Esqueço-me
No fundo do dia
Explorando as paisagens
De incompletos pensamentos.
Quase vontades visitam-me
Sem ânimo
Em metafísica preguiça
Ditando a paz de inércias.
Percorro-me de um ponto ao outro
Do limitado espaço etéreo
Em que sou existência.
Mas não encontro
Em qualquer parte
Algo além da marca
Do dia presente.
O futuro é agora
Uma ilusão distante
Que me esconde
O infinito do rosto
Fechado no tempo.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
domingo, 20 de abril de 2008
CINEMA E MITOLOGIA CONTEMPORÂNEA NA PRIMEIRA MEDADE DO SEC. XX
A importância e significado adquirido pelo cinema na primeira metade do séc. XX, as novas sensibilidades e imaginações originárias desta nova linguagem artística, diretamente relacionada ao impacto e transformações ocasionadas na vida cotidiana pelo processo de industrialização, é um dos mais vivos exemplos daquilo que podemos aqui denominar como mitologia moderna.
É bem verdade que nos dias de hoje não é com muita facilidade que apreendemos o significado do cinema para os homens da primeira metade do séc. XX, a mítica que envolvia os atores e atrizes da época.
Se hoje um ídolo do cinema não passa de uma mera celebridade mundana, até os anos 60 do último século, através do gramour ele era investido de uma aura sagrada, cultuado pelos seus milhões de admiradores como um verdadeiro deus entre os homens.
O próprio cinema de então, inspirado no old money, apostava deliberadamente em uma estética aristocrática e elitista emprestando a linguagem cinematográfica algo de onírico e mágico.
Basta pensar no verdadeiro culto e veneração ilimitada dedicado a atores como Betty Davis, Rodolfo Valentino, Greta Garbo, Hedy Lamar ou Marlene Dietrich para se ter uma idéia desta verdadeira religião laica que foi um dia a indústria de mitos e icones wollywoodianos.
Pode-se mais precisamente falar de uma religiosidade do desejo, do sex appeal, do luxo, da elegância, do poder e do romance projetados a uma grandeza infinita capaz de sensibilizar a imaginação de multidões em imagens de cinematógrafo.
É bem verdade que nos dias de hoje não é com muita facilidade que apreendemos o significado do cinema para os homens da primeira metade do séc. XX, a mítica que envolvia os atores e atrizes da época.
Se hoje um ídolo do cinema não passa de uma mera celebridade mundana, até os anos 60 do último século, através do gramour ele era investido de uma aura sagrada, cultuado pelos seus milhões de admiradores como um verdadeiro deus entre os homens.
O próprio cinema de então, inspirado no old money, apostava deliberadamente em uma estética aristocrática e elitista emprestando a linguagem cinematográfica algo de onírico e mágico.
Basta pensar no verdadeiro culto e veneração ilimitada dedicado a atores como Betty Davis, Rodolfo Valentino, Greta Garbo, Hedy Lamar ou Marlene Dietrich para se ter uma idéia desta verdadeira religião laica que foi um dia a indústria de mitos e icones wollywoodianos.
Pode-se mais precisamente falar de uma religiosidade do desejo, do sex appeal, do luxo, da elegância, do poder e do romance projetados a uma grandeza infinita capaz de sensibilizar a imaginação de multidões em imagens de cinematógrafo.
A CONTEMPORANEIDADE DA POETICA DE LORD BYRON
LI
“Ah! Tivesse eu pena leve e profusa
Para subir até o cume do Parnasso
Lá, onde ficam a escrevinhar as Musas
Esses versinhos de sucesso fácil,
Eu haveria de compor às dúzias
Relatos sírios, assírios ou trácios,
Poemas do mais fino orientalismo,
Com ocidentalissimo pieguismo.
LII
Mas eu não tenho nome- sou um dândi
Falido, a viajar daqui para ali, mas
Levo comigo, onde quer que eu ande,
Meu dicionário, onde colho rimas
Boas ou más, e me divirto à grande,
Sem cultivar dos críticos a estima;
Às vezes cogito cair na prosa,
Porem a poesia é mais rendosa.”
(Beppo: Uma História Veneziana./ tradução de Paulo Henriques Britto. RJ : Nova Fronteira, 2° ed, 2003, p. 99)
Existiria nas letras do rebelde aristocrata inglês Lord Byron uma contemporaneidade a ser resgatada? Ele que, objeto de culto ao longo do séc. XIX, com o advento do modernismo, declinou em influência passando a ocupar um lugar menor na história das letras inglesas?
