terça-feira, 25 de março de 2008

LITERATURA INGLESA XXIII


Único romance da poetisa e escritora britânica Emily Jane Brönte ( 1818- 1848), O Morro dos Ventos Uivantes, originalmente publicado em 1847, é certamente uma das mais fascinantes e intensas histórias de amor de todos os tempos.
O desregramento das paixões que ultrapassam todos os limites, estruturam uma narrativa trágica que nos faz pensar sobre os dilemas e ambições que motivam a experiência de uma vida humana. A opção de Catherine por um “casamento de interesse” e sua morte prematura, o regresso e vingança de Heathcliff , sua derradeira e redentora loucura, destinos que mesmo na morte permanecem entrelaçados, compõem um jogo de simetrias e contrastes, que articulando o enredo, nos conduzem a experiência viva do abismo que muitas vezes define a complexa relação entre nossas  realizações sociais e ambições pessoais,  em um paradoxal desencontro. Desencontro este, estabelecido, seja pela aleatoriedade do destino ou por nossas opções subjetivas ou, ainda,  simplesmente, pelo mero suceder de circunstâncias que em um só tempo determinamos e nos determinam.

aleatoria existência

Procuro na vida
Um só principio
Que explique
O acontecer das coisas,
Como se houvesse realidade possível
No improvável de cada pensamento
Que não fosse o mágico susto
De surpreender-me vivo,
De acordar a cada manhã
Sem pensar no fim
Ou no inicio de mim mesmo.

segunda-feira, 24 de março de 2008

CRÔNICA RELÂMPAGO XXII

Não sei precisamente que dia é hoje no impreciso acontecer da vida, qual significado o dirá no alem da superfície dos fatos na irrealidade de um imediato amanhã. O que terei a dizer sobre ele? Talvez nada disso seja importante.
Aprendi a esperar muito pouco ou quase nada do destino esperando demasiadamente de mim mesmo. Sei que tudo é uma questão de acaso, que a vida é uma experiência em ultima instância ilegível em seu aleatório e caótico acontecer.
Contraditoriamente nosso agir no mundo pressupõe exatamente acreditar no oposto, pois alguma fantasia de sentido e significado precisa prevalecer, no fazer-se da vida e no enfrentamento dos desafios de cada novo dia. É certo que tal sentido não prevalece sempre e, na maioria das situações, mais o buscamos do que o sabemos.

DESTINO

Estou a caminho de algum lugar...
Talvez nada mais pretenda
Que retornar a algum sonho arcaico
Que me diga a plena existência,
Abandonar-me ao acaso
E re-aprender a vida
De outro ângulo
Em mítico nuance.

Estou a caminho de algum lugar...
do qual me sinto cada vez mais distante
no aventurar-se de cada passo.

sábado, 22 de março de 2008

METALLICA: SOME KIND OF MONSTER



Todo relacionamento humano é como uma espécie de Frankesnstein, um "monstro" no qual cada pessoa envolvida constitui uma parte, ou várias partes, unidas por um vinculo ou sintonia tão objetiva e concreta quanto irracional e i8ndeterminada. Essa idéia de relacionar-se como " viver um monstro" me foi inspirada pelo original e profundo documentário " Metallica: Some Kind of Monster". Talvez o mais interessante registro já feito sobre o cotidiano de uma banda de rock.
O filme compreende o conturbado processo de gravação do album St. Anger lançado em 2003; as brigas, guerra de egos e não egos, angustias e dilemas pessoais, desencontros e encontros da banda, assistida por um terapeuta naquele momento, deste icone do rock, este monstro sagrado que é o Metallica. Independente disso, acaba nos dizendo muito sobre relacionamento humano... sobre nossa condição humana.
Cabe observar que a imagem do monstro para dizer a experiência de relacionar-se em qualquer dimensão da vida tem um caráter "positivo" ou pelo menos ambíguo . A imagem, do monstro pressupõe tanto complexidade quando dificuldade. Isso faz parte do relacionar-se...
Através de Some Kind of Monster compreendemos melhor a mensagem de St. Anger. Agressividade e raiva, em alguns momentos de qualquer relacionamento se fazem presentes. Podemos lidar com isso de modo destrutivo e negativo o8u simplesmente aceitar que nada é perfeito nesse mundo e a raiva pode nos impulsionar para uma dinâmica mais completa, mais "verdadeira"(!) , em nossos relacionamentos com a gente mesmo e com os outros.
A raiva realmente pode ser santa quando bem direcionada por uma opção pela vida inteira que somos...

sexta-feira, 21 de março de 2008

O AMOR DA LUA

Uma janela aberta
No colo da noite
Me ensina
O dedilhar de sombras,
O carinho da lua
E o abraço do vento
No delicado do orvalho.
Em tudo sou finitude
Na felicidade
Da matéria mãe
E da essência de carne
Em que invento mundos.

