sábado, 21 de fevereiro de 2009

O PASSEIO DAS ALEGRIAS


As alegrias adivinham
O rosto do dia,
Passeiam sem destino
Pelas horas a fora.

Posso ouvir
Perfeitamente
A voz distante
De algum ato abandonado
Sobre a mesa do escritório.

Importa-me apenas,
Entretanto,
O impreciso destino
Dessas espontâneas
E gratuitas alegrias
Que se perdem
por ai agora
inspiradas pelas
Três graças...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

AS ORIGENS DA POS MODERNIDADE SEGUNDO PERRY ANDERSON


AS ORIGES DA POS MODERNIDADE...Este livro do historiador britânico Perry Anderson, como o próprio título sugere, é indiscutivelmente uma referência importante para a compreensão das origens da Pos moderno enquanto ideia e conceito, mas em contra partida é questionável para uma definição e real compreensão da pos modernidade, suas implicações e diversos significados culturais e epstemológicos. Neste ensaio, o autor baseia-se unicamente nos textos de Frederic Jamenson sob o tema, nada mais natural já que fora escrito originalmente como introdução para uma coletãnea de textos do autor sobre o tema. O problema é que em sua leitura do pos moderno Anderson, apesar da erudição, é lamentavelmente metodologicamente inspirado por um marxismo estreitro produzindo uma narrativa pouco convincente em sua insistencia em reduzir a pos modernidade em uma “ideologia” apologetica do capitalismo tardio mediante reducionismos economicistas e politicos.
Mas, como já disse, seu ensaio é importante para discursão das origens da pos modernidade que, segundo ele, em uma tese muito original, tem seus primordios ou proto-história na America Espanica e na Inglaterra. Vale apena ilustrar essa tese através do fragmento seguinte que tambem procura lançar luzes sobre a origem do modernismo, embora eu discorde totalmente dessa leitura...:

“Pos- modernismo”, como o termo e idéia, supõe o uso corrente de “modernismo”. Ao contrário da expectativa convencional, ambos nasceram numa periferia distante e não no centro do sistema cultural da época: não vem da Europa ou dos Estados Unidos, mas da América Hispânica. Devemos a criação do termo “modernismo” para designar um movimento estético a um poeta nicaragüense que escrevia num periódico guatatemalteco sobre um embate literário no Peru. O inicio por Rubén Dario, em 1890, de uma tímida corrente que levou o nome de modernismo inspirou-se em várias escolas francesas-românica, parnasiana, simbolista- para fazer uma “declaração de independência cultural” face a Espanha, que desencadeou naquela década um movimento de emancipação das próprias letras espanholas em relação ao passado. Enquanto em inglês a noção de “modernismo” só passou ao uso geral meio século depois, em espanhol já integrava o cânone da geração anterior. Nisso os retardatários ditaram os termos do desenvolvimento metropolitano- assim como no século XIX “liberalismo” foi uma invenção do levante espanhol contra a ocupação francesa na época de Napoleão, uma exótica expressão de Cádiz que só muito depois se tornaria corrente nos salões de Paris ou Londres.
Assim, também a idéia de um “pós modernismo” surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, quem imprimiu o termo posmodernismo. Usou-o para descrever um refluxo conservador dentro do próprio modernismo: a busca de refúgio contra o seu formidável desfio lírico num perfeccionismo don detalhe e do humor irônico, em surdina, cuja principal característica foi a nova expressão autêntica que concedeu às mulheres. Onís contrastava esse modelo- de vida curta, pensava, com sua seqüela-, um ultramodernismo que levou os impulsos radicais do modernismo a uma nova intensidade numa série de vanguardas que criaram então uma “poesia rigorosamente contemporânea” de alcance universal. A famosa antologia de poetas de língua espanhola organizada por Onís segundo esse esquema foi publicada em Madri em 1934, quando a esquerda assumiu o comando da república na contagem regressiva para a Guerra Civil. Dedicada a Antônio Machado, seu panorama do “ultramodrnismo” terminava em Llorca, Vallejo, Borges e Neruda.”

( Perry Anderson. As origens da pós-modernidade/tradução de Marcus Prenchel. RJ: Jorge Zahar ed., 1999, p. 9-10 )

FUTURO AMANHÃ

Aguardo uma manhã
De sol e chuva,
Um dia de paz
E liberdade,
De jornais em branco
E ruas vazias.