Podemos considerar Don Juan, The vision of Judgament e Beppo: a venetian story, suas obras de maturidade e mais expressivas realizações do seu talento. Mas mesmo nelas nos defrontamos com uma linguagem poética de muitos modos estranha a nossa sensibilidade pós modernista.
Como bem avalia, entretanto, Paulo Henriques Britto no ensaio O Romance Neoclássico que serve de introdução a segunda edição revista de sua tradução de Beppo:
“...Byron situa-se entre duas eras e duas mentalidades, e em sua essência pertencente mais ao mundo do ancien régime do que do que ao século das revoluções; deste fato decorrem as contradições que ele jamais conseguiu resolver de modo satisfatório em sua obra. E é justamente por isso que relutamos em ver mesmo em seus poemas mais bem realizados aquela grandeza genuína que não hesitamos em atribuir a um artista como Wordsworth, muito embora boa parte da obra de Wordsworth hoje também nos pareça datada e enfadonha. A poesia madura de Byron, com todo o seu brilho, sua espontaneidade, seu rigor, que a tornam tão próxima de nós e nos levam a sentir pelo autor uma atração irreprimível, ressente-se desta incoerência, desta presença de elementos antagônicos que jamais chegam a combinar-se de forma harmoniosa. Porem , no momento em que nos entregamos ao prazer da leitura, as contradições tornam-se quase irrelevantes, chegam até a constituir mais um atrativo, como os defeitos de certas pessoas fascinantes que, quando estamos em sua presença, só fazem aumentar o fascínio que nos inspiram.
E há mais um motivo para reler Byron agora: os defeitos de sua poesia decorrem de uma exuberância que é muito difícil de encontrar nos melhores poetas da modernidade. Onde Byron peca por excesso é justamente onde o poeta moderno, na maioria das vezes, peca pela escarcez. Numa era em que alguns dos poetas mais representativos cultivam uma depuração formal que tende ao silêncio, tratando a palavra como significante quase vazio, é salutar nos depararmos com esta abundãncia de opiniões, atitudes, posturas, com freqüência contraditória, num poeta que nunca colocou o amor a literatura acima da paixão pela vida, para quem escrever sempre foi, acima de tudo, dizer algo a respeito de si próprio e do mundo.”
(Paulo Henriques Britto. O Romântico Neoclássico, in Beppo: Uma História Veneziana. RJ : Nova Fronteira, 2° ed, 2003, p. 44 e 45)
“Ah! Tivesse eu pena leve e profusa
Para subir até o cume do Parnasso
Lá, onde ficam a escrevinhar as Musas
Esses versinhos de sucesso fácil,
Eu haveria de compor às dúzias
Relatos sírios, assírios ou trácios,
Poemas do mais fino orientalismo,
Com ocidentalissimo pieguismo.
LII
Mas eu não tenho nome- sou um dândi
Falido, a viajar daqui para ali, mas
Levo comigo, onde quer que eu ande,
Meu dicionário, onde colho rimas
Boas ou más, e me divirto à grande,
Sem cultivar dos críticos a estima;
Às vezes cogito cair na prosa,
Porem a poesia é mais rendosa.”
(Beppo: Uma História Veneziana./ tradução de Paulo Henriques Britto. RJ : Nova Fronteira, 2° ed, 2003, p. 99)
Existiria nas letras do rebelde aristocrata inglês Lord Byron uma contemporaneidade a ser resgatada? Ele que, objeto de culto ao longo do séc. XIX, com o advento do modernismo, declinou em influência passando a ocupar um lugar menor na história das letras inglesas?
Podemos considerar Don Juan, The vision of Judgament e Beppo: a venetian story, suas obras de maturidade e mais expressivas realizações do seu talento. Mas mesmo nelas nos defrontamos com uma linguagem poética de muitos modos estranha a nossa sensibilidade pós modernista.
Como bem avalia, entretanto, Paulo Henriques Britto no ensaio O Romance Neoclássico que serve de introdução a segunda edição revista de sua tradução de Beppo:
“...Byron situa-se entre duas eras e duas mentalidades, e em sua essência pertencente mais ao mundo do ancien régime do que do que ao século das revoluções; deste fato decorrem as contradições que ele jamais conseguiu resolver de modo satisfatório em sua obra. E é justamente por isso que relutamos em ver mesmo em seus poemas mais bem realizados aquela grandeza genuína que não hesitamos em atribuir a um artista como Wordsworth, muito embora boa parte da obra de Wordsworth hoje também nos pareça datada e enfadonha. A poesia madura de Byron, com todo o seu brilho, sua espontaneidade, seu rigor, que a tornam tão próxima de nós e nos levam a sentir pelo autor uma atração irreprimível, ressente-se desta incoerência, desta presença de elementos antagônicos que jamais chegam a combinar-se de forma harmoniosa. Porem , no momento em que nos entregamos ao prazer da leitura, as contradições tornam-se quase irrelevantes, chegam até a constituir mais um atrativo, como os defeitos de certas pessoas fascinantes que, quando estamos em sua presença, só fazem aumentar o fascínio que nos inspiram.
