quinta-feira, 27 de março de 2008

REVOLUÇÂO INGLESA E LITERATURA INGLESA



Em seu clássico sobre a revolução inglesa, O Mundo de Ponta Cabeça: Idéias Radicais durante a Revolução Inglesa de 1640, o celebre historiador britânico Christopher Hill ( 1912-2003) nos oferece uma chave de leitura interessante para a produção literária do período e, pode-se dizer, também para o seu próprio livro. Limitar-me-ei aqui a reproduzi-la:

“ Se tem algum valor a analise que esbocei neste livro, ela poderá sugerir novas abordagens de outros aspectos da literatura de finais do Seiscentos. Tanto Milton quanto Bunyan criam para os seus personagens o que chamei de uma “situação `a Robinson Crusoé”, isto é, o isolamento do herói ou heroína face aos elos sociais, como no estado de natureza hobbesiano. A dama de Comus esta perdida no bosque, Adão e Eva tomam “a sua via solitária” do Paraíso para o mundo, Cristo se defronta com Satã sozinho no deserto, Sansão nunca sentiu maior solidão do que quando se ergueu, cercado por seus inimigos, no templo de Dagon. O peregrino de Bunyan abandona mulher e filhos buscando a salvação; Robinson Crusoé tem como precursor The Isle of Pines ( A ilha dos pinheiros), de Henry Neville. A razão, consciente ou não, para se construir essa situação literária, era a vontade de libertar o indivíduo das tradições, leis e costumes herdados, e de torná-lo apto a encontrar a salvação solitário, à vista apenas de Deus. A luz dessa analise talvez possamos articular essa tendência a libertar o indivíduo das normas sociais com a recusa ranter da moralidade convencional e, ainda, com a tabula rasa de Locke. Podemos entendê-la, mesmo, como a aplicação literária da doutrina da luz interior, quintessência do individualismo radical.”

(Christopher Hill. O Mundo de Ponta Cabeça: Idéias Radicais durante a Revolução Inglesa de 1640/ tradução de Renato Janine Ribeiro. SP: Companhia das Letras, 2º reimpressão, 1987, p. 390)

MELANCOLIA

Deixo a chuva
Cair sobre mim
Como uma melancólica mensagem
De dia seguinte,
Um dizer de amanhã ausente
Que se deita na face do tempo
E prova a preguiça de todas
As eras.

Passados me abraçam
Em gritos
No distanciar-se de futuros.
Penso no vento dizendo
Blowin’ in the Wind
No movimento vivo
Que em qualquer parte
nos faz rolling Stones.

quarta-feira, 26 de março de 2008

MARILYN MANSON: THE GOLDEN AGE OF GROTESQUE


A alegoria obcena ultilizada por Merilyn Manson nas performaces de seus shows, em especial os correspondentes a turnê de seu álbum The Golden Age of Grotesque, são alegorias carnavalescas que expressam a um mesmo tempo uma corrosiva critica a industria do interterimento, a moral tradicional e ao “principio de prazer”. Por outro lado, na performance de Manson há uma desconstrução sarcástica e corrosiva da inibição configurada pela tradição judaico cristã com relação a experiência da matéria e do corpo. Suas fantasias parecem simplesmente nos dizer o quanto a consciência não coincide com qualquer código moral, mas o transcende na medida em que pressupõe a experiência das polaridades, da coincidentia oppositorum como princípio.