Preciso urgentemente
Esquecer um pouco do mundo,
Escrever meu nome na areia
E explorar os mares
Contando as estrelas do ceu
Testemunhando
As travessuras da lua.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CRÔNICA RELÂMPAGO XLIV

A busca pela realização individual ou pessoal ocupa um lugar privilegiado no imaginário contemporâneo, o que pode parecer a primeira vista um traço de continuidade entre o ultimo século e o atual. Mas hoje em dia isso acontece para alguns de modo bastante peculiar. Não mais como uma mera afirmação egoica socialmente imposta e pouco original, mas como uma meta biográfica cada vez mais subjetiva e imprecisa, uma afirmação daquilo que irracionalmente escolhemos ou nos escolhe pelos labirintos da existência como expressão radical da singularidade.
Deste ponto de vista, tal busca não mais se associa exclusiva e unilateralmente a adesão a essa ou aquela persona profissional,religiosa ou opção sexual. Não se cristaliza em torno de qualquer forma de identidade convencional, mas aparece associada a assimilação da diversidade como um dado ontológico, um referencial que nos permite reunir em nossas próprias vidas a diversidade que define hoje o próprio mundo.
De muitos modos somos hoje saudavelmente incoerentes e confusos, capazes de articular coisas diversas e disparatadas em uma unidade definida pela diversidade como principio. Afinal, transitamos diariamente entre várias “tribos” ou realidades culturais em um mesmo espaço urbano ou através da Web sem que isso nos incomode ou espante.
A versatibilidade parece ser uma das mais marcantes características das pioneiras gerações desse novo milênio. Talvez isso lhes permita ir mais longe do que qualquer uma foi até agora na continua invenção e reinvenção daquilo que conhecemos como realidade.

O LADO FRACO

O lado fraco
Do meu ser no mundo
Escreve-se no fundo
Dos silêncios
Que calam a tarde
Em vazio.

Trata-se do ilegível
Que há na sombra
De todos os fatos,
Daquela parcela
De desconhecido
Que desafia todos
Os significados
Nos deixando a ver navios...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

AGE OF AQUARIUS NOW ?


When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars
This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!Aquarius!

Música "Age of Aquarius" do musical "Hair"- 1960


Uma das imagens utópicas do século XX que permanecem presentes no imaginário desse novo milênio é o mito da era de aquário. Alguns astrólogos fixaram seu inicio em 4 de fevereiro de 1962, outros em 20 de novembro de 2001, alguns acreditam que vivemos em um longo período de transição da era de peixes, identificada com o cristianismo, que só terminará em 2620. Nesse 14 de fevereiro, entretanto, segundo alguns outros, uma vez que a Lua em Libra entra na sétima casa de relacionamentos, Júpiter e Marte estão alinhados em Aquário na décima segunda casa, estaremos entrando na Era de Aquário NOW.
Controvérsias a parte, o fato é que o mito personifica a ansiedade por uma renovação universal, pelo marco zero de uma nova época que nos permita transcender as inquietações, ansiedades, medos, ameaças, incertezas e impasses do tempo presente. Trata-se de um modo de coletivamente domesticarmos e domarmos o fluxo caótico do tempo e teleologicamente construirmos a vida segundo nossas mais nobres idealizações.
O mito de aquário, particularmente, parece apontar para uma versão esotérica do Iluminismo já que o signo é associado a conhecimento, intuição e progresso. Assim, insinua uma espécie de releitura ou “correção” dos rumos da civilização ocidental a partir de um aperfeiçoamento técnico, cientifico, intelectual e ao mesmo tempo intuitivo sem precedentes.
Não sou capaz de apreender satisfatoriamente todas as implicações deste mito otimista sobre o futuro e potencialidades humanas. Afinal, a vida é sempre complexa e cheia de contradições e não vislumbro nenhum outro caminho além da experiência mágica da auto descoberta e complexidade cada vez maior da consciência individual. Mas tal imagem é totalmente compatível com o mito de aquário...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

NIETZSCHE E A " ANTI- MODERNIDADE"


