terça-feira, 15 de abril de 2008

ADIVINHAÇÃO, TEMPO E ACASO


Toda forma oracular pressupõe o acaso, o ato único de um evento aleatório, material e concreto, como fonte de informações sobre a totalidade de uma dada situação psicológica interna e externamente vivida ou determinada. Há, em outros termos, uma fusão entre a materialidade do instrumento e a imaterialidade do resultado na aventura lúdica da consulta.
Trata-se de um modo de se ler os eventos da vida através de qualquer código simbólico onde o significado surge como meta-linguagem, como experiência psíquica e irracional que não deriva da necessariamente do ato ou evento concreto que lhe originou em termos ingênuos do pensar em causas e efeitos. Diga-se de passagem, é o estado/intensidade emocional experimentado pelo indivíduo que consulta um oráculo que condiciona à maior ou menor eficácia da experiência.
Nesse sentido, um argumento muito comum contra as mancias é o diagnóstico de sua imprecisão lingüística e abstração simbólica que, em tese, permitiria a validade de qualquer resposta desde que “interpretada” subjetivamente a contento.
Os defensores deste tipo de argumentação se esquecem, entretanto, de que em uma consulta oracular, não é necessariamente o pré-dizer de um acontecimento determinado, o que teria por pressuposto qualquer forma ingênua de fatalismo. Mas sim a delimitação de um campo qualitativo de eventos, possibilidades e probabilidades circunscritas a experiência emocional e concreta de um dado recorte temporal e temático de existência. O que realmente se busca através de um oráculo é um padrão de leitura da realidade; isto significa uma experiência introspectiva do real tanto quanto a integração do inconsciente, premissa que nos leva a questão de um ordenamento acausal do mundo físico e humano onde a psique se faz matriz de toda idéia de consciência de uma dada imagem de realidade.

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