quinta-feira, 30 de julho de 2009

A PÓS MODERNIDADE DA RELAÇÕES AFETIVAS: UM ESBOÇO


Desbotado e roto o amor romântico deixou de expressar ou codificar satisfatoriamente nossos mais generosos sentimentos de privada alteridade. Emoções e sentimentos, o irracional da vida, no tempo presente, já não são mais domesticadas por códigos de representações e sensibilidades inspiradas em estereótipos coletivos.
Já não seguimos em nossos relacionamentos padrões coletivamente cultivados sobre aquilo que devemos buscar ou realizar em um relacionamento. Neste campo da vida, aprendemos a ser pragmáticos, a investir mais no cotidiano conflituoso das trocas afetivas possíveis entre o “eu” e o “outro”, do que nas fantasiosas expectativas definidas por carências emocionais e idealizações de relacionamentos perfeitos.
Em linhas gerais, a grande novidade do tempo presente é que aprendemos que emoções e sentimentos são grandezas psíquicas que vivem mais em função de sua própria dinâmica interna do que da auto realização de seus portadores.
No plano dos jogos emocionais e de intimidade o amor secularizou-se no deslocamento das subjetividades... Eros se reinventa em nossos dias...

PERSPECTIVAS

Passo à tarde
Rascunhando o futuro
No latente desejo
De escrever meu tempo
Em coloridas páginas
De vida.

Fosse hoje outro dia,
Talvez me perdesse
Do rosto
No desconhecido de estradas,
Mergulhasse em labirintos
De antigas buscas
Reinventando a existência
Em desconstruções de mim mesmo...

terça-feira, 28 de julho de 2009

TEMPO E MOMENTO

Brincando com palavras
Aprendo que nada mudará
Meu mundo
Na magia do tempo que passa
Fazendo meu eu múltiplo
No espaço vivo de cada pessoa.

Toda realidade é intercâmbio
De sentimentos e sensações
Que se vão com o vento
No vago da própria vida
Em duradoura sintonia
De mero momento....

segunda-feira, 27 de julho de 2009

PRELUDE

Atravesso a rua
Apressadamente
Sem tempo
Para pensar,
Indo ao encontro
De um pequeno destino
De momento
Que nada diz a biografia...

Imerso na multidão,
Percebo o quanto
Levamos a vida
Entre apostas e fatos
Enquanto o mundo
Passa por nós em silêncio...

domingo, 26 de julho de 2009

A LEX BY SEPULTURA AND A CLOCKWORK ORANGE

Nas faixas do album A LEX do Sepultura encontramos uma expressão singular e violentamente lírica da sensibilidade pós moderna ou contemporânea de uma confusão de linguagens... Dizendo de outra forma, musica e literatura encontram-se aqui em um caos criativo e agressivo que beneficia a arte como não lugar cotidiano da linguagem, como deslocamento existencial e estranhamento da própria realidade... Neste álbum o rock se faz meta linguagem, extra-territorialidade, realizando o profundo e feliz desconforto sombrio que o texto original de Anthony Burgess nos provoca... Trata-se de uma tradução... talvez a altura daquela realizada por Stanley Kubrick para o cinema, que não contou, infelizmente, com a aprovação do autor...

TÉDIO...

Um vento rasga
O rosto de um sonho
Revelando a paisagem
De um eterno outono
Dentro da viva de cada dia.

Tudo acontece
Opaca e provisoriamente
Ao sabor dos tédios
Que animam as horas.

Tudo é tão banal
Que quase
Não me percebo
Nos fatos abertos
Em mera mesmice...

POP POEM


Ícones,
Ídolos
E mitos
Consomem o real
Desfazendo a realidade
No vento
Até o sonho
Tornar-se concreto.

Sacralizado no imaginário
Das multidões,
O indivíduo torna-se
Símbolo vivo
Da aventura humana.