E há mais um motivo para reler Byron agora: os defeitos de sua poesia decorrem de uma exuberância que é muito difícil de encontrar nos melhores poetas da modernidade. Onde Byron peca por excesso é justamente onde o poeta moderno, na maioria das vezes, peca pela escarcez. Numa era em que alguns dos poetas mais representativos cultivam uma depuração formal que tende ao silêncio, tratando a palavra como significante quase vazio, é salutar nos depararmos com esta abundãncia de opiniões, atitudes, posturas, com freqüência contraditória, num poeta que nunca colocou o amor a literatura acima da paixão pela vida, para quem escrever sempre foi, acima de tudo, dizer algo a respeito de si próprio e do mundo.”
(Paulo Henriques Britto. O Romântico Neoclássico, in Beppo: Uma História Veneziana. RJ : Nova Fronteira, 2° ed, 2003, p. 44 e 45)
sexta-feira, 18 de abril de 2008
TEMPO INTIMO
Por vezes
Tudo se resume
Na imprecisa aventura
De desvelar um rosto
No segredo do dia.
Carrego o passado
Nas costas
Sofrendo o peso
De muitos futuros,
Temendo o fluir
Do tempo
A me privar de caminhos.
Muitos hojes
já se perderam de mim
no degredo de sonhos antigos.
Hoje
quase não sei de mim.
Tudo se resume
Na imprecisa aventura
De desvelar um rosto
No segredo do dia.
Carrego o passado
Nas costas
Sofrendo o peso
De muitos futuros,
Temendo o fluir
Do tempo
A me privar de caminhos.
Muitos hojes
já se perderam de mim
no degredo de sonhos antigos.
Hoje
quase não sei de mim.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
HISTORIOGRAFIA, IDENTIDADE E DESCONSTRUÇÃO DA MITOLOGIA NACIONALISTA
Publicada entre nós em 1998, a coletânea de ensaios intitulada Sobre a História do celebre historiador britânico Eric Hobsbawn, oferece generosamente uma rica leitura dos dilemas da historiografia contemporânea, das suas polêmicas metodológicas e impasses ideológicos, de modo amplo e elegante. Mesmo quando não concordamos com o autor é impossível ignorar sua sinceridade e rigor intelectual.
Mas quero aqui desta interessante obra resgatar uma única questão: a relação entre a historiografia e a construção de um mito moderno: o nacionalismo. Tema já trabalhado pelo autor em A Invenção das Tradições.
Procurando ser breve, valho-me de um fragmento de ensaio da obra em questão para dizer os impasses que se escondem no imaginário coletivo em torno da problemática das identidades sociais modernas e ainda, de inúmeras maneiras, contemporâneas:
“O Problema para os historiadores profissionais é que seu objeto tem importantes funções sociais e políticas. Essas funções dependem de seu trabalho- quem mais descobre e registra o passado além dos historiadores?-, mas ao mesmo tempo estão em conflito com seus padrões profissionais. Essa dualidade está no cerne de nosso objeto. Os fundadores da Revue Historique tinham consciência disso quando declararam, no avant-propos de seu primeiro número que “Estudar o passsado da França, que será nosso interesse principal, é hoje uma questão de importância nacional. Isso nos possibilitará restabelecer ao nosso país a unidade e a força moral de que necessita”.
É claro que nada estava mais longe de suas mentes confiantes e positivas que servir a nação de outro modo quer não servir a busca da verdade. No entanto, os não acadêmicos que necessitam e consomem a mercadoria que os historiadores produzem, e que constituem o seu mercado mais amplo e politicamente decisivo, não se incomodam com a nítida distinção entre os “procedimentos estritamente científicos” e as “construções retóricas” que eram tão fundamentais para os fundadores da Revue. Seu critério do que é “boa historia” é a “história que é boa para nós”- “nosso país”, “nossa causa”, ou simplesmente “nossa satisfação emocional”. Quer gostem disso ou não, os historiadores profissionais produzem a matéria-prima para o uso ou abuso dos não-profissionais.