GOSTO DE NOITE

Gosto do gosto
Dos meus silêncios,
Dos meus gritos ocultos
No gasto tempo passado.

Um gato percorre
Uma janela noturna
Miando noites escondidas
Dentro de mim.

Em limites e ilusões
De um fechado céu
De vida e morte
Me aguardo em desencontro
E encanto de pós-verdades.

IMAGENS DE INFÂNCIA OU ALEM DO FREUDISMO



Quando me recordo dos dias distantes e perdidos da infância, ao lado da memória de pessoas, coisas e lugares, guardo viva a experiência da ocorrência até aproximadamente os dez anos de mágicos pesadelos sem qualquer referência com a vida real e concreta, cheios de paisagens e criaturas fantásticas. Revelações, me parece hoje, de um universo irracional do qual hoje restam apenas fragmentos, mas que , de algum modo, codificaram o sabor vivo do mundo do meu ser criança.
Há uma dimensão do acontecer da infância que nada possui de pessoal, que é puro encantamento e sonho diurno. Todo aprendizado de mundo e formação ou construção egóica torna-se alienação de si mesmo quando a pensamos como uma dimensão inalienável da experiência humana. A vida instintiva e simbólica pressupõe afinal uma parcela inalienável da condição humana. Como a vivenciamos faz muita diferença...

quarta-feira, 19 de março de 2008

LITERATURA INGLESA XXII


Mesmo sem ter lido uma única página de qualquer um de seus quase cem livros não sou indiferente a obra do recém falecido escritor e inventor britânico Arthur C Clake. (1917-2008). Como muitas pessoas meu primeiro contato com seu pensamento foi a adaptação de uma de suas principais obras de ficção para o cinema: 2001: Uma Odisséia no Espaço dirigido por Stanley Kubrick (1968) e 2010: O ano em que faremos contato, dirigido por Peter Hyams.
Mas, mesmo apenas de modo indireto, a imagem viva de seu imaginário, onde ciência e ficção se misturam em uma rica leitura das possibilidades humanas, não deixa de fascinar enquanto possiblidade otimista de leitura do destino humano.
Stanley Kubrick parece ter conseguido “traduzir” com louvavel competência a obra de Clake que, diga-se de passagem, participou ativamente da construção da versão cinematográfica. Mas prefiro não ir mais longe nesta pequena homenagem aquele que foi no século XX o maior mestre da ficção cientifica .

CONTEMPORANEIDADE: INVESTIGAÇÕES PROVISÓRIAS DE UM SENTIMENTO DE MUNDO

A noção de contemporaneidade ou de tempo do agora, tal como eu entendo não é um mero sinônimo para o tempo presente. Ela não se destina a definir, rotular ou, de alguma maneira, racionalmente ordenar ou explicar o aqui e agora do mundo em que vivemos. Com tal expressão pretendo apenas traduzir o sentimento de estranheza, de desenraizamento, que nos define desde as crises da representação e metamorfoses da linguagem ocorridas nas primeiras décadas do séc XX, seja através das vanguardas artísticas ou dos revolucionários estudos sobre lingüística que aos poucos abalaram nossa ingênua premissa de um harmonioso relacionamento entre discurso, realidade e verdade.
Ser contemporâneo, portanto, é de muitas maneiras sentir-se hospede em sua realidade individual e coletivamente vivida, é estar aberto a todos os ventos, as múltiplas presenças que nos invadem a consciência e imagem das coisas, seja através da tela do computador, da televisão ou simplesmente no cotidiano percorrer de ruas e prédios cada vez menos reais ou dotados de clara significação.
A contemporaneidade é, por tudo isso, uma instabilidade ontológica, um niilismo discreto, onde qualquer racionalidade possível pressupõe um vislumbre de dês-razão nas peripécias da representação e significação de um real que já admitimos como uma mera convenção de nossas imaginações.
A contemporaneidade é, em uma única frase, o aleatório e provisório movimento da própria existência em uma finitude despida de eternidade e coberta de indefinido.