sábado, 16 de maio de 2020

O ALÉM DO HUMANO

Há algo de intenso
No limite da história,
Do significado do mundo,
No vazio da sociedade,
Na saturação dos discursos,
Que nos ensina a vertigem do agora.

É onde o humano desaparece
Como acontecimento moderno.
É onde se apresenta
Dentro de nós no fora do eu
A grandeza da natureza 
Na invenção do além do humano
Através da força de novos afetos. 

quinta-feira, 14 de maio de 2020

FIM DOS DIAS

Não há mais dias,
Apenas o inatual do agora,
O provisório e precário
Como desordem das coisas.

Não há mais dias,
Apenas a rotina da perplexidade, 
Do luto e das vulnerabilidades.

O que existe agora é o absurdo,
O susto e o vazio.

Em breve
Todos seremos outros,
Ressiclagem de nós mesmos
Em busca de tempo contra o próprio tempo. 

Não há mais dias. 
Todos os dias se foram.
Agora há outra coisa
Que não atende por qualquer nome.
Nós mesmos já  não somos mais
O ser de qualquer coisa,
Quase não somos humanos
No gritar primal do corpo
Em busca de tempo e espaço.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

VERTIGENS DO ALÉM DO HUMANO

Não  me reconheço mais em meus atos,
No diário exercício da minha finitude,
Em estado de carne, informação  e fome.
Me debato contra todo conformismo,
Sedentarismo que nos define em 
No arcaísmo de velha sociedade.

 
Quero ultrapassar o humano,
Meu caos cotidiano e as angustias do  mundo contemporâneo. 
Pular o muro do possível 
E  explorar o indizível da natureza,
Habitar a terra além dos limites da cidade.

Quero rir ao infinito,
Extrapolar todo significante,
Todo significado,
Todo dizer e fazer pré moldado e antropomórfico.
Quero inventar em mim qualquer outro mundo, outra vida, 
Onde me assuma experimental e póstumo.









O MEDO QUE NOS HABITA

O medo que nos habita 
Não é mais o mesmo.
Não é um medo da morte,
Da guerra ou da fome.
Mas um medo da própria vida,
Uma incerteza quase absoluta
Que pesa no corpo,
Turva pensamentos,
Em uma tempestade de tristes afetos.

É um medo que se respira,
Que contamina,
Que se compartilha.
Um silêncio,  lamento ,
Que adoece a vontade
No trágico sentimento
De uma ausência de mundo.
O medo que nos habita 
É nossa própria casa.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

ALGUMA COISA

Qualquer coisa tola nos traduz a vida na simplicidade  do dia,
Qualquer coisa absurda,
Infantil e selvagem,
Um estado de quase melancolia.

Há algo de absurdo e sem sentido
Dentro e fora da consciência 
Que nos define como corpo,
Como matéria e mundo
Até  o limite da imaginação. 

Algo que nos torna imunes a verdade,
Aos artifícios do verbo e ilusões  do coração. 

Sei vazios de pensamentos 
Brincando
Entre o eu e os outros
Do dizer ordinário. 

Alguma coisa sem nome
Nos conduz além  do simulacro do humano.
Alguma coisa não precisa ser dita,
Mas acontece onde não somos nós
Em delírios de liberdade e expressão. 





domingo, 26 de abril de 2020

PALAVRA ENIGMA

A palavra vento,
A palavra ausência,
A palavra experiência, 
A palavra morte,
A palavra jogo,
A palavra sorte,
A palavra oca.

A palavra é sempre outra
Ferindo a tela em branco
Como indecifrável objeto texto.

A palavra através  da qual 
Desapareço. 

O RETRATISTA


Entre a esperança e o medo,
Ele descobriu a confiança em si mesmo.
Fez da sua arte barata uma arma contra a incerteza,
Uma resposta ao caos do  mundo,
A morte e a vida,
Colhendo ecos da natureza
No retrato de dias banais.
Não era um pintor,
Era um retratista.
Dedicava-se a beleza dos pormenores,
A singularidade de cada momento,
Na nulidade de sua vida de artista.



quinta-feira, 23 de abril de 2020

MULTIDÃO E BIO POLITICA

A vida moderna
Tornou-se política de Estado,
Administração dos corpos e consciências,
No controle da população 
E  no domínio do território
Que disciplina o viver e morrer.

Virou discurso público, 
Campo de especialistas
E objeto de tecnologias.

A vida agora,
De tão  pessoal, é  questão de estatística,
Labor , consumo e espetáculo virtual.
Não raramente, também é   caso de polícia.
Pois só respira, 
só grita a alma,
A multidão que transgride,
Que se inventa outra coisa,
Que cria uma língua,
E sob o estigma do anormal
Se faz sem rosto no desdizer do mundo
Através de práticas de re- existência.

SER E DIZER

Parto da premissa de que existe um plano Real e imanente que define conteúdo e expressão,  que torna possível todo regime de signos e circulação  de acontecimentos semióticos dentro de nossa vida social. Nossas escrituras da realidade não são  obra de nossas mentes individualizadas, mas de uma singularidade sem sujeito estabelecida pela composição de narrativas a partir dos códigos de enunciados vigentes. Eles se confundem com o fluxo caótico da realidade vivida, experimentada, de todas as formas  possíveis em um dado contexto gramatical de existência. Somos o que dizemos, nos definimos no ato de escriturar o real que nos produz. O nome próprio de um modo de ser é sempre um modo de dizer e fazer o mundo.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

POEMA QUASE ESTÓICO

O ser é  o verbo,
O devir na ação de dizer 
Como fazer acontecimento.

Resumo tudo em único exemplo:
A copa da árvore não é  verde,
Ela verdeja no olhar 
Dentro do verbo.
É tudo encontro e movimento
Entre  proposição e inferência. 

Mas esqueça o que eu disse.
Naturarize-se entre as coisas,
Experimente.
Seja o verbo.