SOBRE PSICOLOGIA ARQUETIPICA

Creio que um dos méritos da proposta de uma psicologia arquetipica, tal como formulada por James Hilman, encontra-se no fato de não reduzir arquetipico a psique caindo assim nos elementares “psicologismos” inerentes a linguagem e imagem de mundo dos psicólogos e terapeutas de um modo geral.
Psique, terapia, psicologia, cura, etc... não passam de imagens arquetipicas e tal afirmação apenas nos conduz a questão elementar da relação complexa existente entre consciência e imaginação.
Toda forma de representação ou reflexão em torno disto já é um exercício de fantasia e, talvez, algo mais do que isso. O que interessa aqui é o paradoxo deste fenômeno. Não quero afirmar, pura e simplesmente, que tudo é fantasia, mas que movimentar-nos unilateralmente a partir de nossos referenciais egoicos de consciência e realidade é um modo de ignorar algo importante sobre nossa irracional e imaterial consciência de mundo, construindo uma unidade falsa entre as palavras e as coisas através de alguma ilusão pueril de verdade.

JAMES HILMAN: PSICOLOGIA ARQUETIPICA E JUNG


Estudos de Psicologia Arquetipica de James Hilman reúne alguns de seus ensaios escritos em diferentes contextos durante os anos sessenta e setenta. Nestes podemos perceber a originalidade da proposta do autor dentro do vasto campo da psicologia analítica, seu esforço sistemático para “atualização” do campo de força constituído pela “imaginário junguiano” e a construção de uma leitura heterodoxa ou que simplesmente conduza a um novo momento de desenvolvimento a matriz cultural inspirada pela obra de Jung.
É nesse sentido que ele nos propõe a designação de psicologia arquetipica para definir o fazer-se contemporâneo da psicologia inspirada por C G Jung.
Em seus próprios termos:

“As expressões: junguiana, analítica e complexa nunca foram escolhas felizes nem adequadas à Psicologia que tentavam designar. Parece necessário adotar uma palavra que reflita a abordagem característica de Jung, tanto em relação à teoria e ao que de fato tem lugar na prática, como em relação à vida em geral. Chamar essa psicologia hoje de “arquetipica” é uma decorrência de seu desenvolvimento histórico. De certo modo os termos iniciais foram superados pelo conceito de arquetipico, que Jung ainda não tinha elaborado ao tempo em que deu nome à sua psicologia. O arquetipico é o mais ontologicamente fundamental dos conceitos psicológicos de Jung, com a vantagem da maior precisão, alem de ser, por definição, sempre parcialmente indefinível e aberto. Os arquetipicos são os órgãos em que se situa a vida psíquica, agentes operativos da idéia que Jung tinha terapia. O próprio Self inclui-se, conceitualmente, entre os arquetipicos. Essa designação reflete um aprofundamento teórico na parte final da obra de Jung, uma tentativa de solucionar problemas em um nivel alem dos modelos científicos e da terapia no sentido usual, pois os problemas da alma já não são problemas no sentido usual. Em vez diso, vão-se buscar as fantasias arquetipicas existentes no interior dos “modelos”, da “objetividade”, dos “problemas”. Já em 1912 Jung dispôs a analise num esquema arquetipico, libertando com isso o arquétipo do confinamento ao analítico. A analise pode ser um instrumento para a compreensão dos arquetipicos, mas não pode dar conta deles. É dando prioridade ao arquetipico sobre o analítico que propiciamos a psique uma oportunidade de sair para fora dos consultórios. O próprio consultório com isso ganha uma perspectiva arquetipica. Afinal, também a analise é uma dramatização de uma fantasia arquetipica.”
(James Hilman. Por que “Psicologia analítica” in Estudos de Psicologia Arquetipica. RJ: Achiamé, 1981, p.1981, p. 165.)

terça-feira, 25 de março de 2008

LITERATURA INGLESA XXIII


Único romance da poetisa e escritora britânica Emily Jane Brönte ( 1818- 1848), O Morro dos Ventos Uivantes, originalmente publicado em 1847, é certamente uma das mais fascinantes e intensas histórias de amor de todos os tempos.
O desregramento das paixões que ultrapassam todos os limites, estruturam uma narrativa trágica que nos faz pensar sobre os dilemas e ambições que motivam a experiência de uma vida humana. A opção de Catherine por um “casamento de interesse” e sua morte prematura, o regresso e vingança de Heathcliff , sua derradeira e redentora loucura, destinos que mesmo na morte permanecem entrelaçados, compõem um jogo de simetrias e contrastes, que articulando o enredo, nos conduzem a experiência viva do abismo que muitas vezes define a complexa relação entre nossas  realizações sociais e ambições pessoais,  em um paradoxal desencontro. Desencontro este, estabelecido, seja pela aleatoriedade do destino ou por nossas opções subjetivas ou, ainda,  simplesmente, pelo mero suceder de circunstâncias que em um só tempo determinamos e nos determinam.