Que a história esteja indissoluvelmente ligada a política contemporânea- como continua a demonstrar a historiografia da Revolução Francesa- provavelmente não é hoje uma dificuldade importante, pois os debates dos historiadores, pelo menos em países de liberdade intelectual, são conduzidos dentro das normas de disciplina. Além disso, muitos dos debates mais carregados de conteúdos ideológico entre historiadores profissionais referem-se a questões sobre as quais os não-historiadores menos sabem e se importam. No entanto, todos os seres humanos, coletividades e instituições necessitam de um passado, mas apenas ocasionalmente o passado é revelado pela pesquisa histórica. O exemplo padrão de uma cultura de identidade, que se ancora no passado por meio de mitos disfarçados de história, é o nacionalismo. Ernest Renam observou a mais de um século, “ Esquecer, ou mesmo interpretar mal a história , é um fator essencial na formação de uma nação, motivo pelo qual o progresso dos estudos históricos muitas vezes é um risco para a nacionalidade”. As nações são entidades historicamente novas fingindo terem existido durante muito tempo. É inevitável que a versão nacionalista de sua história consista de anacronismos, omissão, descontextualização e, em casos extremos, mentiras. Em um grau menor, isso é verdade para todas as formas de identidade, antigas e recentes.”
( Eric Hobsbawn. Não basta a história de identidade, in Sobre a História/ tradução de Cid Knipel Moreira- SP: Companhia das Letras, 1998, p284 et seq.)
Mas quero aqui desta interessante obra resgatar uma única questão: a relação entre a historiografia e a construção de um mito moderno: o nacionalismo. Tema já trabalhado pelo autor em A Invenção das Tradições.
Procurando ser breve, valho-me de um fragmento de ensaio da obra em questão para dizer os impasses que se escondem no imaginário coletivo em torno da problemática das identidades sociais modernas e ainda, de inúmeras maneiras, contemporâneas:
“O Problema para os historiadores profissionais é que seu objeto tem importantes funções sociais e políticas. Essas funções dependem de seu trabalho- quem mais descobre e registra o passado além dos historiadores?-, mas ao mesmo tempo estão em conflito com seus padrões profissionais. Essa dualidade está no cerne de nosso objeto. Os fundadores da Revue Historique tinham consciência disso quando declararam, no avant-propos de seu primeiro número que “Estudar o passsado da França, que será nosso interesse principal, é hoje uma questão de importância nacional. Isso nos possibilitará restabelecer ao nosso país a unidade e a força moral de que necessita”.
É claro que nada estava mais longe de suas mentes confiantes e positivas que servir a nação de outro modo quer não servir a busca da verdade. No entanto, os não acadêmicos que necessitam e consomem a mercadoria que os historiadores produzem, e que constituem o seu mercado mais amplo e politicamente decisivo, não se incomodam com a nítida distinção entre os “procedimentos estritamente científicos” e as “construções retóricas” que eram tão fundamentais para os fundadores da Revue. Seu critério do que é “boa historia” é a “história que é boa para nós”- “nosso país”, “nossa causa”, ou simplesmente “nossa satisfação emocional”. Quer gostem disso ou não, os historiadores profissionais produzem a matéria-prima para o uso ou abuso dos não-profissionais.
Que a história esteja indissoluvelmente ligada a política contemporânea- como continua a demonstrar a historiografia da Revolução Francesa- provavelmente não é hoje uma dificuldade importante, pois os debates dos historiadores, pelo menos em países de liberdade intelectual, são conduzidos dentro das normas de disciplina. Além disso, muitos dos debates mais carregados de conteúdos ideológico entre historiadores profissionais referem-se a questões sobre as quais os não-historiadores menos sabem e se importam. No entanto, todos os seres humanos, coletividades e instituições necessitam de um passado, mas apenas ocasionalmente o passado é revelado pela pesquisa histórica. O exemplo padrão de uma cultura de identidade, que se ancora no passado por meio de mitos disfarçados de história, é o nacionalismo. Ernest Renam observou a mais de um século, “ Esquecer, ou mesmo interpretar mal a história , é um fator essencial na formação de uma nação, motivo pelo qual o progresso dos estudos históricos muitas vezes é um risco para a nacionalidade”. As nações são entidades historicamente novas fingindo terem existido durante muito tempo. É inevitável que a versão nacionalista de sua história consista de anacronismos, omissão, descontextualização e, em casos extremos, mentiras. Em um grau menor, isso é verdade para todas as formas de identidade, antigas e recentes.”