A fama de particulares rostos
Veste nossas personas
Famintas de singularidade
E da paz de jardins ingleses...

sábado, 25 de julho de 2009

LITERATURA INGLÊSA XLVII


Dentre todas as literaturas do mundo, a de língua inglesa é a mais prodigiosa em vozes femininas, fato que constitui uma de suas mais atraentes peculiaridades. Um bom exemplo disso é a obra da britânica neo-zelandesa Katherine Manfield ( 1888-1923) que pode ser considerada uma das maiores ficicionistas do séc. XX.
Sua matéria são histórias curtas; contos, ou short stories and long short stores, em que explora com singular sensibilidade e simplicidade o pouco do dia a dia, a profundidade inerente a experiência do banal através de personagens comuns através dos quais nos defrontamos com o mais profundo da condição humana nas pequenas coisas... Justamente por isso sua narrativa é econômica, direta, desconcertadamente coloquial no dizer do mais profundo da vida.
Katherine viveu no inicio do século passado uma vida bastante atribulada. Seja do ponto de vista afetivo,sexual ou social. Casou-se e divorciou-se em um único dia, sofreu um aborto e experimentou diversas relações homo e hetero sexuais em um tempo em que a condição feminina ainda era prisioneira de uma caprichosa cultura falocrática. Com apenas 34 anos encontrou a morte através da tuberculose deixando para traz uma experiência de intensidade da vida que se traduziu magistralmente em seu universo literário.
Não por acaso, a publicação póstuma de seus diários, álbuns de recortes e epistolas, gerou uma vasta bibliografia.
A festa ( The garden party) é um de seus contos mais famosos e lidos e, diga-se de passagem, um de meus favoritos. Neste, a simultaneidade da vida e da morte, da alegria e da tristeza na paisagem do se fazer humano, nos surge sem filosofias através da sensibilidade e lirismo da pequena Laurie... Em poucas palavras, o que Katherine nos oferece em sua simplicidade é uma reflexão sobre a complexidade do banal de cada dia... Devo-lhe pessoalmente muito por isso, como leitor e admirador inconteste.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

PALAVRA ENIGMA


Não sei onde me leva o esforço de cada palavra em verso e prosa. Sinto, apenas, que o discurso, a letra,me ultrapassa na construção de um pensamento que me desconstrói, que se impõe como experiência do ilegível abstrato da condição humana.
Procuro sondar a sombra dos textos, buscar-me em seus vazios na contramão de enunciados e sentidos.

Talvez, se o conseguir, compreenda plenamente o universo que se expande caótica e aleatoriamente em meus castelos de textos inúteis...

ACROSS THE UNIVERSE...

DARE TO DREAM YOUR LIFE....


A condição humana
espalha-se ao infinito
no múltiplo de cada indivíduo

Mas nada que digo
Explica meu mundo
Nas contradições das circunstâncias...

A cada segundo
Qualquer outra possibilidade
De mim mesmo
Surge ao acaso
De cada momento,
Qualquer novo sentimento
Ou leitura de realidade...

É como se a matéria da vida
Fosse um tipo estranho de sonho...

DARE TO DREAM YOUR LIFE...
IMAGINE IS REALITY.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

SOBRE O MAGO WIZ E O REINO DE ID





As tiras de quadrinhos do Mago Wiz, ambientadas em uma anacrônica Idade Media, são um divertido exemplo da apreensão contemporânea do passado como alegoria, tendência cada vez mais influente sob nossa percepção e consciência do tempo presente.
Criado em New York no distante ano de 1964 por Brant Parker e Johnny Hort, o Reino de Id e suas cotidianas situações bizarras, nos fala essencialmente sobre adaptação e sobrevivência em um mundo sutilmente disfuncional, mergulhado em um obscurantismo, temperado por certo cinismo, que nos parece estranhamente familiar. Afinal, trata-se na verdade do obscurantismo do nosso próprio tempo...

ENTRE OS ATOS

Há um espaço vazio
Entre os atos,
Um lapso existencial
Que não se diz,
Que não se explica
E cala no pensamento
Como intimo segredo...