FRIEDERICH NIETTZSCHE nos legou uma filosofia autenticamente “anti -moderna” fundada na afirmação da vontade criadora e livre que emerge do fim da ilusão em um mundo transcendente ( morte de deus) , da transmutação de todos os valores legados pela moral judaico-cristã e seu servilismo autoritário. Curiosamente, encontramos a mesma “logica critica” aplicada a sua recusa do Estado e do igualitarismo pseudo democrático frente a então emergente “sociedade de massas”.
O mais importante é que para Nietzsche já não mais existe um “mundo-verdade” de inspiração platônica e o existir humano se reduz ao aparente imediato em sua ilimitada multiplicidade de interpretações.
O caráter “anti-moderno” da “filosofia experimental” Nietcscheana revela-se em toda sua intensidade no jogo de opostos estabelecido em torno dos objetivos da filosofia que nega o Ser como problemática. Assim é demonstrado no seguinte fragmento de SOBRE O NIILISMO E O ETERNO RETORNO( 1881-1888) que realiza em síntese a transcendência do opostos e do niilismo:

“Meu novo caminho para o “sim”- Filosofia, como até agora a entendi e vivi, é a voluntária procura também dos lados execrados e infames da existência. Da longa experiência, que me deu uma tal andança através do gelo e deserto, aprendi a encarar de outro modo tudo o que se filosofou até agora: - a história escondida da filosofia, a psicologia dos seus grandes nomes, veio à luz para mim. “Quanto de verdade suporta, quanto de verdade ousa um espírito?”- isso se tornou para mim o autêntico mediador de valor. O erro é uma covardia... cada conquista do conhecimento decorre do ânimo, da dureza contra si, do asseio para consigo... Uma filosofia radical, tal como eu a vivo, antecipa experimentalmente até mesmo as possibilidades do niilismo radical; sem querer dizer com isso que ela se detenha em uma negação, no não, em uma vontade de não. Ela quer, em vez disso, atravessar até o inverso- até um dionisíaco dizer-sim ao mundo tal como é, sem desconto, exceção e seleção-, quer o eterno curso circular:- As mesmas coisas, a mesma lógica ilógica de encadeamento. Supremo estado que um filósofo pode alcançar: estar dionisiacamente diante da existência- minha formula para isso é amor fati.
Disso faz parte compreender os lados até agora negados da existência, não somentew como necessários, mas como desejáveis: e não somente como desejáveis em vista dos lados até agora afirmados ( eventualmente, como seus complementos ou condições prévias), mas em função de si próprios, como os mais poderosos, mais fecundos, mais verdadeiros, lados da existência, nos quais sua vontade se anuncia com maior clareza.
Do mesmo modo, faz parte disso avaliar os lados unicamente afirmados da existência; compreender de onde provém essa valoração e quão pouco ela é obrigatória para uma mediação de valor dionisíaca das coisas: eu extrai e compreendi o que propriamente o que diz sim aqui ( o instinto dos que sofrem, em primeiro lugar, o instinto do rebanho por outro lado, e aquele terceiro, o instinto da maioria contra as exceções-).
Adivinhei com isso, em que medida uma espécie mais forte de homem teria necessariamente de pensar a elevação e intensificação do homem em, direção a um outro lado: seres superiores, para alem do bem e do mal , para alem daqueles valores que não podem negar sua origem na esfera do sofrer, do rebanho e da maioria- procurei pelos esboços dessa inversa formação de ideal na história ( os conceitos procurei pelos esboços dessa inversa formação de ideal na história ( os conceitos “pagão”, “clássico”, “nobre”, dispostos de modo novo.-)”
Friedrich Wilhelm Nietzsche. Obras Incompletas/seleção de textos de Gerard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; 5 ed. SP: Nova Cultural, 1991. ( Os Pensadores); p. 172-173)http://www.youtube.com/watch?v=alHu-nGqDHY

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

GOD by JONH LENNON...


http://www.youtube.com/watch?v=Wv3ic6OOXns

Quando penso em tudo, sei que nada jamais será uma questão de fé...
Sei que todo sentido depende de mim e do que serei para meu pequeno eu entre as dez mil coisas do mundo...