( Eric Hobsbawn. Não basta a história de identidade, in Sobre a História/ tradução de Cid Knipel Moreira- SP: Companhia das Letras, 1998, p284 et seq.)
LITERATURA INGLESA XXVI
A Projeção alcançada pelo poeta aristocrático Lord Byron (ou Gordon Noel Byron/1788-1824) e por sua personalidade ultra romântica e desafiadora no séc. XIX europeu através do “byronismo”, é um testemunho do impacto de sua sensibilidade e singularidade poética sobre os seus contemporâneos. De muitas maneiras Byron transmutou-se em um mito do romantismo e do aristocracismo que lhe é inerente. Sua imagem foi associada a abuso sexual, incesto, homossexualismo, divórcio, e, cabe ressaltar, segundo me parece, devemos a ele os primeiros escritos sobre o efeito da maconha sobre o organismo humano.
O fato é que Byron viveu uma vida errante e mundana de radical questionamento da cultura tradicional e das certezas do seu tempo no mais profundo estilo romântico.Percorreu as paisagens inglesas, suíças, italianas e gregas, etc. em um radical grito de plena e intensa individualidade e liberdade. Na Itália, particularmente, participou ativamente do movimento dos Carbonários.
Com o ingênuo intuito de aqui deixar algo de sua poderosa e singular personalidade reproduzo dois dos seus poemas:
O fato é que Byron viveu uma vida errante e mundana de radical questionamento da cultura tradicional e das certezas do seu tempo no mais profundo estilo romântico.Percorreu as paisagens inglesas, suíças, italianas e gregas, etc. em um radical grito de plena e intensa individualidade e liberdade. Na Itália, particularmente, participou ativamente do movimento dos Carbonários.
Com o ingênuo intuito de aqui deixar algo de sua poderosa e singular personalidade reproduzo dois dos seus poemas:
TREVAS
(Tradução de Castro Alves)
Eu tive um sonho que não era em todo um sonho
O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas
Vagueavam escuras pelo espaço eterno,
Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra
Girava cega e negrejante no ar sem lua;
Veio e foi-se a manhã - Veio e não trouxe o dia;
E os homens esqueceram as paixões, no horror
Dessa desolação; e os corações esfriaram
Numa prece egoísta que implorava luz:
E eles viviam ao redor do fogo; e os tronos,
Os palácios dos reis coroados, as cabanas,
As moradas, enfim, do gênero que fosse,
Em chamas davam luz; As cidades consumiam-se
E os homens juntavam-se junto às casas ígneas
Para ainda uma vez olhar o rosto um do outro;
Felizes enquanto residiam bem à vista
Dos vulcões e de sua tocha montanhosa;
Expectativa apavorada era a do mundo;
Queimavam-se as florestas - mas de hora em hora
Tombavam, desfaziam-se - e, estralando, os troncos
Findavam num estrondo - e tudo era negror.
À luz desesperante a fronte dos humanos
Tinha um aspecto não terreno, se espasmódicos
Neles batiam os clarões; alguns, por terra,
Escondiam chorando os olhos; apoiavam
Outros o queixo às mãos fechadas, e sorriam;
Muitos corriam para cá e para lá,
Alimentando a pira, e a vista levantavam
Com doida inquietação para o trevoso céu,
A mortalha de um mundo extinto; e então de novo
Com maldições olhavam para a poeira, e uivavam,
Rangendo os dentes; e aves bravas davam gritos
E cheias de terror voejavam junto ao solo,
Batendo asas inúteis; as mais rudes feras
Chagavam mansas e a tremer; rojavam víboras,
E entrelaçavam-se por entre a multidão,
Silvando, mas sem presas - e eram devoradas.
E fartava-se a Guerra que cessara um tempo,
E qualquer refeição comprava-se com sangue;
E cada um sentava-se isolado e torvo,
Empanturrando-se no escuro; o amor findara;
A terra era uma idéia só - e era a de morte
Imediata e inglória; e se cevava o mal
Da fome em todas as entranhas; e morriam
Os homens, insepultos sua carne e ossos;
Os magros pelos magros eram devorados,
Os cães salteavam seus donos, exceto um,
Que se mantinha fiel a um corpo, e conservava
Em guarda as bestas e aves e famintos homens,
Até a fome os levar, ou os que caíam mortos
Atraírem seus dentes; ele não comia,
Mas com um gemido comovente e longo, e um grito
Rápido e desolado, e relambendo a mão
Que já não o agradava em paga - ele morreu.