Mas trata-se apenas
De um nada,
Do banal indizível
Que assombra a existência
No frágil de todo
Possível cotidiano significado
Das coisas ...

terça-feira, 21 de julho de 2009

LITERATURA INGLESA XLVI


Anthony Burgess (1917-1993) iniciou-se tardiamente na carreira literária ao publicar, já com 38 anos, seu romance de estréia: Time for a tiger ( 1956), primeiro volume de uma triologia conhecida como o ciclo The Malayan Trilogy, complementada por The Enemy in the Blanket e Beds in the East.
Apesar de no inicio dos anos 60 ter sofrido o diagnóstico de um complicado tumor cerebral acompanhado pela triste estimativa de um ano de vida, Burgess faleceu apenas aos 76 anos, em 1993, deixando uma obra extensa e significativa no cenário da literatura inglesa do séc. XX.
Embora não seja, segundo o próprio autor, seu livro mais importante, A Clockwork Orange ( Laranja Mecânica) é certamente a mais polêmica, em parte devido a sua adaptação heterodoxa para o cinema pelo celebre e imortal diretor Stanlery Kubrik.
Normalmente comparado a 1984 de George Orweel e ao Admirável Mundo Novo de Aldows Huxley, Laranja Mecânica é uma anti utopia, uma pessimista leitura do mundo contemporâneo através de um imaginário futuro totalitário e sombrio erigido sob o signo da violência.
Curioso observar que o titulo inspira-se em uma expressão anglo-saxã "As queer as a clockwork orange", ou, em uma tradução livre, "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica". Sua concreta inspiração, entretanto, é o universo dos então corriqueiros conflitos, ocorridos em inicio dos anos 60, nas urbanas paisagens londrinas entre as gangues dos Mods e dos Rockers, duas “tribos juvenis” de origem operária inspiradas por diferentes estilos musicais. Os primeiros se vestiam com roupas de grife e cultuavam um rock agressivo de bandas semelhantes ao Who, enquanto os Rockers, com seus casacos de couro, preferiam o rock dos anos 50, principalmente Elvis, e filmes como “O selvagem da Motocicleta”.
Marcado por esta peculiaridade de época, Burgess imaginou um mundo futuro não muito distante onde a violência destas gangues e juvenis teria se radicalizado ao ponto de gerar não só um cotidiano violento, como também um aparato estatal repressivo sem limites.
De alguma maneira tal questão, aparentemente datada, nos é muito familiar uma vez que a violência é uma linguagem, de muitas maneiras e formas, dependendo do país e lugar, cada vez mais marcante e condicionadora do cotidiano contemporâneo.
Apesar disso, esta perturbadora narrativa literária deve ser compreendida como um romance de iniciação juvenil nas paisagens deste alegórico e cruel futuro imaginário. Isso pode parecer bem evidente caso consideremos a estruturação da obra em três partes, cada qual composta por sete sub- divisões totalizando 21 capítulos, numero que corresponde a maioridade etária na cultura anglo-saxã.
Através da trajetória de sua principal personagem, o jovem Alex, também narrador e ex líder de uma gangue extremamente violenta e transgressora, que acaba se transformando em uma vitima de um mundo tão violento e perverso quanto ele, nos deparamos com os paradoxos e absurdos da condição humana, nos defrontamos com os limites da moralidade vigente, na mesma medida que nos surpreendemos com a maturidade conquistada pelo narrador/personagem após um tortuoso e bizarro caminho...
Uma peculiaridade da narrativa que nos provoca um certo desconforto ou estranhamento na leitura é o uso do “natsat” dialeto das gangues utilizado por Alex que mistura inglês popular, russo e gíria cigana.
Poupo o leitor de importantes detalhes da narrativa optando por uma apresentação superficial e não muito analítica no intuito de apenas despertar interesse pela leitura da obra que, vale a pena insistir, não oferece um panorama significativo do universo ficcional do autor ora comentado...

