sábado, 1 de julho de 2023

TELE-VISÃO

Hoje os olhos sabem a tela como prisão.
Somos reféns de pequenas, grandes 
e infinitas  janelas,
que servem de espelho a imaginação,
a emoção, a opinião, a ilusão,
ao absoluto, ao absurdo,
e até mesmo a ordem e a razão.

Nada existe fora da grande tela
que além do tempo e do espaço
nos produz como míseras imagens que se replicam, que se multiplicam e se apagam
sempre de novo,
até o infinito
em um grande mosaico  sem sentido
onde tudo é tela,  prisão,
ou, simplesmente, televisão.

 




quinta-feira, 29 de junho de 2023

O MUNDO HOJE

O mundo é o que existe,
persiste, afeta e transforma.
É o que nos envolve, supera
e formata.

O mundo é o único acontecimento possível.
É um dentro e um fora,
o pensado, o dito e o feito.

O mundo é tudo aquilo  que nos mata
e, entretanto, também tudo aquilo que hoje
fundamentalmente nos escapa.


quarta-feira, 28 de junho de 2023

SOBRE A REVOLTA QUE UM DIA SERÁ

Talvez um dia
a gente desista de dar certo,
deixando de lado a velha ingenuidade
que nos faz sempre buscar
 qualquer meta idiota de saciedade,
alguma ilusão de sucesso ou felicidade.

Pode ser que que um dia
a gente sucumba de vez a melancolia,
assumindo o amargo fardo
de saber o mundo pelo avesso,
de ter raiva das coisas
e não acreditar em nada.

O que importa é ter sangue nas veias,
nos olhos e no coração,
para sustentar a coragem de ferozmente dizer não.




terça-feira, 20 de junho de 2023

A QUASE METAFÍSICA DA REALIDADE

Realidade
é, antes de tudo, experiência,
imaginação e afeto,
que partilhamos,
que inventamos e nos inventa,
nas encruzilhadas da existência.

Cada um é caminho do outro
no labirinto infinito da vida.
Pois o real não comporta objetivismos, subjetivismos 
ou gnoses.

Realidade é pele, encontro, 
composição e mudança.
É ser sempre outra coisa,
evadir-se até o limite dos sentidos e do concebível da consciência.

Realidade é tudo que não cabe na gente,
que escapa ao meu corpo,
ao meu mundo e a minha certeza das coisas.
Realidade é morte, ausência,
matéria, espanto e resistência.
Um dia, cada um de nós será enterrado pela realidade.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

AN-ARQUIA ( UMA QUASE DEFINIÇÃO)

A an-arquia é antes de tudo um afeto, uma vontade de dessubjetivação, de tornar-se outro através dos outros na reinvenção de si mesmo como devir e potência, como realização da liberdade de imaginação a margem de toda forma de contigência.
A an-arquia é fazer-se espanto diante do inteligível, é estar em movimento além de todas as formas e conteúdos possíveis à percepção.
Antes de tudo,  an-arquia é natureza, imanência e matéria em permanece metamorfose.

domingo, 18 de junho de 2023

AS ÁGUAS DO SER

O rio que passa  aqui
deságua mudo no mar
que busca o oceano e o infinito
sem saber o indizível do meu  sonhar.

Sou um ninguém,
sou muitos caminhos.
Tudo em mim é
imaginação, movimento
e destino.

Sou uma interminável partida,
como o rio, o mar e o oceano,
que dentro de mim transbordam
nas urgências dos meus abismos.

.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

DISTOPIA COGNITIVA

Quando tudo for informação,
toda significação será banal,
performática e pragmática.

Seremos veículos de dados
em um mundo pacífico e  amoral
reduzido a cálculos e simulacros.

A vida será um efêmero e replicável intercâmbio comercial;
infinita circulação de cópias imperfeitas
 de falsos conteúdos originais.

Quando tudo for informação,
todo conhecimento será inútil
e toda subjetividade será reduzida a objetividade de  uma simples equação.

Seremos coisas através das coisas,
dados em um infinito fluxo e circulação
entre o esquecimento e a memória
do atemporal.

Toda consciência será reduzida
 a relativa experiência 
 de absoluto  vazio comunicacional.




quarta-feira, 14 de junho de 2023

CONDENAÇÃO

Estou condenado a esta época,
a minha cidade e ao meu tempo.

Sigo preso ao meu sangue, 
a vida e a morte,
despido de nome e sorte.

Mas sou único,
como qualquer outro
no mundo.
Um corpo banal,
efêmero e inútil,
que dúvida do quanto
é insignificante.

Estamos todos condenado a existência,
ao acaso, ocaso,
e ao nada,
através de todos os nossos movimentos, sentimentos,
reivindicações e silêncios.

Entre os outros,
inventei inutilmente a mim mesmo
ao longo dos anos,
condenando a uma breve existência
imerso na angústia da finitude,
em um rosto sem realidade.







quinta-feira, 1 de junho de 2023

VISLUMBRES DO SÉCULO VINDOURO

O século XXII não será assombrado por nós.

 Com um pouco de sorte, 
 ele será o século da pós história, 
do pós Estado e da pós razão,
consumado o colapso da nossa triste civilização.
 
 Será o tempo dos corpos, da natureza, do caos, 
no devir das metamorfoses e transições infinitas.

 Este século que nos procederá,
que hoje ainda  transcende 
todo poder de nossa imaginação,
não será governado pela razão,
seja ela humana, divina ou natural.
Será uma época livre do peso dos tempos idos,
Será um reinício,
um novo e pós humano  princípio do mundo.

CONTRA O ARDIL DE NOSSAS CONVICÇÕES

Seja inspirada pela vaidade,
 pelo amor divino,
 pelo bem comum,
 ou, ainda, 
 pela sedução ardilosa de qualquer ideal de verdade, 
é sempre indigna a  pretensão a colonização imaterial do outro,
 a intenção de conformar consciências e sensibilidades 
 á imperativa vontade que nos escraviza através do desejo de eternidade.

 Recusar sempre a intenção de rebanho,
a pretensão a monumento,
 é cultivar a liberdade como modo de vida,
a margem de todas as idolatrias modernas,
de todas as prisões que nos definem,
é ousar principiar um mundo novo.