sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

REALIDADE E CONHECIMENTO



Entre os fluxos de expressão e os fluxos de conteúdos, através dos signos codificamos a realidade em vários ritmos, modos de sensibilidade e estratégias narrativas. A consciência não é em si mesma, mas na forma como percebemos as coisas.

Tendemos a reduzir tudo a uma logica binaria, a um jogo de oposições onde a síntese ou a conclusão nos escapa. É como se o verdadeiro sentido nos escapasse na medida em que não somos capazes de produzir uma coincidência dos opostos, uma transcendência das categorias formais de nossas premissas epistemológicas. Dai a necessidade de subverter a linguagem, de ir além das próprias premissas do entendimento.

O entendimento esta condicionado a um agenciamento pelo próprio desejo de conhecer. Construímos uma relação afetiva com o conhecimento. Nos enamoramos dos objetos que inventamos e, como prova de amor, reduzimos a realidade a seus conteúdos. Tentamos a eles reduzir o fluir do pensamento, Como se ele não fosse instável e provisório em um delírio de interpretação do próprio real.



RESPOSTAS

Perdi muito tempo com respostas fáceis e cômodas,
Me distrai com muitos enganos
Antes de chegar à perplexidade
Como premissa de todo questionamento.

Nossos enganos produzem realidades
No agenciamento de nossos desejos
Mais ingênuos.
Pois o falso e o verdadeiro
Dizem a mesma certeza,
Não passam de uma mesma categoria de consciência.

Perdi muito tempo encontrando respostas
para as perguntas erradas.


INACABAMENTO

Como definir o infinito em uma linha de realidade?
A imaginação não tem limites,
Cria em anarquia as possibilidades do pensamento.
O futuro se desenha como projeto,
Como potencia que desafia o dado
Nas releituras do fato concreto.
Não existem conclusões definitivas.
Tudo que é humano existe sob o signo

Do inacabamento.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

NOTA SOBRE A TRANSCENDÊNCIA DO SOCIAL

A possibilidade de representação racional do mundo social no plano epistemológico  torna-se cada vez mais duvidosa. Afinal, o social já não dá mais conta de uma vida coletiva  cada vez mais plural e dinâmica, irredutível a racionalidade instrumental e funcionalista.  Estratégias  comunitárias de construção de identidades e vínculos deram lugar a codificações mais abstratas e fluidas. Nestas o comportamento coletivo é cada vez mais formatado pelo fluxo de imagens e estímulos produzidos pelas novas mídias. Decorre dai uma autonomia maior do individuo nas estratégias de construção de sua identidade e estabelecimento de vínculos societários. Ao mesmo tempo, dar-se no entanto um deslocamento do sujeito e dispersão da identidade. Não mais nos adequamos a nossas personas sociais, mas nos reinventamos constantemente em um exercício de adaptação ao fluxo de experiências efêmeras que compõe o mais imediato dia a dia. Um amalgama de discursos, praticas e usos da realidade estabelecem agora os protocolos da realidade onde nos inventamos como personas de nos mesmos no palco do coletivo. Assim, o próprio coletivo já não é um espaço orgânico racionalmente estruturado a partir de um consenso legitimador de determinadas praticas e representações sociais. Ele se apresenta, ao contrario, como um plano indeterminado onde todos nós co-habitamos dispersos entre signos e conjunturas culturais e simbólicas justapostas. Carecemos hoje em dia de um mapeamento cognitivo de nosso cenário vivencial, das representações de mundo que compartilhamos diariamente. Nenhuma visão de mundo é suficientemente abrangente para reduzir a realidade a uma totalidade dotada de sentido e teleologia. Entre o universo dos significados e o mundo material, agora se impõe o virtual, o ambíguo e o contraditório. O que nos redime de qualquer sentido intencional balizador de nossas ações ou reflexões.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O HORIZONTE DO ALÉM DO HUMANO

Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo que deve ser superado. Que fizestes para superá-lo?” – Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, p. 13

Aprendemos com Nietzsche sobre a impossibilidade da morte de deus sem a superação da forma homem. Este estranho campo de batalha entre apetites diversos que agora se desfaz vitima da violência de seu próprio devir.

Superar ideias fechadas, os conceitos-prisões que definem os humanismos e o orgulho das conquistas da civilização. O pensar racional e conformista é feito de enunciados abstratos que estabelecem a ilusão de domínio sobre a realidade. Tudo que é compreensível e explicável é domesticado. Reduzimos a complexidade dos fenômenos a formulas simples e, assim, tomamos por resolvido o problema que é o mundo. Triste ilusão. Pois nos escapa a própria vertigem e absurdo de nossa condição humana e apenas inventamos uma realidade antropomórfica.