CRÔNICA RELÂMPAGO LVIX


Pode parecer mera retórica boba, mas não pensar em nada, entregar-se ao ócio, é um modo de refletir através de silêncios e vazios sobre tudo que nos define nos dias de mundo.
Quando estamos de férias nunca descansamos, apenas administramos o tempo livre que temos sem a ditadura do relógio e da agenda para meramente nos ocuparmos de contextos privados/ familiares que nos prendem. Apenas substituímos obrigações e compromissos ignorando, como de costume, os muitos “eus” dos quais nos perdemos ao longo da realização do destino, estes restos de personalidades alternativas e possibilidades que nos acompanham como silenciosas ansiedades. ..
O que sei é que nunca é suficiente estar-se de férias sem previamente traçar um roteiro de labirinto que nos leve a uma relação provisoriamente nova entre o eu e o tempo, entre o ser e estar da vida...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

SEXO,DROGAS E ROLLING STONES



“ Quando vem até você outros caras, mais jovens, você percebe que é apenas parte de uma longa procissão de trovadores e menestreis e contadores de histórias que existe desde sempre. De certo modo, você tem a sensação de que faz parte de uma estranha fraternidade. Só que ninguém tem carteirinha. Não existem apertos de mão secretos.Mas você sente uma sensação maravilhosa de continuidade que se estende até o passado pelas brumas do tempo.E você é apenas um daqueles caras que contaram uma história e trouxe felicidade as pessoas, e cantou sua música, e eles cuidaram bem de você pelo prazer que receberam.
Keith Richards, Uncult, janeiro de 2002.

“Não tenho responsabilidade alguma em relação a quem quer que seja Nunca falei por uma geração, mas somente em meu nome. Não sou um homem político, não fui eleito para cumprir uma função ou para trabalhar pelo interesse coletivo. Minha única responsabilidade é no palco, para com o público: que ele ouça bem ( o show ), que ele assista a um bom espetáculo, e que esteja em segurança. O resto não me concerne. Não é porque estou no palco que eu devo ser um porta-voz. Se os Stones algum dia tiveram uma importância política, foi pela causa do sexo. Fazer campanha pela liberação sexual nos anos 60 era um ato político.”
Mick Jagger, Lui, setembro de 1996.


( In Jose Emilio Rondeau, Nélio Rodrigues. Sexo, Drogas e Rolling Stones: Histórias da banda que se recusa a morrer. RJ: Agir, 2008, p. 337 )

Escrito por Jose Emilio Rondeau e Nelio Rodrigues, SEXO, DROGAS E ROLLING STONES, já pode ser considerado uma obra clássica na extensa biografia sobre cultura popular, música e século XX. Ao investigarem a trajetória da maior banda de rock clássica ainda em atividade, cabe alertar que o livro dá uma especial atenção as várias passagens, seja em shows ou em visitas individuais de seus membros, ao Brasil. Mas também oferece com competência um panorama geral da carreira da mega banda através de uma periodização que abrange os anos iniciais entre 1962 e 1965, a maturidade alcançada entre os sombrios anos de 1966 e 1970, a consagração absoluta entre 1971 e 1976, o quase fim entre 1977 e 1988 e a surpreendente contemporaneidade entre 1989 e 2007.
Trata-se, obviamente, de uma narrativa mais descritiva do que analítica, voltada especialmente para os fatos relevantes e curiosos acumulados ao longo dos 47 anos de carreira dos Stones.
Mas mesmo tratando-se de um ensaio biográfico, evidentemente, o livro nos fornece bons subsídios para avaliar e pensar o lugar dos Rolling Stones na ainda jovem história do rock and roll e principalmente da evolução clássica do rock britânico.
Pessoalmente, eu diria que entre Beatles e Who, os Stones são uma das princiapais matrizes elementares do rock britânico em sua formula clássica. Em seu caso, a musicalidade do novo estilo ainda é direta e radicalmente condicionada as suas raízes no blues e R&B resultando em um rock mais primitivo e cru que fala mais diretamente ao corpo do que a sentimentos e pensamentos.

