terça-feira, 21 de julho de 2009

LITERATURA INGLESA XLVI


Anthony Burgess (1917-1993) iniciou-se tardiamente na carreira literária ao publicar, já com 38 anos, seu romance de estréia: Time for a tiger ( 1956), primeiro volume de uma triologia conhecida como o ciclo The Malayan Trilogy, complementada por The Enemy in the Blanket e Beds in the East.
Apesar de no inicio dos anos 60 ter sofrido o diagnóstico de um complicado tumor cerebral acompanhado pela triste estimativa de um ano de vida, Burgess faleceu apenas aos 76 anos, em 1993, deixando uma obra extensa e significativa no cenário da literatura inglesa do séc. XX.
Embora não seja, segundo o próprio autor, seu livro mais importante, A Clockwork Orange ( Laranja Mecânica) é certamente a mais polêmica, em parte devido a sua adaptação heterodoxa para o cinema pelo celebre e imortal diretor Stanlery Kubrik.
Normalmente comparado a 1984 de George Orweel e ao Admirável Mundo Novo de Aldows Huxley, Laranja Mecânica é uma anti utopia, uma pessimista leitura do mundo contemporâneo através de um imaginário futuro totalitário e sombrio erigido sob o signo da violência.
Curioso observar que o titulo inspira-se em uma expressão anglo-saxã "As queer as a clockwork orange", ou, em uma tradução livre, "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica". Sua concreta inspiração, entretanto, é o universo dos então corriqueiros conflitos, ocorridos em inicio dos anos 60, nas urbanas paisagens londrinas entre as gangues dos Mods e dos Rockers, duas “tribos juvenis” de origem operária inspiradas por diferentes estilos musicais. Os primeiros se vestiam com roupas de grife e cultuavam um rock agressivo de bandas semelhantes ao Who, enquanto os Rockers, com seus casacos de couro, preferiam o rock dos anos 50, principalmente Elvis, e filmes como “O selvagem da Motocicleta”.
Marcado por esta peculiaridade de época, Burgess imaginou um mundo futuro não muito distante onde a violência destas gangues e juvenis teria se radicalizado ao ponto de gerar não só um cotidiano violento, como também um aparato estatal repressivo sem limites.
De alguma maneira tal questão, aparentemente datada, nos é muito familiar uma vez que a violência é uma linguagem, de muitas maneiras e formas, dependendo do país e lugar, cada vez mais marcante e condicionadora do cotidiano contemporâneo.
Apesar disso, esta perturbadora narrativa literária deve ser compreendida como um romance de iniciação juvenil nas paisagens deste alegórico e cruel futuro imaginário. Isso pode parecer bem evidente caso consideremos a estruturação da obra em três partes, cada qual composta por sete sub- divisões totalizando 21 capítulos, numero que corresponde a maioridade etária na cultura anglo-saxã.
Através da trajetória de sua principal personagem, o jovem Alex, também narrador e ex líder de uma gangue extremamente violenta e transgressora, que acaba se transformando em uma vitima de um mundo tão violento e perverso quanto ele, nos deparamos com os paradoxos e absurdos da condição humana, nos defrontamos com os limites da moralidade vigente, na mesma medida que nos surpreendemos com a maturidade conquistada pelo narrador/personagem após um tortuoso e bizarro caminho...
Uma peculiaridade da narrativa que nos provoca um certo desconforto ou estranhamento na leitura é o uso do “natsat” dialeto das gangues utilizado por Alex que mistura inglês popular, russo e gíria cigana.
Poupo o leitor de importantes detalhes da narrativa optando por uma apresentação superficial e não muito analítica no intuito de apenas despertar interesse pela leitura da obra que, vale a pena insistir, não oferece um panorama significativo do universo ficcional do autor ora comentado...

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