God

by John Lennon

God is a concept,
By which we measure
Our pain.I'll say it again.
God is a concept,
By which we measure
Our pain.
I don't believe in magic
I don't believe in
I-Ching
I don't believe in Bible
I don't believe in Tarot
I don't believe in Hitler
I don't believe in Jesus
I don't believe in Kennedy
I don't believe in Buddha
I don't believe in Mantra
I don't believe in Gita
I don't believe in Yoga
I don't believe in Kings
I don't believe in Elvis
I don't believe in Zimmerman
I don't believe in Beatles
I just believe in me
Yoko and me
And that's reality.
The dream is over,
What can I say?
The dream is over
YesterdayI was the dreamweaver,
But now
I'm reborn.
I was the walrus,
But now I'm John.
And so dear friends,
You just have to carry on
The dream is over.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

BEATLES E A FILOSOFIA: LENNON E A LINGUAGEM


http://www.youtube.com/watch?v=BQcU5w915p8

Um dos momentos mais interessantes do documentário John Lennon: Imagine, produzido por David L Walper e Andrew é o trecho de um diálogo entre Lennon e um fã anônimo descoberto rondando os jardins de sua propriedade em Ascost, Inglaterra. Não há como precisar através do documentário a data do ocorrido. Apenas posso supor que esteja em algum ponto do inicio dos anos setenta. O que importa, porem, é que durante o curto dialogo reproduzido, Lennon procura desmistificar a importância de suas letras para o seu deslumbrado visitante com um argumento muito curioso. Segundo ele, referindo-se a uma canção especifica, apenas se divertia com as palavras e a letra absolutamente não faz sentido algum, o que permite que tudo se encaixe.
Esse aspecto de sua sensibilidade e criatividade, que pode parecer excêntrica em um primeiro momento, mas é mais comum do que se imagina entre os letristas e compositores do rock, foi surpreendentemente investigada com grande e surpreendente precisão em um dos ensaios reunidos na coletânea Beatles e a Filosofia, já comentada nesse blog. Refiro-me a E É CLARO QUE HENRY, O CAVALO, DANÇA A VALSA:OS JOGOS DE LINGUAGEM NAS LETRAS DE JOHN LENNON by Alexander R. Eodice. Reproduzo parcialmente em seguida um fragmento muito elucidativo e instigante deste ensaio cujo a parte tem o sujestivo sub titulo de: SÓ DO QUE VOCÊ PRECISA É LINGUAGEM.

“Lennon ama a linguagem e adora outra sensibilidade- uma abordagem puramente lingüística- quando escreve suas letras. Ela é o principio visível em seus escritos não musicais e cômicos, principalemte em In His Own Write e A Spaniard in the Works, prosa e poesia absurdas e escritas em um estilo semelhante a Lewis Carroll, Edward Lear, e até certo ponto, Joyce em Finnegans Wake. Na breve introdução ao livro, Paul McCartney escreve”alguns tolos se perguntarão por que partes do livro não fazem sentido; e outros procurarão por significados ocultos... Nada aqui precisa fazer sentido, e se for engraçado, já é suficiente”.
Algumas letras de Lennon são simples e jocosos usos da linguagem que, de um ponto de vista literal, podem ser considerados um total absurdo ou tolice, mas que, de outra perspectiva, exibem os amplos e variados usos que podem ser dados à própria linguagem. Isso em si mesmo é um tipo de “jogo de linguagem”, que segundo Wittgenstein tem um certo poder sobre nossa imaginação, “ e que é marcante o fato de que imagens e narrativas fictícias nos dão prazer, ocupam nossa mente”. Há vários modos pelos quais a linguagem é usada e um uso importante e geral é para o prazer do sentido do absurdo que a própria linguagem retrata. Entendendo isso, também é possível entender alqgo que a principio parecia ser um “absurdo disfarçado”, um “total absurdo”. O autor que nos permite mover do sentido aparente de sua linguagem para seu total absurdo também deve ser hábil nesse jogo. Lennon é de fato esse tipo de escritor, cuja habilidade especial surge de seu aguçado senso do sentido da linguagem, pois apenas alguém que possui esse senso poderia criar uma grande ilusão de sentido.”

Alexander R. Eodice. E é claro que Henry, O Cavalo, dança a valça: Os jogos de linguagem nas letras de John Lennon. In Os Beatles e a Filosofia/coletânea de Michael Baur e Steven Baur; tradução de Marcos Malvezzi-SP: Madras,2007, p. 224-225

O DOMIGO SEGUNDO A SEGUNDA FEIRA

O domingo,
Espalhado pela casa,
Não diz coisa alguma
As horas que passam.
Também
Nada significa lá fora
Ou traduz o agora
Enterrado no silêncio sereno
Do jardim de uma praça anônima.
O domingo
Se quer existe
Na fria tarde
De uma segunda feira...