A PRIMEIRA| VIAGEM A LUA: 40 anos depois II


Quarenta anos depois, pode-se dizer que obras de ficção cientifica são hoje mais importantes do que o qualquer pouso humano na lua. Afinal, a corrida espacial, iniciada nos anos 60 do último século, foi inspirada pelas mesmas duvidosas razões que sustentavam a corrida armamentista do antigo mundo bi-polar dos tempos de guerra fria. Por mais surpreendente que possa parecer as gerações mais novas, as missões Apollo, que culminariam na chegada americana do homem a lua, não foi inspirada na busca pelo progresso técnico cientifico e não merece qualquer lugar relevante na história das ciências do séc.XX. Trata-se, na verdade, de um triste capítulo de sua história política.
Do ponto de vista do imaginário epocal, a eleição de uma viagem a lua como meta política só é explicável pela simbólica da aventura e da vitória sobre o impossível. Mas mesmo como mito contemporâneo, a médio prazo a façanha revelou-se vazia e desproposital. Não por acaso os contemporâneos sonhos de retomar e ampliar o feito através de uma viagem tripulada a marte agonizam em meio a crise econômica e cortes orçamentários da NASA.
No fundo, o que há de mais revelador em tudo isso é que, em nosso tempo presente, já não há mais lugar para otimistas projeções de futuro. Estamos tão mergulhados em nosso momento coletivo, cada vez mais elástico, que ao contrário de nossos pais e avós, não nutrimos a ilusão de projetar no futuro a solução otimista de nosso presente para melhor moldar o passado.

ÓCIO

Nada me falta
Neste instante
Enterrado sob
O alvoroço do mundo.

Basta-,me estar
Aqui e agora,
Não penar
Em qualquer outra coisa
Alem do vento
Animando os objetos
Em volta,
O cheiro da manhã vazia
E o vazio profundo
Dos meus desejos.

Nada me falta
Em rosto desfeito
E deitado sobre os fatos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

TO BE


Existo dentro do vento
Nas múltiplas direções
De um céu aberto
Em riso.

Percorro o mundo
Em aventura de imanências
Respirando as cores e sabores
Da mais crua existência.
Nada faz mais sentido
Do que o aleatório acaso
De cada momento
Em múltiplo movimento
De desarticulados atos
Em tempo e espaço.

A PRIMEITA VIAGEM A LUA: 40 anos depois.


"É um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade.”
Neil Armstrong

A Missão Apolo 11, iniciada em 16 de julho de 1969, completou esta semana 40 anos em rememorações marcadas por certa melancolia...
Produto da guerra fria, mais do que da crença no progresso técnico-cientifico, o histórico feito da nave da NASA, composta pelo módulo de comando Columbia e pelo módulo lunar Eagle, tripulada pelos astronautas Mike Collins, Buzz Aldrin e Neil Armstrong, comandante da missão, com duração de oito dias, em um olhar retrospectivo, apesar de determinante para a introdução de um novo padrão tecnológico no cotidiano do homem ocidental, não desperta muito entusiasmo.
Afinal, quarenta anos depois, já não desfrutamos do ingênuo otimismo de época que, apesar de todos os seus absurdos, como a guerra do Vietnã, que na ocasião chegava ao fim, ou a própria corrida armamentista, que profundamente lhe configurou, conseguia sustentar uma atmosfera e imaginário de esperanças e sonhos de futuro, como demosntram, por exemplo, os movimentos de juventude que então sacudiam o mundo.
O fato é que, felizmente ou infelizmente, não nos é possível, em nosso tempo presente, sustentar apologias a qualquer filosofia do progresso sem boa dose de burrice ou ingenuidade. Vivemos, afinal, sob o signo sombrio do mito do aquecimento global e das incertezas de humanidade...
Se quer prestamos atenção na Lua como imagem estético/poetica ou somos seduzidos pela evasão existencial propiciada pelos sonhos de onerosas conquistas espaciais.
Sabemos que o universo, surpreendido em expansão e tão estranho ao fenômeno humano, se quer nos percebe em sua meta racionalidade de acasos.
Em poucos palavras, o pequeno passo do homem na lua em liberdade da não gravidade, converteu-se em um salto para o abismo em nossas atuais vivências e narrativas de um mundo, cada vez mais ilegível onde a contra-cultura se refaz através do niilismo mais criativo como uma simples modalidade de pós-modernismo...

