É universalmente difundido o mitologema da Terra Mater ou Tellus Mater, que origina todos os seres vivos e inanimados. Enquanto Genetrix universal , a terra seria uma entidade viva e fecunda e tudo por ela produzido seria a um só tempo orgânico e anímico. Tudo o que encerra em suas entranhas seria comparável a embriões, a seres vivos em vias de “amadurecer”, de crescer e desenvolver-se. Imagem que influência profundamente, por exemplo a simbólica da alquimia ocidental.
Na coletânea de ensaios MITOS, SONHOS E MISTÉRIOS do consagrado historiador das religiões Mircea Eliade podemos encontrar um interessantíssimo ensaio sobre o tema cujo uma passagem gostaria de reproduzir aqui:
“Que os humanos tenham sido gerados pela terra é uma crença universalmente difundida: Só precisamos de folhear alguns livros escritos sobre este assunto, por exemplo “Mutter Erde” de Dietrich, ou “ Kind und Erdre” de Nyberg. Em numerosas línguas, o homem é chamado: “nascido da terra” (Canções russas, mitos dos Lapões e dos Estónios, etc.- Dietrich, pág. 14). Acredita-se que as crianças “vêem” do fundo da Terra, das cavernas, das grutas, das fendas, mas também dos mares, das nascentes, dos ribeiros. Sob a forma de lenda, de superstição ou simplesmente de metáfora, crenças similares sobreviveram ainda na Europa. Cada região e quase cada cidade e aldeia conhece um rochedo ou uma nascente que “traz” as crianças: são Kinderbrunnen, Kinderteiche, Bubenquelen ( Diretrich op cit, págs 19 e segs., 126 e segs)
Evitemos crer que estas superstições e estas metáforas são só explicações para crianças. A realidade é mais complexa. Até entre os Europeus dos nossos dias sobrevive o sentimento obscuro de uma solidariedade mística com a Terra natal. Não se trata de um sentimento profano de amor pela pátria ou pela província natal; não é a admiração pela paisagem familiar ou a veneração dos antepassados, enterrados desde há gerações à volta das igrejas das aldeias. Existe um aspecto diferente: a experiência mística da autoctonia, o sentimento profundo de que se emergiu do solo, que se foi gerado pela Terra da mesma forma que ela fez nascer, com uma fecundidade inesgotável, rochedos, ribeiros, árvores, flores. É neste sentido que se deve compreender a autoctonia: sentimo-nos pertencer à gente da terra, e ai está um sentimento de estrutura cósmica que ultrapassa em muito a solidariedade familiar e ancestral. Sabe-se que em numerosas culturas o pai desempenha um papel apagado: limita-se a legitimar a criança, reconhecê-la. Mater semper certa, pater incertus.
(Mircea Eliade. Mitos Sonhos e Mistérios.Portugal: Edições 70, s/d, p. 140)
Na coletânea de ensaios MITOS, SONHOS E MISTÉRIOS do consagrado historiador das religiões Mircea Eliade podemos encontrar um interessantíssimo ensaio sobre o tema cujo uma passagem gostaria de reproduzir aqui:
“Que os humanos tenham sido gerados pela terra é uma crença universalmente difundida: Só precisamos de folhear alguns livros escritos sobre este assunto, por exemplo “Mutter Erde” de Dietrich, ou “ Kind und Erdre” de Nyberg. Em numerosas línguas, o homem é chamado: “nascido da terra” (Canções russas, mitos dos Lapões e dos Estónios, etc.- Dietrich, pág. 14). Acredita-se que as crianças “vêem” do fundo da Terra, das cavernas, das grutas, das fendas, mas também dos mares, das nascentes, dos ribeiros. Sob a forma de lenda, de superstição ou simplesmente de metáfora, crenças similares sobreviveram ainda na Europa. Cada região e quase cada cidade e aldeia conhece um rochedo ou uma nascente que “traz” as crianças: são Kinderbrunnen, Kinderteiche, Bubenquelen ( Diretrich op cit, págs 19 e segs., 126 e segs)
Evitemos crer que estas superstições e estas metáforas são só explicações para crianças. A realidade é mais complexa. Até entre os Europeus dos nossos dias sobrevive o sentimento obscuro de uma solidariedade mística com a Terra natal. Não se trata de um sentimento profano de amor pela pátria ou pela província natal; não é a admiração pela paisagem familiar ou a veneração dos antepassados, enterrados desde há gerações à volta das igrejas das aldeias. Existe um aspecto diferente: a experiência mística da autoctonia, o sentimento profundo de que se emergiu do solo, que se foi gerado pela Terra da mesma forma que ela fez nascer, com uma fecundidade inesgotável, rochedos, ribeiros, árvores, flores. É neste sentido que se deve compreender a autoctonia: sentimo-nos pertencer à gente da terra, e ai está um sentimento de estrutura cósmica que ultrapassa em muito a solidariedade familiar e ancestral. Sabe-se que em numerosas culturas o pai desempenha um papel apagado: limita-se a legitimar a criança, reconhecê-la. Mater semper certa, pater incertus.
(Mircea Eliade. Mitos Sonhos e Mistérios.Portugal: Edições 70, s/d, p. 140)