aleatoria existência

Procuro na vida
Um só principio
Que explique
O acontecer das coisas,
Como se houvesse realidade possível
No improvável de cada pensamento
Que não fosse o mágico susto
De surpreender-me vivo,
De acordar a cada manhã
Sem pensar no fim
Ou no inicio de mim mesmo.

segunda-feira, 24 de março de 2008

CRÔNICA RELÂMPAGO XXII

Não sei precisamente que dia é hoje no impreciso acontecer da vida, qual significado o dirá no alem da superfície dos fatos na irrealidade de um imediato amanhã. O que terei a dizer sobre ele? Talvez nada disso seja importante.
Aprendi a esperar muito pouco ou quase nada do destino esperando demasiadamente de mim mesmo. Sei que tudo é uma questão de acaso, que a vida é uma experiência em ultima instância ilegível em seu aleatório e caótico acontecer.
Contraditoriamente nosso agir no mundo pressupõe exatamente acreditar no oposto, pois alguma fantasia de sentido e significado precisa prevalecer, no fazer-se da vida e no enfrentamento dos desafios de cada novo dia. É certo que tal sentido não prevalece sempre e, na maioria das situações, mais o buscamos do que o sabemos.

DESTINO

Estou a caminho de algum lugar...
Talvez nada mais pretenda
Que retornar a algum sonho arcaico
Que me diga a plena existência,
Abandonar-me ao acaso
E re-aprender a vida
De outro ângulo
Em mítico nuance.

Estou a caminho de algum lugar...
do qual me sinto cada vez mais distante
no aventurar-se de cada passo.

sábado, 22 de março de 2008

METALLICA: SOME KIND OF MONSTER



Todo relacionamento humano é como uma espécie de Frankesnstein, um "monstro" no qual cada pessoa envolvida constitui uma parte, ou várias partes, unidas por um vinculo ou sintonia tão objetiva e concreta quanto irracional e i8ndeterminada. Essa idéia de relacionar-se como " viver um monstro" me foi inspirada pelo original e profundo documentário " Metallica: Some Kind of Monster". Talvez o mais interessante registro já feito sobre o cotidiano de uma banda de rock.
O filme compreende o conturbado processo de gravação do album St. Anger lançado em 2003; as brigas, guerra de egos e não egos, angustias e dilemas pessoais, desencontros e encontros da banda, assistida por um terapeuta naquele momento, deste icone do rock, este monstro sagrado que é o Metallica. Independente disso, acaba nos dizendo muito sobre relacionamento humano... sobre nossa condição humana.
Cabe observar que a imagem do monstro para dizer a experiência de relacionar-se em qualquer dimensão da vida tem um caráter "positivo" ou pelo menos ambíguo . A imagem, do monstro pressupõe tanto complexidade quando dificuldade. Isso faz parte do relacionar-se...
Através de Some Kind of Monster compreendemos melhor a mensagem de St. Anger. Agressividade e raiva, em alguns momentos de qualquer relacionamento se fazem presentes. Podemos lidar com isso de modo destrutivo e negativo o8u simplesmente aceitar que nada é perfeito nesse mundo e a raiva pode nos impulsionar para uma dinâmica mais completa, mais "verdadeira"(!) , em nossos relacionamentos com a gente mesmo e com os outros.
A raiva realmente pode ser santa quando bem direcionada por uma opção pela vida inteira que somos...