JOHN LENNON, IMANÊNCIA E INDIVIDUALIDADE HUMANA


John Lennon não formulou nada mais através da musica do que a própria individualidade em função do enfrentamento do tempo presente pela afirmação de si mesmo. Creio que é justamente isto que torna sua memória fascinantemente contemporânea... Ele não tinha nada mais precioso ou substancial para legar ao tempo futuro do que a simplicidade e complexidade de existir. Isso o torna um símbolo da cultura do século XX, dos seus impasses e dilemas entre a afirmação da singularidade e liberdade de cada um e a afirmação do poder das meta narrativas, “ideologias” , totalitarismos e violências coletivas.
Reunir fragmentos de entrevistas de John Lennon aqui, torna-se por isso um inspirador exercício de afirmação de singularidade humana, a busca do eco em caleidoscópio de momentos, de alguém que conseguiu transformar arte em afirmação de si mesmo... e apostar que cada um pode viver seu próprio sonho... em imanência.

“ Uma parte de mim suspeita que sou um perdedor e outra parte de mim pensa que sou Deus todo poderoso.”
*
“Pense globalmente e atue localmente”.
*
“As pessoas têm de perceber... que ficar nu não é obsceno. O importante é sermos nós mesmos. Se todas as pessoas fossem o que são, ao invés de fingirem que são o que não são, existiria paz.”
*
“A mulher é o negro do mundo/ A mulher é a escrava dos escravos/Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama/ Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem.”
*
“Um artista nunca pode ser absolutamente ele mesmo em público, pelo simples fato de estar em público. Pelo menos, ele sempre precisa ter alguma forma de defesa.”


Fonte: O Pensamento Vivo de John Lennon. Martin Claret Editores.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

DIALOGO


Procuro no espelho
Do inteiramente outro
Do meu mundo
A misteriosa face
Do enigma humano,
Ser em dialogo e liberdade.

Não suporto,
No fundo,
Meu próprio peso
E os limites de estar
Em mim mesmo
Em pensamento e forma
De desatualizadas versões
De eternos monologos.

Viver, afinal,
É a arte do encontro...

CRÔNICA RELÂMPAGO LVIII


Há ocasiões em que, entregue a mim mesmo no se fazer de rotinas, vislumbro mudanças,rupturas ou redefinições intimas nos dias; a busca por uma mais autêntica ou intensa experiência de minha mínima existência.
Visitam-me, então, os fantasmas dos meus eus perdidos pelos labirintos e ventos do caprichoso destino... Os amores que não vivi, as viagens que não fiz, as abandonadas apostas e todas as portas fechadas pelo acaso do acontecer dos anos.
Percebo que muito daquilo que sou deixou de acontecer

segunda-feira, 13 de julho de 2009

TIME IN LIFE....

O tempo acumulado em meus atos não define todos os momentos e anos sonhados de potenciais futuros. Pois tantas são as memórias que elucidam meus percorridos caminhos e destinos, meus passados empilhados no não lugar dos significados vividos ,que sou incapaz de vestir qualquer definição de mim mesmo para dizer minha vida e pessoal apreensão de temporalidade.

" OS ALFINETES DE SLATER NÃO TEM PONTAS" by Virginia Woolf


O pó de um pensamento
Espalhou-se no vento
E levou por toda paisagem
Meu sonho.