Mas o que nos espera além de toda consciência legada pela civilização? Talvez a reinvenção do corpo e dos sentido sem o peso do pensar metafisico baseado na  verdade objetiva que nos divorcia da concretude de nossa existência  finita em nome da ideia, dos conceitos, do contra-natural. É preciso que nossa ideia de realidade seja de algum modo mortalmente abalada para que este animal malfeito que é homem seja finalmente transcendido.

Sabemos que o humanismo é um conceito recente e demasiadamente moderno e, portanto, perecível.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

DEBATE

Como último recurso
Tentei responder a todas as suas perguntas
Calando minhas próprias dúvidas.
Desesperadamente busquei lhe explicar o nada.
Mas fomos envolvidos pela vertigem de nossas ocas palavras
E encontramos em um tumultuado silêncio
A melhor solução.

DENTRO DE UM MINUTO

Dentro de um minuto
No eterno passado do mundo
Direi provisoriamente meu sentimento das coisas.
Dentro dele existo indeterminado
No fluxo impreciso da consciência.
Sou nas sensações e gostos que definem o corpo.
Banal e inútil me desfaço no insignificante.
A vida é superficial,
É insípida como a água  em seu modo de ser essencial.
O significante transborda o significado.

E tudo acontece dentro de um minuto.

domingo, 11 de dezembro de 2016

AFORISMO SOBRE NOSSOS TEMPOS DE PÓS VERDADES

Em tempos de cacofonia de discursos conflitantes que se edificam sobre o cadáver do real, o significante espanca o significado na esquizofrenia dos enunciados.

Ultrapassamos a realidade no império efêmero das opiniões e overdose da razão.
Assim teve início a era da pós verdade.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O INDIVIDUALISMO COMO FUNDAMENTO DO ACONTECER SOCIAL

A vida social é  cotidianamente definida pela tensão e  conflito entre indivíduos. A pluralidade de interesses, perspectivas e sensibilidades que caracterizam os integrantes de um grupo ou sociedade é um dado elementar que verificamos a tomo momento e em toda parte. Muitos leitores, por exemplo, terão criticas a fazer a este texto, enquanto outros tomarão seu partido total ou parcialmente. O fato é que estamos sempre envolvidos em desacordos. Seria mais correto falar de uma federação complexa de indivíduos do que propriamente de sociedade.  A menos, é claro, que tomemos como séria a fantasia republicana fundada no abstrato princípio de soberania popular.

Estamos tão ocupados em reproduzir o que nos ensinaram sobre a realidade, mimetizar comportamentos sociais, que raramente nos ocorre a possibilidade de um estranhamento radical de todos os contextos sócio culturais nos quais estamos involuntariamente inseridos. Fomos induzidos a domesticar nossa singularidade em nome de abstrações racionais que atribuem demasiado valor ao social e suas instituições.


O cotidiano mais imediato de nossos tantos intercâmbios intersubjetivos evidenciam que, mesmo que a cooperação e o compartilhamento de uma série de referencias simbólicos definam os indivíduos inscritos em determinada cultura, ele não elimina as variáveis introduzidas pela peculiaridade das configurações de cada um.  No calculo social, o individuo é uma fator irracional apenas parcialmente controlável. Um enunciado elaborado por um único individuo pode contaminar certa quantidade de seus pares e ser replicado a ponto de constituir uma contra tendência as normatizações até então consensualmente estabelecidas e, em certas circunstâncias, impor-se como normativa emergente. A possibilidade do novo origina-se da iniciativa individual.   Isso não deve ser negligenciado. Pois, se os indivíduos integrantes de qualquer coletivo estão sempre vivenciando algum  tipo de  desconforto em relação as normativas sociais, quando um determinado individuo, elabora uma resposta para seu próprio contexto que também lhes atende, tal reposta não perde seu caráter singular, não se torna “coletiva”, pois, ao mesmo  tempo que se faz objeto de adesões,  também  sofre reelaborações e adaptações. Assim, mesmo uma formulação individual que se torna coletiva por suas consequências sociais, não perde nunca  sua singularidade.

UMA FILOSOFIA DO IMPOSSÍVEL

Sonho possível uma filosofia de questões insolúveis orientada para reproblematização de todas as respostas e soluções até agora imaginadas. Tal filosofia teria por vocação uma narrativa sem qualquer pretensão ou valor , dedicada  a exercícios de imaginação fadados a inconclusão e ao inacabamento. Falo de um exercício de reflexão perpetuamente aberto, indeciso e avesso a qualquer forma de instrumentalização.


Pensar deve ser um exercício lúdico a desafiar nossa ordinária consciência das coisas e mais arraigadas premissas cognitivas.