segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A VIRTUDE DAS DIFICULDADES

Seus piores momentos jamais serão dignos dos meus. Pois sei da sua vida melhor do que da minha.  Sobreviveria aos seus problemas  serenamente, e até os superaria. Assim como você, talvez, pense igualmente, que poderia superar os meus.

Os problemas pouco importam.  O que é aqui pertinente é que são eles que nos criam. Somos nossos problemas dançando ao raiar de cada dia, como um deboche a nossa infantil fantasia de que somos  virtuosos, justos e dignos da boa razão.


Os problemas são os preços de nossas certezas e de nossas melhores aptidões. 

PRESENTISMO

Em que pesem todos os meus limites, todas as minhas angustias e impasses, ainda busco recriar a vida em mim mesmo como um ato inédito, como um reaprendizado intimo do mundo, contra tudo aquilo que nos é destinado no ordinário dos fatos.

Acredito no absurdo de horizontes novos, de rotinas leves e objetivos novos que não cabem na pauta da sociedade.

Tenho compromisso com o futuro, com o inédito que se inaugura no tempo presente.


domingo, 22 de novembro de 2015

SUPERANDO A FORMA HOMEM


A dobra do tempo presente passa pelo esvaziamento da forma –Homem, segundo Foucault. Trata-se do pensar-outro do pensamento no vazio do homem desaparecido. Em outras palavras, se em Hegel ou em Marx a ultrapassagem do presente aponta para a realização do humano, . Trata-se aqui de, como Nietzsche, pensar a ultrapassagem do presente como um ultrapassar do humano como propósito e medida de todas as coisas.

O pensar não deve permanecer cativo a interioridade do sujeito que pensa, deve ser um pensar do pensamento, uma critica aos pressupostos da razão ocidental. Assim, o tempo presente é definido por um deixar de ser o que somos, por um movimento em direção ao que ainda não somos e , portanto, nos é estranho.
Este inteiramente outro de nós mesmos é o que me parece ser a meta do pensamento contemporâneo. Talvez, como alerta Baudrillard, a realidade tenha se esgotado enquanto sentido.
Como ele próprio nos diz em COOL MEMORIES III (FRAGMENTOS DE 1991-1995):

“A arte foi a transfiguração poética do real. A filosofia foi a transfiguração poética do conceito. O que é preciso transfigurar poeticamente daqui em diante é o desaparecimento disso tudo- do real, do conceito, da arte, da natureza e da própria filosofia.”


sábado, 21 de novembro de 2015

O GRAU ZERO DA INFORMAÇÃO


Seja no espaço fractal ou no espaço histórico, a boa consciência descobre agora seu vazio de ser.  Não há mais uma realidade, algo tangível na cultura humana digitalizada.  Somos desafiados a lidar com o jorro infindável de signos e significados. Somos intimidados positivamente a evitar o juízo fácil, as certezas previsíveis, e qualquer pretensão ao inteligível.
O mundo deixou de ser transparente. A verdade é a maior de todas as ilusões em suas infinitas possibilidades de dizer o real. Já não há mais o real. Apenas a apoteose da informação. Lembrando Baudrillard:

“ Infelizmente o que se passa no mundo está hoje globalizado, e o princípio da globalização vai de encontro ao princípio universal da solidariedade. Isso porque a informação se esgota nela mesma e absorve seu próprio fim. A única coisa que a televisão diz é: eu sou uma imagem. Tudo é imagem. A internet e o computador também não dizem outra coisa: eu sou informação. Tudo é informação. É o signo que faz signo, os mídias que fazem sua própria publicidade. Mensagem indiferente.: grau zero, forma pura da informação.”
Jean Baudrillard. O Paradoxista Indiferente. Entrevistas com Phillip Petit.  RJ:Puzuli. 1999.  P.90


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O PÓS HUMANO COMO HORIZONTE

O humano, enquanto conceito, é uma construção relativamente recente e, pode-se dizer,  perene. Considerando as novas possibilidades de codificação de mundo que começam a se esboçar através dos novos artifícios proporcionados pelas tecnologias digitais, é razoável  especular sobre as metamorfoses da espécie através do estranhamento do seu próprio sentido e do aleatória de suas produções.
Como observa Baudrillard,

“O humano só se definiu a dois ou três séculos, e se definiu muito intelectualmente, em termos de razão. Desde então, a relação com o mundo passa através de um órgão extremamente sutil que é o cérebro. Em outras  culturas a relação com o mundo é a do corpo inteiro, considerado no ciclo das metamorfoses e em harmonia com o mundo. A Nossa inteligência, moderna, racional, faz de nós, desde o inicio seres técnicos, à imagem de nossas ferramentas e de nosso conhecimento. Ora, parece que nossas técnicas e nossas ciências vão hoje além da intelecção humana. Quem sabe se elas não nos fazem avançar para uma nova regra do jogo fundada na incerteza radical?”
Jean Baudrillard. O Paradoxista Indiferente. Entrevista com Philippe Petit/tradução: Ana Sachetti. RJ: Editora Pazulin, p. 119


Avançamos em direção a implosão do real enquanto premissa do conhecimento e, talvez, para um novo tipo de ser no mundo onde as regras ultrapassem o humano como referencia.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

NOTA CONTRA O CONCEITO DE VERDADE


Não somos agentes de nossos discursos. Nós desaparecemos em nossas falas, nos revelamos  como artifícios de nossos pensamentos e consciências. Não se trata  aqui de uma codificação estruturalista do real. Mas a constatação simples e cotidiana de que  a subjetividade nunca esteve onde toda tradição filosófica e tradição ocidental achou que estava em sua metafísica vazia da pessoa humana.

