terça-feira, 31 de maio de 2016

REFLEXÃO NIILISTA

Até que ponto acredito de fato em meus enunciados
E sou no abstrato de ideais e discursos
Que nada dizem de útil a minha  singularidade?

Talvez eu seja apenas este  vazio
entre   palavra e a existência
Que estranha o pensar e a certeza,
Que duvida inclusive de si mesmo
E nada neste mundo respeita.

Todas as minhas opiniões foram enganos de ocasião.
Somente estive certo sobre  minhas incertezas.


SOBRE A NOVA SUBJETIVIDADE

Vejo as pessoas refletidas no vidro da janela do trem do metrô e elas não me dizem nada, não representam qualquer coisa de humano. São apenas coisas entre as coisas que se oferecem aos meus olhos. Atingimos um estranho estado de humanidade onde os outros já não significam muita coisa e que a própria experiência de si mesmo, alienada da construção de uma esfera privada e subjetiva da existência, reinventa-se  aos trancos e barrancos sob o céu aberto da sociedade de massas e do mimetismo social.



SOBRE A ARTE DA REFLEXÃO


Só é digno da vida aquele que respira a própria individualidade como princípio de existência.

Não busque um lugar no mundo fundado no sacrifício de suas angustias mais pessoais. Não seja racional o tempo todo. Pois pensar é romper com os lugares comuns do mundo e se auto destruir e reconstruir o tempo todo.


Seja em suas dilacerações, em suas incertezas e contradições. Abrace a totalidade confusa que te define no mundo até a exaustão e a vertigem do pensamento.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O VAGO DA ESSÊNCIA

Somos feitos de circunstancias,
de mundo mais do que ego,
de palavras mais do que afetos.

Somos em nossos gestos,
No abstrato quase concreto.

Mas apenas nos realizamos
No silêncio,

No mais profundo vazio.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

MEU EU E O MUNDO

O que define este meu eu que se escreve no mundo?
Fora dele sou muitos,
Uma multidão perdida na imaginação
De todas as coisas possíveis.
Meu eu é  matéria incerta,
Abstrata premissa da consciência
Que, as vezes,
Não se confirma,

Nem mesmo diante do espelho.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O QUE É O PENSAMENTO?

A forma como pensamos ou representamos o mundo define nosso modo de viver a vida. Neste sentido ideias são coisas bem concretas e tangíveis. Mesmo que , na maior parte do tempo, simplesmente não pensamos sobre o que fazemos. Mas é justamente quando isso acontece que as ideias agem , revelando sua surpreendente autonomia  e capacidade de configurar a existência de seus portadores. 

Somos do modo como vemos o mundo. O pensamento funciona como uma espécie de filtro. Pode-se mesmo dizer que pensar é um estado, não uma atividade.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

ROTINA

Amanhã será como hoje.
Tudo já está dado na arrumação dos fatos
E só nos  resta  seguir em frente
Inventando futuros,
Administrando o tempo.
Tudo passa,
Mas o presente parece eterno
No sempre igual da rotina,
Neste banal sentimento de existência

Que não me esclarece.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

COMUNICAÇÃO E CONTEMPORÂNEIDADE


Há limites à intencionalidade da consciência, a matéria subjetiva através da qual apreendemos os objetos e situações cotidianas, criando a ilusão de que o mundo existe tal como percebemos, ou, que existe uma correspondência direta e simples  entre a consciência e as coisas.  Sem querer trilhar os caminhos de qualquer fenomenologia cabe aqui apenas insistir na ilegibilidade do mundo e no desaparecimento do real como premissa de nosso sentimento e apreensão da realidade em termos contemporâneos.

A perda da capacidade de apreender e, consequentemente, compreender, é um sintoma de nossa cultura contemporânea saturada pela informação que se inventa e reinventa a ponto de substituir o fato, seguindo aqui uma linha de raciocínio de Jean Baudrillard.

O problema do real é um dos mais cruciais em uma sociedade onde o domínio da opinião tornou virtualmente acessível ao mais ignorante dos indivíduos e onde  toda informação pode propagar pelo mundo inteiro através do ciber espaço sendo  replicada até  tornar-se uma “verdade” coletiva independente da qualidade da consciência individual e seu bom senso ao recepta-la.


VIDA E DEVIR

Muitas coisas deixaram de fazer sentido para mim ao longo dos anos. Muitas antigas referências filosóficas ou intuições existenciais , hoje já não possuem a mínima importância. Mal me lembro delas. As paisagens humanas que frequento também mudaram, bem como certas rotinas. Posso dizer com alguma segurança que, de muitas maneiras, sou hoje uma versão muito diferente de mim, tomando como parâmetro o período curto de alguns poucos quatro ou cinco anos.  A gente muda sem perceber e de modo bastante sutil. É assim que a existência vai se desfazendo, se reinventando e deixando um pouco do que fomos  para trás como uma camada espessa de pó sobre o calendário.

Não é por causa da idade ou por alguma concreta situação de vida que essas mudanças acontecem. Na maioria das vezes, elas não tem motivo imediato, são como o resultado do acumulo de diversas micro transformações inspiradas pelo mais simples devir dos fatos. Nem tudo na vida precisa ser explicado, catalogado e superado. Gosto de preservar o irracional sentimento de que as coisas acontecem ao sabor do acaso, de modo selvagem e instável, sem compromisso com qualquer significado possível.  Não tente ter controle sobre as coisas. Isso raramente é possível.


sexta-feira, 13 de maio de 2016

A FABULAÇÃO LITERÁRIA

A fabulação literária configura um abstrato território imagético entre o eu e o mundo.

Podemos toma-lo como uma estratégia de evasão, um afrouxamento existencial que se revela  vital a nossa experiência psicológica do real. Assim, escrever é um exercício psicológico onde contemplamos a autonomia da palavra pacientemente lapidada por nossa configuração pessoal. Jamais ninguém escreverá sobre o mesmo tema o mesmo que uma outra pessoa. Há uma marca pessoal em toda narrativa, um vestígio de identidade. Quando escrevemos nos surpreendemos diante de nós mesmos de um modo realmente sem paralelos. Somos a própria matéria de nossas palavras. E é isso que, em grande medida, justifica a fabulação literária.