e no positivismo quanto na formula literária do romance e sua configuração do herói como centro na narrativa...
Tratar-se-ia de um triunfo do virtual como um quase conceito do contemporâneo “não lugar” cultural de nós mesmos ou uma amarga constatação dos limites de toda codificação racional que a objetividade da consciência nos impõpe?
NOTA SOBRE A MORTE DO CONCEITO DE SUJEITO
O DESLOCAMENTO DA NOÇÃO DE SUJEITO DO HORIZONTE DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA É UM ATO LINGUISTICO TANTO QUANTO FOI UM DIA A AFIRMAÇÃO DO SUJEITO COMO CONCEITO CONSTRUIDO PELA MODERNIDADE... TESTERMUNHAMOS HOJE SUA DEFINITIVA DESCONTRUÇÃO ATRAVÉS DA REDEFINIÇÃO DE NOSSO CONCEITO DE VIRTUAL COMO UM QUASE CONCEITO DO NÃO LUGAR DE NÓS MESMOS COMO MULTIPLICIDADE DE COISAS OU A PENAS REINVENTAMOS A TELEOLOGIA COMO FUNDAMENTO DA CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DA HERMENEUTICA?...
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