Finou-se a multidão de fome, aos poucos; dois,
Dois inimigos que vieram a encontrar-se
Junto às brasas agonizantes de um altar
Onde se haviam empilhado coisas santas
Para um uso profano; eles a resolveram
E trêmulos rasparam, com as mãos esqueléticas,
As débeis cinzas, e com um débil assoprar
E para viver um nada, ergueram uma chama
Que não passava de arremedo; então alçaram
Os olhos quando ela se fez mais viva, e espiaram
O rosto um do outro - ao ver gritaram e morreram
- Morreram de sua própria e mútua hediondez,
- Sem um reconhecer o outro em cuja fronte
Grafara o nome "Diabo". O mundo se esvaziara,
O populoso e forte era uma informe massa,
Sem estações nem árvore, erva, homem, vida,
Massa informe de morte - um caos de argila dura.
Pararam lagos, rios, oceanos: nada
Mexia em suas profundezas silenciosas;
Sem marujos, no mar as naus apodreciam,
Caindo os mastros aos pedaços; e, ao caírem,
Dormiam nos abismos sem fazer mareta,
mortas as ondas, e as marés na sepultura,
Que já findara sua lua senhoril.
Os ventos feneceram no ar inerte, e as nuvens
Tiveram fim; a escuridão não precisava
De seu auxílio - as trevas eram o Universo.
UMA TAÇA FEITA DE UM CRÂNIO HUMANO
(Tradução de Castro Alves)
Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria -
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
- Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.
Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...
DESAFIO
Procuro no breu da existência
Qualquer sorte
Maior do que
O grito da vida
A se espalhar no tempo
Em busca
De outra face
De si mesma.
Procuro o perder
Do meu orgulho
No negar aos outros
E ao mundo
O próprio rosto,
A vã certeza
De que em tudo
Há um rumo.
Qualquer sorte
Maior do que
O grito da vida
A se espalhar no tempo
Em busca
De outra face
De si mesma.
Procuro o perder
Do meu orgulho
No negar aos outros
E ao mundo
O próprio rosto,
A vã certeza
De que em tudo
Há um rumo.
terça-feira, 15 de abril de 2008
VIAGEM
Toda viagem
É um afastar-se do que somos
no aprendizado das coisas
Em si mesmas,
Uma aventura estranha
Na qual cada momento
Pressupõe um uso único
Da vida.
Viajar é perder-se
No mover-se em desconhecidos
Instantes de sensações,
É esquecer-se em
Destinos
E mundos em labirintos,
É guardar na alma
Um inexplicável sabor
De nada
Que nos preenche de um novo,
De sorte e de morte,
no fluir da existência.
É um afastar-se do que somos
no aprendizado das coisas
Em si mesmas,
Uma aventura estranha
Na qual cada momento
Pressupõe um uso único
Da vida.
Viajar é perder-se
No mover-se em desconhecidos
Instantes de sensações,
É esquecer-se em
Destinos
E mundos em labirintos,
É guardar na alma
Um inexplicável sabor
De nada
Que nos preenche de um novo,
De sorte e de morte,
no fluir da existência.
ADIVINHAÇÃO E SINCRONICIDADE
Marie Louise von Franz, em Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa, ocupa-se basicamente do significado do Irracional em Psicologia Analítica, mediante a reunião de uma série de palestras sobre o tema realizadas no Instituto Jung de Zurich no outono de 1969.
Assim sendo, o foco central de suas considerações confunde-se com a busca pela delimitação do fundamento psíquico sobre o qual o fenômeno da adivinhação se assenta; o que nos conduz ao principio da acausalidade ou, como denominou Jung, da sincronicidade.
Como nos esclarece a autora em uma interessante comparação entre o modo de pensar europeu/ocidental e o do chinês tradicional ou arcaico:
“... O modo ocidental de pensar é uma orientação extrospectiva, ou seja, primeiro observamos, ou seja, primeiro observamos os eventos e depois extraímos um modelo matemático. O modo chinês ou oriental consiste em usar um modelo mental intuitivo para ler os eventos, a saber, os números inteiros naturais. Eles se voltam primeiro para o evento de lançar ao ar cara ou coroa, que é um evento psíquico e psicofísico. A pergunta do adivinhador é psíquica, ao passo que o evento é a moeda cair ou de cara ou de coroa, fato a partir do qual os eventos internos e externos subseqüentes podem ser interpretados. Logo, trata-se de um modo de ver inteiramente complementar ao nosso.
