sexta-feira, 31 de março de 2017

A REALIDADE AINDA FAZ SENTIDO?

Caminhar em um solo cognitivo minimamente seguro é um objetivo ingenuo na contemporaneidade. Vivemos em tempos de incertezas existenciais, sociais, politicas e epistemológicas. Substituímos o bem estar das metanarrativas e a pretensão a grandes verdades totalizantes pelo franco reconhecimento dos limites de nossas praticas discursivas.
O antídoto para a metafisica das palavras-verdades, sustentáculo dos enunciados de um sujeito cogniscente introspectivo que se impõe como medida do próprio conhecimento, tão característico da modernidade desde Descartes, foi substituído pela pluralidade de discursos e de perspectivas cognitivas, que se voltam para uma reflexão sobre a possibilidade do próprio conhecimento positivo da realidade. Em muitos casos, sem constituir um discurso com pretensões à Verdade.
Já não é o sentido da História ou um desvelamento da natureza que buscamos significar ou representar, mas a própria experiencia de domesticar o real através de codificações e símbolos, o próprio entendimento das coisas, é que parece questionável. O que hoje nos perguntamos é se o mundo que socialmente inventamos todos os dias ainda precisa fazer algum sentido.
Talvez os outros animais sejam mais felizes do que nós humanos. 



quinta-feira, 30 de março de 2017

EM TEMPOS DE INCERTEZAS

Não adianta buscar uma estruturação pragmática do real quando nossas representações de mundo e significações da existência ignoram o desenraizamento ontológico que nos define a contemporaneidade.

A vida anda cada vez mais opaca e indiferente às teleologias totalizantes e a existência torna-se nômade em meio a vastidão de nossas incertezas.

INDIVIDUALIDADE E VIDA PRIVADA

Em grande medida participamos de atitudes mentais que transcendem e contem nossas configurações individuais,que  nos confrontam o tempo todo com conteúdos impessoais. Mas é justamente a constante tendência a transgressão destas atitudes, nossa inadequação aos papéis sociais que nos são impostos, seja pela época ou pela cultura, que condiciona a grau de singularidade e autenticidade que cada um é capaz de alcançar.

Nossa auto imagem  depende de certa recusa dos códigos sociais em nome de nossos impulsos e tendencias mais pessoais. Estamos condenados a nossa vontade. É isso que basicamente nos define como indivíduos , o instável relacionamento que mantemos com a realidade social e coletiva. Tendemos a diferenciação, mesmo em sociedades massificadas  onde a padronização comportamental, mediante a universalização de um padrão de consumo minimo de bens simbólicos, condicionam a reprodução de nossa existência.

Aqueles que tendem a individuação percebem de modo mais intenso as fronteiras entre as ações inerentes ao espaço público da vida social e aqueles destinados  a vida privada. Considera-se aqui o espaço privado, não como aquele domínio da existência consagrado a família ou a administração domestica, mas como o campo existencial definido por nossas inquietações, angustias, sonhos, fantasias, medos   e desejos.

O cultivo de si mesmo é o que define o hedonismo  do viver privado. O que lhe proporciona um caráter irracional, não planejado e não pragmático, mas essencialmente lúdico, confessional e deliberado. 

segunda-feira, 27 de março de 2017

SEJA VOCE MESMO



A consciência de  existir me obriga a me tornar quem eu sou.

Assim me  faço no tempo e no espaço.

Sou em meus vazios, faltas e possibilidades,

Estou sempre inacabado,

 em movimento....

Contra e através do mundo

Simplesmente existo

Aprendendo a ser o que sou 
buscando saber quem eu sou.


quarta-feira, 22 de março de 2017

RELATIVISMO X FUNDAMENTALISMO COGNITIVO

Hoje em dia a pluralidade tornou-se praticamente uma artifício cognitivo fundamental contra os unilateralismos ideológicos. A aceitação da possibilidade de olhares múltiplos sobre qualquer tema, em um mundo onde afloram fundamentalismos, pode ser tomada como uma premissa importante para qualquer codificação sensata do real ou consideração de qualquer tema.

Não é novidade que qualquer filtro ideológico, e até mesmo metodológico, sempre induz a teleologias. A perspectiva relativista, por outro lado,  não nivela ao mesmo nível todas as leituras possíveis de um dado fenômeno, mas estabelece que um único ponto de vista não é suficiente para apreende-lo em sua totalidade.

Discursos com pretensão à legitimação a partir do paradigma da Verdade são aparentemente incompatíveis com tal tese. Mas apenas aparentemente se considerarmos que não se defende aqui nada diferente de uma abordagem multidisciplinar onde diversas ordens de discurso dialogam para enriquecer uma narrativa aberta.