O ultrapassar de si mesmo não passa pela produção coletiva do mundo, mas da eliminação individuada de que ele existe na correspondência das coisas e das palavras. Não existe verdade, não existe sentido. O próprio existir é um conceito vazio. Logo, não nos representamos em nossos discursos, são eles que nos representam enquanto curto circuito ontológico da instrumentalização de um “eu” que é a introjeção imperfeita de certas codificações coletivas de realidade. O telos é uma ilusão.


Mas ainda somos narcisos demais para nos convertemos em reais indivíduos sobre os escombros da ilusão de que vivemos em sociedade e não perdidos em redes abstratas de significados compartilhados.

NOTA SUBVERSIVA SOBRE A LINGUAGEM DAS REDES SOCIAIS


As redes sociais , como todo jogo, pressupõem regras. Ir além delas. Postar aquilo que não lhes cabe, que lhes é indiferente e inverossímil, mas não  questionável, é um ato de descodificação da persona que nos é socialmente imposta, na extraterritoriedade do virtual ou naquilo que ainda consideramos mundo real, é subverter o jogo, perverter as regras...

Depois das redes sociais, o nonsense se transmutou como linguagem e feriu de morte o que achavam que era “A REALIDADE”....


Finalmente é possível que, a reflexão e o pensar, se tornem novamente extremos contra a banalização do sentido da modernidade tardia.

NOTA SOBRE ALTERIDADE E PÓS CULTURA



Alteridade pressupõe que existimos através dos contrastes que nos definem, um  em relação aos  outros. Sua essência é o plural e o híbrido. Por isso podemos tomar a alteridade como o contrário de identidade, como um alterar constante de si mesmo através do jogo social. A alteridade realiza o paradoxo da Individualidade e da impessoalidade como um processo constante de deslocamentos, como um jogo onde  um eu e um outro se percebem como reflexo do artificialismo de nossas codificações de mundo. O outro só pode existir quando também se torna eu, quando as personas já não cabem no rosto..

domingo, 15 de novembro de 2015

UMA MADRUGADA QUALQUER DEPOIS DA TRAGÉDIA

Era um pouco tarde para ficar pensando sobre as coisas. O mundo já extrapolava qualquer possibilidade de entendimento naquela madrugada chuvosa onde toda a minha existência cabia no vazio daquele quarto de hotel.

Tentava fazer planos para o dia seguinte. Mas a rotina tinha seu próprio roteiro e sabia mais do que eu sobre a minha vida.  Não havia muito  que planejar.Eu não tinha nenhuma chance. Sabia apenas que o mundo andava de mal a pior e coletivamente banalizávamos o caos. Já não havia muita realidade nos nossos tantos  absurdos cotidianos  que justificasse otimismos ou mobilizações.

Estávamos todos vazios de mundo e tentando manter a aparência de normalidade. Não passávamos de caricaturas de nós mesmos soterrados sobre toneladas de informações inúteis que desciam sobre nós através da internet. As pessoas estavam cheias de opiniões e embriagadas por conclusões.

Mas tudo que precisávamos era admitir a perplexidade, a impotência e o espanto. O mundo estava se tornando um lugar cada vez mais inseguro, incerto. Isso era tudo que deveríamos admitir.

Era muito cedo para ter respostas e soluções. Mas a maioria não aceitava amargar um pouco de caos e confusão. Precisavam ter as coisas sobre controle, mesmo que unicamente dentro de suas cabeças.


Eu, ao contrário, estava apenas cansado, desanimado e sem esperança.  Não via como poderia ser de outra forma. Eram tempos difíceis...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O FUTURO DO SUPOSTO NARCISISMO PÓS MODERNO

Se a autonomia do indivíduo nas relações societárias contemporâneas se confunde com algum tipo de narcisismo, ele pressupõe antes de tudo a busca por experiências emocionais marcantes, que garantam auto estima e respondam ao vazio ontológico que atualmente define nossa subjetividade.
A racionalização da vida interior nos nivelou ao consumo, a exteriorização e  teatralização da interioridade, em uma realidade social que agora se confunde com o fluxo de imagens e informações.

Já não somos senhores de nossas identidades, nem nossas identidades nos definem. Elas acontecem através de nós, nos deslocam de todo possível enraizamento cultural e afetivo. Narciso revela-se agora como o mais novo anti herói trágico, representando o novo ethos, o andarilho de um deserto cultural que ainda chamamos de mundo.

Não existe mais  desenvolvimento pessoal possível na medida em que perdemos a noção de continuidade histórica, que nos voltamos contra  ao pertencimento ao mundo definido pelo acumulo de ruínas de gerações e gerações.  Tudo que temos hoje é um agora onde todas as épocas são niveladas a superficialidade da citação não identidária. O passado nunca foi tão distante de nós.

Mas esta ruptura de toda tradição também pode transcender o narcisismo, pode nos conduzir a individuação, tornando a instabilidade da consciência diferenciada que nos faz indivíduos psicológicos, um ato  de criação e reinvenção constante de nossas intimas codificações do real.

Nunca fomos tão livres para nos inventar no mundo sem o peso das tradições e, no entanto,  só sabemos perambular atônicos em meio as ruínas de todas as tradições. Não sofremos o peso do futuro, mas não sabemos o que fazer com o presente e não precisamos mais do passado como antigamente....