Encantou a vida
Em movimento
Escurecendo as certezas
De frias rotinas de ausências
Onde contrariado
Me confronto comigo mesmo
E com os fatos
Em divagações noturnas
Em segredo de lua ...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

BIOGRAFIA E REPRESENTAÇÃO DE MUNDO


Durante muitos anos cultivei o gosto pela leitura de ensaios biográficos. A narração da vida em uma narrativa linear e plena de sentido, representava para mim um confortante exercício de pensamento que sugeria a possibilidade de organização racional do caótico devir da existência humana.
Atualmente, entretanto, a narrativa biográfica, com suas periodizações, compassos etários e reflexões existencialistas, parece-me um empreendimento azas duvidoso.
Falando especificamente sobre seus usuais marcos de existência, ou seja, sobre aqueles decisivos acontecimentos que nos lançam a novos rumos e parecem realizar destinos, já não consigo levá-los muito a sério no transcurso de momentos da construção da individualidade e de uma história vivida.
Afinal, transformações e mudanças são processos permanentes e constantes. A idéia de ruptura não passa de uma ilusão cognitiva de pequeno poder explicativo, mesmo quando nos referimos a acontecimentos determinantes, como uma mudança de endereço/cidade/país, de emprego ou simplesmente um divórcio.
Em que pese seu impacto direto sobre o cotidiano, tal categoria de fatos não se diferencia significativamente de qualquer outra modalidade de ocorrências no interior do fluxo de experiências e mudanças ontológicas que compreendem todo o ocorrer temporal do existir humano.
A idéia de um salto qualitativo aplica-se aqui apenas como uma opção arbitrária, já que os fatos não se encadeiam entre si de modo linear e evolutivo. Nós é que os entendemos ou percebemos de tal maneira.
Acredito que, de modo geral, as representações contemporâneas da experiência biográfica nos conduzem hoje a uma espécie de desorganização das convencionais leituras da existência como realização concreta de um inefável “destino” ou propósito.
O acontecer de nossas vidas já não é tão obvio elegível na medida em que libertou-se do peso das convenções e seus scripts de existência centrados na reprodução cultural da família como principio de vida ou na adequação a personas vinculadas a profissões, ideologias ou religiões...
Afetam o indivíduo contemporâneo à cada vez mais evidente dilatação do tempo presente, a opacidade do passado e de suas representações, bem como os deslocamentos de identidades, sejam étnicas, nacionais, etc. definidas pelo advento da modernidade.
É, aliais, a justaposição de identidades e significados diversos na auto consciência de um mesmo indivíduo no freqüentar de espaços e tempos plurais de existência o fator decisivo para o desgaste da fórmula biográfica.
Se uma biografia, no sentido clássico, é feita de significados e não propriamente fatos, que nos lançam a mitologia pessoal de um determinado indivíduo, hoje em dia já não temos biografias...

GOLD IN THE WOLD....


Procuro o ouro do mundo
Em cada momento
De melancólico suspiro
De tarde cinza no rosto
De um jardim.

Nada é mais profundo
Que o acontecer de flores
E folhagens
Indiferentes a paisagem
Que alem delas
Se faz movimento
E caótico acontecimento.

Tudo que procuro
É a paz perfeita
De um jardim inglês,
Absolutamente sereno,
Colhendo uma tarde
De chuva e pensamento
em teu rosto...

terça-feira, 7 de julho de 2009

ACROSS THE UNIVERSE


ACROSS THE UNIVERSE, musical lançado em 2007 e dirigido por Julie Taymor, é uma mágica aventura pelo universo sonoro inventado pelos Beatles e uma releitura interessante dos conturbados fins dos anos 60 do último século.
Seu roteiro é demasiadamente simples: Jude, um jovem estivador do porto de Liverpool, viaja aos USA em busca do pai que jamais conheceu e acaba se envolvendo com Lucy, uma jovem universitária de classe media. O pano de fundo dos altos e baixos do romance que acontece entre os dois é a cultura, ou contra cultura, juvenil da época, bem personificada pelos dilemas pessoais e coletivos, apostas, sonhos,decepções e dores, experimentados pelo casal e seus amigos.
Creio, entretanto, que apesar deste recorte cronológico e cultural aparentemente datado, a linguagem musical e psicodélica do filme nos é, de algum modo, profundamente contemporânea.
Afinal, cada momento/canção deste filme atípico a emoção e linguagem da musica tece uma narrativa anímica que nos envolve e surpreendentemente transforma musica em vida...
Em outras e poucas palavras, ACROSS THE UNIVERSE faz da música um modo de sentir e viver o mundo através de lirismos e reflexões sugeridas por uma história contada através da musical magia dos Beatles.
De algum modo, esta história participa de nosso tempo presente...