Cada um de nós produz enunciados inspirados em algum discurso de realidade que condiciona nossas conclusões subjetivas. O fato de reconhecermos outras possibilidades de enunciados não nos torna menos convictos de nossas conclusão, mas apenas cientes de sua incontornável parcialidade.

ACONTECIMENTOS: BREVE ROTEIRO DE EXPERIENCIA



Gostaria de poder falar intimamente dos fatos, descreve-los como quem faz boa literatura. 


Pode-se explorar um acontecimento em sua singularidade, ignorando seus contextos e condicionantes. Um acontecimento é um labirinto. Pouco adianta lhe impor causalidades. É preciso, em lugar de explica-lo, percorre-lo como fato multifacetado em suas dinâmicas efêmeras. 


Vivemos perdidos em meio a nossas estratégias de significação das coisas fazendo de conta de que tudo faz sentido. Mas só existem acontecimentos amontoados e desarticulados se acumulando como degradada experiência perdida de um momento de realidade. Uma realidade que deixou de dizer uma ordem de mundo ou qualquer iminência de continuidade e futuro  

OS LIMITES DA CONSICENCIA



Esta suposta consciência de mim
Não me diz o mundo.
Não é suficiente, se quer,
Para expressar meu volúvel
Sentimento das coisas.
Não basta para lidar com o tempo
Que passa
Ou com todos os silêncios que me habitam.
É quase nada.
É quase nada este eu que me define em um nome
Através do infinito das minhas pequenas coisas.

segunda-feira, 20 de março de 2017

O FIM DO SENTIDO HISTÓRICO




A interpretação do passado inspirada pela modernidade, impõe a gramática da história o acontecer do Homem no tempo através de culturas e sociedades diversas, uma periodização linear das épocas recortadas e organizadas pela ideia de evolução e progresso. Mas, em sua vertiginosa pluralidade de fenômenos, o acontecer dos Homens no tempo resiste às narrativas da modernidade.
 
Poder-se-ia dizer, de modo provocativo, que todo tempo é tempo da natureza e que o devir humano não é o centro da ação do tempo e, muito menos, o Homem pode ser pensado fora da natureza.



Assim, os eventos históricos, inventados sob a inspiração de valores e intencionalidades modernas, não passam de meta narrativas cuja teleologia anula o passado como memória e silêncio, convertendo o tempo presente ao efeito que explica a causa, ou o passado em seu apêndice do presente.


Mas hoje, quando nossa consciência do tempo já não sofre tanto o peso das teorias do progresso e do cientificismo oitocentista, ela pode ser, de certa maneira, menos dependente das representações do passado.
 As codificações da memória coletiva, cada vez mais definidas por uma sensibilidade que toma por referencia a experiência vivida de um presente estendido, toma o passado como o inteiramente outro de si mesmo.
O passado é o exótico distante e perdido da experiência humana cuja contemporaneidade se dá como citação, como imagem/ objeto de referencias fragmentadas que não apontam para revelação de qualquer identidade, ou, ainda,sentido totalizante ou “evolutivo”. 

Sem um propósito histórico, o passado deixa de ser um instrumento do presente da forma-homem, para se tornar um território distante e estranho cujos ecos tentamos escutar por simples diletantismo.

A filosofia da Historia de Hegel nunca nos pareceu tão datada e o historicismo tão inútil.
 
A história não existe......

sexta-feira, 17 de março de 2017

SIGNIFICAÇÕES E INTERPRETAÇÕES OU O ABISMO DO SIGNIFICADO



O mundo é feito de intermináveis significações que se escrevem de maneiras distintas em uma pluralidade de ordens discursivas. Isso é o  mesmo que dizer que nossos enunciados só fazem sentido em função da percepção de seus destinatários. Assim, o que digo não  importa diante daquilo que é comunicado.  Sua compreensão depende das configurações de leitura do receptor. Hipoteticamente ele vive de enunciados distintos e traduz os meus para sua própria gramática a partir de um padrão de significações e tonalidades afetivas. Da mesma forma, não sou visto pelos outros da mesma forma como me vejo. Quanto mais tentamos nos comunicar e nos aproximar mais distantes nos tornamos. Esta distancia é o próprio significado vivido por cada um nesta experiência. Isto também se aplica aos hipotéticos leitores desta linha. Jamais farão uso deste paragrafo a partir da intencionalidade que inspirou sua escrita. O jogo da interpretação e significação é perverso...