sexta-feira, 11 de maio de 2018

POEMA HERACLITIANO




“Tudo frui como um rio”.
Somos e não somos no fluxo.
Na coincidentia oppositorum,
No desvelamento da essencial incerteza
Do ser e do não ser através do devir.

Existimos além do bem e do mal
No mais arcaico futuro
Onde a vida escuta a morte
E se perde da eternidade.

Nossa inercia é movimento,
Fogo e imanência.

O PENSAR DOS OLHOS


quinta-feira, 10 de maio de 2018

COORDENADAS GEO FILOSÓFICAS




Procuro um espaço que se faça mais do que um lugar,
Um ponto meta geográfico
Que se torne corpo do meu corpo,
Tempo e pensamento,
Onde eu não seja
E tudo esteja.

Lugar sem forma,
Em movimento...

Onde nada se perca
Em encontros,
Choques e dualismos.

Onde nada aconteça
No se fazer das coisas
E a linguagem nos contenha
Na grande ficção da produção do sentido.


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quarta-feira, 9 de maio de 2018

FANTASMAGORIA E ESCRITA NÔMADE



Há algo que sempre permanece não pensado dentro do próprio pensamento. Algo que acontece como um lado de fora do significado e, entretanto, desenha a nervura do sentido. Trata-se de algo que ultrapassa a forma-homem, que a remove e apaga como campo de intencionalidades, como artificio estruturante de cognição, expressão e  comunicabilidade, eliminado toda causalidade que oprime a escrita, pondo em xeque, portanto, todos os códigos retóricos.

A literatura é o jogo de enunciados privilegiado para esta transcendência da dualidade entre significante e significado por intermédio da linguagem, que nela se volta sobre si mesma, quando foge as normativas do seu próprio campo discursivo. Assim, todo dizer se torna um dizer do que é dito que não se reporta a qualquer objeto. A qualquer norma ou ordem discursiva. Tudo se faz fragmento, simulacro e deserto no acontecer nômade e imaterial de uma narrativa.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

TEXTO, SENTIDO E MOVIMENTO

Existe uma veracidade em todo texto literário que não comunica uma verdade, mas a experiência de imagens e afetos. 
É o simulacro como um acontecer do sentido mediante um encadeamento de enunciados. 
A experiência de uma narrativa é seu próprio significado como avesso da realidade. 

O texto é um território através do qual  evadimos, transportamos a existência através da cartografia que é o texto. Ele não nos diz onde vamos, mas nos modifica, torna-se uma ambientação, um acolhimento. 

A leitura é isso: uma experiência de movimento que se dá através de inercias.

O DISCURSO E A MANUFATURA DA VERDADE


O DISCURSO E A MANUFATURA DA VERDADE


A arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos; mas os próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras. Ela não trata o discurso como documento, como signo de alguma coisa, como elemento que deveria ser transparente, mas cuja opacidade importuna é preciso atravessar frequentemente para reencontrar, enfim, aí onde se mantém a parte, a profundidade do essencial; ela se dirige ao discurso em seu volume próprio, na qualidade de monumento. Não se trata de uma disciplina interpretativa: não busca um “outro” discurso mais oculto. Recusa-se a ser “alegórica”.

Michel Foucault in Arquelogia do Saber

O discurso é o conjunto de regras e praticas que permitem a construção das representações e codificações da realidade em um dado contexto sócio cultural. Como demonstrou Foucault em sua Arqueologia do Saber, o discurso é o que define o que pode e não pode ser dito sem ser, entretanto, uma copia do real, mas sua instrumentalização através de jogos de verdade que estabelecem relações de poder.

O discurso precede os sujeitos na produção de subjetividades. Jogos de verdade são jogos discursivos de poder. Eles são práticas que constroem objetos dentro de um regime de verdade, um conjunto de enunciados que integram a malha de poder.

Somos inventados pelas nossas praticas discursivas.  Quando alguém elabora um discurso, em seu trabalho de escrita reúne  um conjunto de vozes sociais, ideológicas e históricas distinguindo-se assim de si mesmo como indivíduo. A imposição de regras ao sujeito que fala impõe ao mesmo um papel pré definido na produção discursiva. Parafraseando Foucault, devemos evitar imaginar um mundo que nos apresenta uma face legível que apenas deveríamos decifrar.




sexta-feira, 4 de maio de 2018

SENTIDO E LINGUAGEM


Precisamos nos libertar do condicionamento da linguagem a um referencial antropológico. Ela não expressa o humano como algo dado. Nem mesmo se relaciona com ele. Seu propósito é criar sentido. Um sentido que nos transborda como ficção de um eu configurado por um corpo físico ou definido por intensionalidades articuladas por identidades, pela ingênua convicção do Ser e da Verdade como um valor absoluto e abstrato que engendra a experiência do mundo. 

A linguagem habita a si mesma e não o mundo. Ela é como um não lugar que define todos os lugares.

FILOSOFIA POP




A palavra viva que apresenta o corpo,
Que colhe olhares
E se mistura aos gestos,
As sutilezas da paisagem facial,
É mais intensa  do que qualquer palavra morta
Presa a tela morna do computador.

Afinal, vivemos tempos de falência da representação,
De niilismos gramaticais
E fluxos de instantaneidade de ultra presentismo.

É tempo de improviso,
De onipresença do efêmero
Como medida de todas as eternidades possíveis.

A discussão e a performance
É agora uma estratégia do pensamento
Onde o sentido se faz no acontecer naufrago do discurso.

A palavra finalmente é a vida.
Uma vida grega e antiga
Onde as praças se multiplicam e se desdobram.
O pensamento já não tem mais um lado de dentro,
E não se inventa como um lado de fora.

O DIZER POSSÍVEL



O que nos escapa é a alma das coisas.
Talvez ela não exista.
Ou seja apenas a presença,
O devir onde tudo é parte de um não ser,
De um tornar-se
Sempre renovado como virtual e incerto.
A realidade é feita de fugas e extravios
Que preenchemos com sentidos.
Mas quantos lapsos cabem em um enunciado?


quinta-feira, 3 de maio de 2018

POESIA E CONHECIMENTO


É fato que conhecimento não esta associado apenas à linguagem científica, mas a toda forma de saber, a todos os artifícios simbólicos que nos permitem codificar o mundo e a realidade através de alguma forma de linguagem. Desta forma, a poesia é um modo de conhecimento que, desde o Romantismo, passando pelo Dadaísmo e pelo  Surrealismo, nos faz refletir sobre os limites da representação que, desde de Platão, se impôs a cultura ocidental como sinônimo de conhecimento legitimo.

A verdade é para nós a referencia que define a legitimidade do conhecimento. A poesia, ao contrario, remete a um saber que se dobra sobre a linguagem, que encontra nela a vocação ao significado e não em qualquer suposta relação entre palavra e objeto. Dizer não é descrever, mas criar um plano imaterial de existência, um fora de si e do mundo da experiência que, entretanto, o fundamenta como vivência.