O que é importante na China, conforme também sublinhou Jung em seu ensaio intitulado “Sincronicidade: Um Principio de Conexão Acausal”, é o fato de os chineses não terem se fixado, como aconteceu em muitas outras civilizações primitivas, no uso de métodos divinatórios somente para predizer o futuro- por exemplo, se um homem deve ou não se casar. Pergunta-se ao sacerdote e ele diz: “ Não, não a conseguirá.” Ou “ Sim, vai consegui-la.” Isso é algo praticado no mundo inteiro, não só oficialmente, mas por muitas pessoas no silêncio de suas salas, quando dispõem sobre a mesa as cartas do Taro, etc..., ou quando se dedicam a pequenos rituais: “ Se hoje brilhar o sol, então farei isso ou aquilo.” O homem pensa constantemente desse modo e até os cientistas tem essas pequenas superstições, dizendo para si mesmos que, como o sol brilhou no quarto deles, ao saltarem da cama, sabem que hoje tal e tal coisa correrá a mil maravilhas. Mesmo que rejeitemos em nossa Weltanschauung consciente tais superstições, o homem primitivo que existe em nós, usa esse tipo de prognóstico do futuro com a mão esquerda, por assim dizer, e depois nega-o envergonhado ao seu irmão nacionalista, embora fique muito aliviado ao descobrir que o outro faz a mesma coisa!”
(Marie Louise von Franz. Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa./ tradução de Álvaro Cabral. SP: Cultrix, s/d, p.11)
Tal complementalidade, nos termos aqui expostos, ente o modo de pensar ocidental e oriental, foi que levou Jung reformular o conceito de Unus Mundus, de origem medieval:
Assim sendo, o foco central de suas considerações confunde-se com a busca pela delimitação do fundamento psíquico sobre o qual o fenômeno da adivinhação se assenta; o que nos conduz ao principio da acausalidade ou, como denominou Jung, da sincronicidade.
Como nos esclarece a autora em uma interessante comparação entre o modo de pensar europeu/ocidental e o do chinês tradicional ou arcaico:
“... O modo ocidental de pensar é uma orientação extrospectiva, ou seja, primeiro observamos, ou seja, primeiro observamos os eventos e depois extraímos um modelo matemático. O modo chinês ou oriental consiste em usar um modelo mental intuitivo para ler os eventos, a saber, os números inteiros naturais. Eles se voltam primeiro para o evento de lançar ao ar cara ou coroa, que é um evento psíquico e psicofísico. A pergunta do adivinhador é psíquica, ao passo que o evento é a moeda cair ou de cara ou de coroa, fato a partir do qual os eventos internos e externos subseqüentes podem ser interpretados. Logo, trata-se de um modo de ver inteiramente complementar ao nosso.
O que é importante na China, conforme também sublinhou Jung em seu ensaio intitulado “Sincronicidade: Um Principio de Conexão Acausal”, é o fato de os chineses não terem se fixado, como aconteceu em muitas outras civilizações primitivas, no uso de métodos divinatórios somente para predizer o futuro- por exemplo, se um homem deve ou não se casar. Pergunta-se ao sacerdote e ele diz: “ Não, não a conseguirá.” Ou “ Sim, vai consegui-la.” Isso é algo praticado no mundo inteiro, não só oficialmente, mas por muitas pessoas no silêncio de suas salas, quando dispõem sobre a mesa as cartas do Taro, etc..., ou quando se dedicam a pequenos rituais: “ Se hoje brilhar o sol, então farei isso ou aquilo.” O homem pensa constantemente desse modo e até os cientistas tem essas pequenas superstições, dizendo para si mesmos que, como o sol brilhou no quarto deles, ao saltarem da cama, sabem que hoje tal e tal coisa correrá a mil maravilhas. Mesmo que rejeitemos em nossa Weltanschauung consciente tais superstições, o homem primitivo que existe em nós, usa esse tipo de prognóstico do futuro com a mão esquerda, por assim dizer, e depois nega-o envergonhado ao seu irmão nacionalista, embora fique muito aliviado ao descobrir que o outro faz a mesma coisa!”
