Marie Louise von Franz, em Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa, ocupa-se basicamente do significado do Irracional em Psicologia Analítica, mediante a reunião de uma série de palestras sobre o tema realizadas no Instituto Jung de Zurich no outono de 1969.
Assim sendo, o foco central de suas considerações confunde-se com a busca pela delimitação do fundamento psíquico sobre o qual o fenômeno da adivinhação se assenta; o que nos conduz ao principio da acausalidade ou, como denominou Jung, da sincronicidade.
Como nos esclarece a autora em uma interessante comparação entre o modo de pensar europeu/ocidental e o do chinês tradicional ou arcaico:
“... O modo ocidental de pensar é uma orientação extrospectiva, ou seja, primeiro observamos, ou seja, primeiro observamos os eventos e depois extraímos um modelo matemático. O modo chinês ou oriental consiste em usar um modelo mental intuitivo para ler os eventos, a saber, os números inteiros naturais. Eles se voltam primeiro para o evento de lançar ao ar cara ou coroa, que é um evento psíquico e psicofísico. A pergunta do adivinhador é psíquica, ao passo que o evento é a moeda cair ou de cara ou de coroa, fato a partir do qual os eventos internos e externos subseqüentes podem ser interpretados. Logo, trata-se de um modo de ver inteiramente complementar ao nosso.
O que é importante na China, conforme também sublinhou Jung em seu ensaio intitulado “Sincronicidade: Um Principio de Conexão Acausal”, é o fato de os chineses não terem se fixado, como aconteceu em muitas outras civilizações primitivas, no uso de métodos divinatórios somente para predizer o futuro- por exemplo, se um homem deve ou não se casar. Pergunta-se ao sacerdote e ele diz: “ Não, não a conseguirá.” Ou “ Sim, vai consegui-la.” Isso é algo praticado no mundo inteiro, não só oficialmente, mas por muitas pessoas no silêncio de suas salas, quando dispõem sobre a mesa as cartas do Taro, etc..., ou quando se dedicam a pequenos rituais: “ Se hoje brilhar o sol, então farei isso ou aquilo.” O homem pensa constantemente desse modo e até os cientistas tem essas pequenas superstições, dizendo para si mesmos que, como o sol brilhou no quarto deles, ao saltarem da cama, sabem que hoje tal e tal coisa correrá a mil maravilhas. Mesmo que rejeitemos em nossa Weltanschauung consciente tais superstições, o homem primitivo que existe em nós, usa esse tipo de prognóstico do futuro com a mão esquerda, por assim dizer, e depois nega-o envergonhado ao seu irmão nacionalista, embora fique muito aliviado ao descobrir que o outro faz a mesma coisa!”
(Marie Louise von Franz. Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa./ tradução de Álvaro Cabral. SP: Cultrix, s/d, p.11)
Tal complementalidade, nos termos aqui expostos, ente o modo de pensar ocidental e oriental, foi que levou Jung reformular o conceito de Unus Mundus, de origem medieval:
Assim sendo, o foco central de suas considerações confunde-se com a busca pela delimitação do fundamento psíquico sobre o qual o fenômeno da adivinhação se assenta; o que nos conduz ao principio da acausalidade ou, como denominou Jung, da sincronicidade.
Como nos esclarece a autora em uma interessante comparação entre o modo de pensar europeu/ocidental e o do chinês tradicional ou arcaico:
“... O modo ocidental de pensar é uma orientação extrospectiva, ou seja, primeiro observamos, ou seja, primeiro observamos os eventos e depois extraímos um modelo matemático. O modo chinês ou oriental consiste em usar um modelo mental intuitivo para ler os eventos, a saber, os números inteiros naturais. Eles se voltam primeiro para o evento de lançar ao ar cara ou coroa, que é um evento psíquico e psicofísico. A pergunta do adivinhador é psíquica, ao passo que o evento é a moeda cair ou de cara ou de coroa, fato a partir do qual os eventos internos e externos subseqüentes podem ser interpretados. Logo, trata-se de um modo de ver inteiramente complementar ao nosso.
O que é importante na China, conforme também sublinhou Jung em seu ensaio intitulado “Sincronicidade: Um Principio de Conexão Acausal”, é o fato de os chineses não terem se fixado, como aconteceu em muitas outras civilizações primitivas, no uso de métodos divinatórios somente para predizer o futuro- por exemplo, se um homem deve ou não se casar. Pergunta-se ao sacerdote e ele diz: “ Não, não a conseguirá.” Ou “ Sim, vai consegui-la.” Isso é algo praticado no mundo inteiro, não só oficialmente, mas por muitas pessoas no silêncio de suas salas, quando dispõem sobre a mesa as cartas do Taro, etc..., ou quando se dedicam a pequenos rituais: “ Se hoje brilhar o sol, então farei isso ou aquilo.” O homem pensa constantemente desse modo e até os cientistas tem essas pequenas superstições, dizendo para si mesmos que, como o sol brilhou no quarto deles, ao saltarem da cama, sabem que hoje tal e tal coisa correrá a mil maravilhas. Mesmo que rejeitemos em nossa Weltanschauung consciente tais superstições, o homem primitivo que existe em nós, usa esse tipo de prognóstico do futuro com a mão esquerda, por assim dizer, e depois nega-o envergonhado ao seu irmão nacionalista, embora fique muito aliviado ao descobrir que o outro faz a mesma coisa!”
(Marie Louise von Franz. Adivinhação e Sincronicidade: A Psicologia da Probabilidade Significativa./ tradução de Álvaro Cabral. SP: Cultrix, s/d, p.11)
Tal complementalidade, nos termos aqui expostos, ente o modo de pensar ocidental e oriental, foi que levou Jung reformular o conceito de Unus Mundus, de origem medieval:
“Em seu estudo sobre a sincronicidade, Jung enfatiza que, como os domínios físico e psíquico coincidem dentro do evento sincronistico, deve existir em algum lugar, ou de algum modo, uma realidade unitária- uma realidade dos domínios físico e psíquicos, para a qual ele usou a expressão latina unus mundus, o mundo uno, conceito que já existia na mente de alguns filósofos medievais. Esse mundo, diz Jung, não pode ser vislumbrado por nós e transcende, por completo, a nossa apreensão consciente. Só podemos concluir ou pressupor a existência em lugar de tal realidade, uma realidade psicofísica, como poderíamos chamá-la, que se manifesta esporadicamente no evento sincronístico. Mais tarde, em Mysterium Conjunctionis, Jung diz que a mandala é o equivalente psíquico interno do unus mundus.
Isso significa, como sabemos, que a mandala representa a unicidade essencial da realidade interna e externa, e aponta para um conteúdo psicológico transcendente, que só pode ser apreendido indiretamente, através de símbolos. As muitas formas de mandalas parecem apontar para essa unicidade, sendo os eventos sincronisticos o equivalente parapsicológico do unus mundus e apontando, também, para essa mesma unicidade dos universos psíquico e físico. Portanto, não surpreende encontrar na história combinações desses dois motivos, isto é, das estruturas da mandala e das tentativas de passadas de adivinhação, a fim de apreender a sincronicidade. Eu chamo essas mandalas, mandalas adivinhatórias.”
( idem p. 117)
Um comentário:
Se segundo Jung, a adivinhação vem do inconsciente, e elas ja surgiram em minha vida mas sem minha vontade, então esta informação inconsciente acessou a minha consciencia porque? Oque pode ter acontecido para que estas informações surgissem? Como posso tornareste processo ativo, pela minha vontade? Qual a conexão?
Marcio Miranda Pereira
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