quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

NIETZSCHE E A " ANTI- MODERNIDADE"


FRIEDERICH NIETTZSCHE nos legou uma filosofia autenticamente “anti -moderna” fundada na afirmação da vontade criadora e livre que emerge do fim da ilusão em um mundo transcendente ( morte de deus) , da transmutação de todos os valores legados pela moral judaico-cristã e seu servilismo autoritário. Curiosamente, encontramos a mesma “logica critica” aplicada a sua recusa do Estado e do igualitarismo pseudo democrático frente a então emergente “sociedade de massas”.
O mais importante é que para Nietzsche já não mais existe um “mundo-verdade” de inspiração platônica e o existir humano se reduz ao aparente imediato em sua ilimitada multiplicidade de interpretações.
O caráter “anti-moderno” da “filosofia experimental” Nietcscheana revela-se em toda sua intensidade no jogo de opostos estabelecido em torno dos objetivos da filosofia que nega o Ser como problemática. Assim é demonstrado no seguinte fragmento de SOBRE O NIILISMO E O ETERNO RETORNO( 1881-1888) que realiza em síntese a transcendência do opostos e do niilismo:

“Meu novo caminho para o “sim”- Filosofia, como até agora a entendi e vivi, é a voluntária procura também dos lados execrados e infames da existência. Da longa experiência, que me deu uma tal andança através do gelo e deserto, aprendi a encarar de outro modo tudo o que se filosofou até agora: - a história escondida da filosofia, a psicologia dos seus grandes nomes, veio à luz para mim. “Quanto de verdade suporta, quanto de verdade ousa um espírito?”- isso se tornou para mim o autêntico mediador de valor. O erro é uma covardia... cada conquista do conhecimento decorre do ânimo, da dureza contra si, do asseio para consigo... Uma filosofia radical, tal como eu a vivo, antecipa experimentalmente até mesmo as possibilidades do niilismo radical; sem querer dizer com isso que ela se detenha em uma negação, no não, em uma vontade de não. Ela quer, em vez disso, atravessar até o inverso- até um dionisíaco dizer-sim ao mundo tal como é, sem desconto, exceção e seleção-, quer o eterno curso circular:- As mesmas coisas, a mesma lógica ilógica de encadeamento. Supremo estado que um filósofo pode alcançar: estar dionisiacamente diante da existência- minha formula para isso é amor fati.
Disso faz parte compreender os lados até agora negados da existência, não somentew como necessários, mas como desejáveis: e não somente como desejáveis em vista dos lados até agora afirmados ( eventualmente, como seus complementos ou condições prévias), mas em função de si próprios, como os mais poderosos, mais fecundos, mais verdadeiros, lados da existência, nos quais sua vontade se anuncia com maior clareza.
Do mesmo modo, faz parte disso avaliar os lados unicamente afirmados da existência; compreender de onde provém essa valoração e quão pouco ela é obrigatória para uma mediação de valor dionisíaca das coisas: eu extrai e compreendi o que propriamente o que diz sim aqui ( o instinto dos que sofrem, em primeiro lugar, o instinto do rebanho por outro lado, e aquele terceiro, o instinto da maioria contra as exceções-).
Adivinhei com isso, em que medida uma espécie mais forte de homem teria necessariamente de pensar a elevação e intensificação do homem em, direção a um outro lado: seres superiores, para alem do bem e do mal , para alem daqueles valores que não podem negar sua origem na esfera do sofrer, do rebanho e da maioria- procurei pelos esboços dessa inversa formação de ideal na história ( os conceitos procurei pelos esboços dessa inversa formação de ideal na história ( os conceitos “pagão”, “clássico”, “nobre”, dispostos de modo novo.-)”
Friedrich Wilhelm Nietzsche. Obras Incompletas/seleção de textos de Gerard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; 5 ed. SP: Nova Cultural, 1991. ( Os Pensadores); p. 172-173)http://www.youtube.com/watch?v=alHu-nGqDHY

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