sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

INFORMAÇÃO E CULTURA

As vezes penso que  cultura se reduziu hoje a uma patologia da informação, a uma imagética poluída, que se limita a uma gramática do efêmero elevada a carcomida condição de verdade.



O hibridismo entre conhecimento e informação que reduz os saberes a meras técnicas utilitárias e funcionais, empalideceram nossas narrativas de mundo. Por isso ainda não fomos capazes de superar o século XX e nos perdemos a meio caminho de uma pós cultura.

 Afogado em um mundo de informações, já não sei mais quem eu sou. Penso, logo não existo, entre o sujeito, o objeto e o vazio. Houve um tempo em que tínhamos mais respostas do que perguntas. Agora, o texto explode a céu aberto em diversidades de significados ralos que não dão conta de nossa fome de sentido. O que ainda pode ser pensado, dito ou imaginado? A realidade é feita de migalhas, retalhos e rastros.




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

SI MESMO



Quero lembrar o instante
Em que certos sentimentos
Acordaram em mim
Aquele momento no qual me descobri outro,
No qual me reinventei o rosto
Para ser ainda mais quem eu sou,
Saber o eu e o mundo nivelados como experiência.
Mas este instante escapa ao tempo,
É um evento incerto,
Absurdo como meu próprio nascimento.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A INDIFERENÇA DO PENSAMENTO



Todo esforço do pensamento toma por meta produzir uma indiferença, um distanciamento em relação as coisas vividas. É preciso domesticar a realidade. Mas isso só é possível na medida em que nos apartamos dela. Pensar é uma forma de distanciamento das coisas que se estabelece através da abstração. Existe um hiato entre o mundo vivido e o mundo pensado que preenchemos através d subjetivação do real, da imersão da consciência  na experiência do mundo através do corpo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

EU, MUNDO E PERCEPÇÃO




Minha existência é imprecisa. Pois não sou este eu que pensa. Nem me identifico com minhas próprias palavras. Ser é um não lugar que extrapola a consciência, um vazio preenchido por signos e símbolos. A vida é gramática e a realidade é este corpo que sou. Assim, sou o meu próprio objeto através de cada pensamento onde o eu e o não eu se realizam como imersão na percepção daquilo que existe, como realidade mundo.
Lembrando Merleau Ponty,
“A percepção não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles. O mundo não é um objeto do qual possuo comigo a lei de constituição; ele é o meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepções explícitas. A verdade não “habita” apenas o "homem interior", ou, antes, não existe homem interior, o homem está no mundo, e é no mundo que ele se conhece.”.
(MERLEAU-PONTY.In Fenomenologia da percepção , 2006 p.6

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

PÂNICO CONTEMPORÂNEO

A crise das representações,
as incertezas e vazios
da nossa existência,
afirmam o indivíduo
contra as codificações coletivas,
contra as mimesis, adaptações
e contradições universais.
Mas o que somos presos a estes vazio,
a esta ausência de mundo
apesar de nossa lucidez pessoal?
Perplexos ,
desconstruímos futuros,
inventamos estéticas,
na aventura de viver em pânico,
singulares e autônomos,
através da arte e contra a sociedade.
Somos todos nômodas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

EXPERIENCIA E SUBJETIVIDADE

Enterrado no tempo que passa, procuro encontrar um momento em que todas as coisas ganhem sentido ou simples plenitude no frágil fato de estar vivo. Falo de um vago sentimento de realização com as coisas vividas que normalmente escapa ao simples dia a dia. O extraordinário é sempre algo simples e quase banal, um resgate da experiência das coisas através da subjetivação dos fatos objetivos. Tudo depende de nossa percepção e capacidade de estabelecer camadas de significado sobre os pequenos detalhes dos acontecimentos.


SOBRE A REALIDADE

Escolha alguns fatos,
Organize-os aleatoriamente
E invente a realidade a seu gosto.

Não existe um real objetivamente dado,
Mas o realmente vivido
Que se reduz a experiência.

Isso é tudo que temos:
Nosso ser no mundo
Como representação e vontade.

Nenhuma narrativa esgota a realidade...
Tudo é questão de hiper- informação

Gramaticalmente organizada.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

SOBRE O DEVIR E A VIDA




A recusa do mundo do devir é personificada não apenas pela metafísica religiosa e seu desdém pela realidade sensível, mas também pela valoração do bem estar e da saúde. O culto ao corpo e a vida saudável representa muito mais do que a busca pela longevidade, mas a afirmação de uma moral que toma por referencia a felicidade, uma estética da existência onde não há lugar para o imperfeito, o defeituoso ou, simplesmente, o contraditório. Assim, a ideia substitui o real ou é tomada como sua substancia. O ethos de uma felicidade concreta, o mito de uma positividade absoluta, por mais ingênuo que seja, anima a imaginação de muitos.



Mas o devir, a incerteza e a finitude, permanecem condições incontornáveis da condição humana que não podem ser substituídas por qualquer ideal de saúde, por qualquer representação de felicidade. Nenhum bem estar é constante e a vitalidade não é uma regra. O mundo e a existência permanecem imperfeitos, contraditórios. Apenas o pensamento nômade, sujeito a indeterminação ontológica e a incerteza, é capaz de dar conta do viver em sua totalidade.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O LIMITE DAS AUTO DEFINIÇÕES



Somos finitos em nossas auto definições e não em nossas potencialidades. Entretanto, nossas auto definições são abertas, pois não somos idênticos as nossas gramáticas de realidade. Assim, elas coincidem com nossas potencialidades, pois, virtualmente, estamos sempre em processo de ser, jamais fixos em qualquer ponto, em qualquer determinação. Não podemos escapar totalmente ao indeterminado, a imprecisão, não importa o quanto aderimos a conceitos fechados e ao limitado de nossas auto definições. Em poucas palavras, não somos inteiramente em nada de que acreditamos, nas personas as quais aderimos.