(Marie Louise von Franz. Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa./ tradução de Álvaro Cabral. SP: Cultrix, s/d, p.11)
Tal complementalidade, nos termos aqui expostos, ente o modo de pensar ocidental e oriental, foi que levou Jung reformular o conceito de Unus Mundus, de origem medieval:
“Em seu estudo sobre a sincronicidade, Jung enfatiza que, como os domínios físico e psíquico coincidem dentro do evento sincronistico, deve existir em algum lugar, ou de algum modo, uma realidade unitária- uma realidade dos domínios físico e psíquicos, para a qual ele usou a expressão latina unus mundus, o mundo uno, conceito que já existia na mente de alguns filósofos medievais. Esse mundo, diz Jung, não pode ser vislumbrado por nós e transcende, por completo, a nossa apreensão consciente. Só podemos concluir ou pressupor a existência em lugar de tal realidade, uma realidade psicofísica, como poderíamos chamá-la, que se manifesta esporadicamente no evento sincronístico. Mais tarde, em Mysterium Conjunctionis, Jung diz que a mandala é o equivalente psíquico interno do unus mundus.
Isso significa, como sabemos, que a mandala representa a unicidade essencial da realidade interna e externa, e aponta para um conteúdo psicológico transcendente, que só pode ser apreendido indiretamente, através de símbolos. As muitas formas de mandalas parecem apontar para essa unicidade, sendo os eventos sincronisticos o equivalente parapsicológico do unus mundus e apontando, também, para essa mesma unicidade dos universos psíquico e físico. Portanto, não surpreende encontrar na história combinações desses dois motivos, isto é, das estruturas da mandala e das tentativas de passadas de adivinhação, a fim de apreender a sincronicidade. Eu chamo essas mandalas, mandalas adivinhatórias.”
( idem p. 117)
ADIVINHAÇÃO, TEMPO E ACASO
Toda forma oracular pressupõe o acaso, o ato único de um evento aleatório, material e concreto, como fonte de informações sobre a totalidade de uma dada situação psicológica interna e externamente vivida ou determinada. Há, em outros termos, uma fusão entre a materialidade do instrumento e a imaterialidade do resultado na aventura lúdica da consulta.
Trata-se de um modo de se ler os eventos da vida através de qualquer código simbólico onde o significado surge como meta-linguagem, como experiência psíquica e irracional que não deriva da necessariamente do ato ou evento concreto que lhe originou em termos ingênuos do pensar em causas e efeitos. Diga-se de passagem, é o estado/intensidade emocional experimentado pelo indivíduo que consulta um oráculo que condiciona à maior ou menor eficácia da experiência.
Nesse sentido, um argumento muito comum contra as mancias é o diagnóstico de sua imprecisão lingüística e abstração simbólica que, em tese, permitiria a validade de qualquer resposta desde que “interpretada” subjetivamente a contento.
Os defensores deste tipo de argumentação se esquecem, entretanto, de que em uma consulta oracular, não é necessariamente o pré-dizer de um acontecimento determinado, o que teria por pressuposto qualquer forma ingênua de fatalismo. Mas sim a delimitação de um campo qualitativo de eventos, possibilidades e probabilidades circunscritas a experiência emocional e concreta de um dado recorte temporal e temático de existência. O que realmente se busca através de um oráculo é um padrão de leitura da realidade; isto significa uma experiência introspectiva do real tanto quanto a integração do inconsciente, premissa que nos leva a questão de um ordenamento acausal do mundo físico e humano onde a psique se faz matriz de toda idéia de consciência de uma dada imagem de realidade.
Trata-se de um modo de se ler os eventos da vida através de qualquer código simbólico onde o significado surge como meta-linguagem, como experiência psíquica e irracional que não deriva da necessariamente do ato ou evento concreto que lhe originou em termos ingênuos do pensar em causas e efeitos. Diga-se de passagem, é o estado/intensidade emocional experimentado pelo indivíduo que consulta um oráculo que condiciona à maior ou menor eficácia da experiência.
Nesse sentido, um argumento muito comum contra as mancias é o diagnóstico de sua imprecisão lingüística e abstração simbólica que, em tese, permitiria a validade de qualquer resposta desde que “interpretada” subjetivamente a contento.
Os defensores deste tipo de argumentação se esquecem, entretanto, de que em uma consulta oracular, não é necessariamente o pré-dizer de um acontecimento determinado, o que teria por pressuposto qualquer forma ingênua de fatalismo. Mas sim a delimitação de um campo qualitativo de eventos, possibilidades e probabilidades circunscritas a experiência emocional e concreta de um dado recorte temporal e temático de existência. O que realmente se busca através de um oráculo é um padrão de leitura da realidade; isto significa uma experiência introspectiva do real tanto quanto a integração do inconsciente, premissa que nos leva a questão de um ordenamento acausal do mundo físico e humano onde a psique se faz matriz de toda idéia de consciência de uma dada imagem de realidade.
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