NOTA SOBRE A VELHICE


Tantas são as memórias e rostos que elucidam meus percorridos caminhos, que sou incapaz de vestir qualquer definição de mim mesmo para dizer minha vida. Afinal, sou a soma de muitos eus perdidos, de desmarcados encontros com o destino.
Grande parte de mim perdeu-se em passados não vividos.Sou a viva conseqüência destas perdas e desencontros que em somatório de vazios conduziu-me ao azul do presente em que me transformei na contra-mão do tempo.
Depois de certa idade, os ganhos e vitórias pouco importam e nos dizem pouco sobre o essencial da existência.
É próprio da condição humana desejar futuros para esquecer os passados que atormentam o presente tentando provar juventudes transfiguradas nas canções do vento...

LUDICO, IMANÊNCIA E REPRESENTAÇÕES DA INFÂNCIA


O lúdico é uma modalidade de linguagem... um acontecer de fantasias, que nos afasta do dia a dia e do mundo em um exercício de sem rosto e intensidade de vida.
Quando brincamos e inventamos coisas sem utilidade e propósito, somos de algum modo apenas nós mesmos; não pensamos em nada que não seja o momento vazio de um riso que diga em segredo o mais pleno domínio da realidade.
Este é o mais profundo e significativo acontecimento possível da vida humana na ignorância de certezas, verdades, propósitos e compromissos que nos transcendem como indivíduos que brincam com o tempo, nos transformando em vazios membros de sociedades...

REAL LIFE

Deixo de lado
O exercício
De preencher cada hora
Com memórias de futuros
Escolhidos.

Procuro o presente
Em profundidade
Buscando a vida
No aqui e agora
Dos fatos
Sem a ilusão de vontades
Escritas pelo sabor dos dias
Em meus mais íntimos pensamentos.

Tudo que me importa agora
É o possível da realidade
Em mínimo rosto e persona

domingo, 5 de julho de 2009

NEWSLETERS


O efêmero desfila
Nas folhas soltas
Dos jornais diários
Afirmando a solidez
Do descartável,
Do relativo,
Ou de tudo aquilo
Que se desfaz.

O mundo segue em silêncio
No dizer informal das coisas
Afirmando o absoluto domínio
Do irracional sobre os dias.

Indiferente a tudo,
Mergulho em minhas imanências
...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

2+2=5 by Radiohead....

Uma de minhas canções preferidas do Radiohead é 2+2=5. Projeto nesta musica, na simplicidade de sua letra, meus desafios cotidianos mais profundos e incertezas de existência em sentimentto de mundo, ou aprendizado impossível de mim mesmo em desconstruções de Eus... Tudo que importa é ficar em casa para sempre... sem sofrer os coletivos cotidianos de perdas em dias de rotinas e mentiras de convencional realidade....

2+5=5 by Radiohead....

Are you such a dreamer

To put the world to rights

I'll stay home forever

Where two and two always makes a five

I'll lay down the tracks

Sandbag and hide

January has

April showers

And two and two always makes a five It's the devil's way now

There is no way out

You can scream and you can shout It is too late now

Because you're not there

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention yeah

I feel it,

I needed attention

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention

Yeah

I need it,

I needed attention

I needed attention

I needed attention

I needed attention

Yeah

I love it, the attention

Payin' attention

Payin' attention

Payin' attention

Soon oh

I try to sing along

But the music's all wrong

Cos I'm not

Cos I'm not

I'll swallow up flies?

Back and hide

But I'm not

Oh hail to the thief

Oh hail to the thief

But I'm notBut I'm not

But I'm notBut I'm not

Don't question my authority or put me in the box

Cos I'm not

Cos I'm not

Oh go up to the king, and the sky is falling in

But it's notBut it's not

Maybe notMaybe not.