quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

SOBRE O DEVIR E A VIDA




A recusa do mundo do devir é personificada não apenas pela metafísica religiosa e seu desdém pela realidade sensível, mas também pela valoração do bem estar e da saúde. O culto ao corpo e a vida saudável representa muito mais do que a busca pela longevidade, mas a afirmação de uma moral que toma por referencia a felicidade, uma estética da existência onde não há lugar para o imperfeito, o defeituoso ou, simplesmente, o contraditório. Assim, a ideia substitui o real ou é tomada como sua substancia. O ethos de uma felicidade concreta, o mito de uma positividade absoluta, por mais ingênuo que seja, anima a imaginação de muitos.



Mas o devir, a incerteza e a finitude, permanecem condições incontornáveis da condição humana que não podem ser substituídas por qualquer ideal de saúde, por qualquer representação de felicidade. Nenhum bem estar é constante e a vitalidade não é uma regra. O mundo e a existência permanecem imperfeitos, contraditórios. Apenas o pensamento nômade, sujeito a indeterminação ontológica e a incerteza, é capaz de dar conta do viver em sua totalidade.

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