sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CONTRA A DITADURA DO ABSOLUTISMO RELIGIOSO

Mesmo os adeptos da metafísica religiosa que se predispõe a um diálogo com o ativismo ateísta contemporâneo, partem muitas vezes de uma falsa e lamentável premissa.

Não raramente reduzem a crítica ateísta a critica as concepções “distorcidas” da imago dei e ao combate a certas instituições religiosas que utilizam a fé enquanto fenômeno social motivadas por interesses “duvidosos”.

Assim, paradoxalmente, tomam o ateísmo como um instrumento indireto de uma suposta “autenticidade da fé” a ser resgatada e, consequentemente, como um adversário estranhamente fraterno.

A “boa vontade” de tal argumentação dissolve-se frente à clara incapacidade dos seus partidários em aceitar como legitimo o questionamento absoluto de qualquer premissa metafísica. Não é para eles uma possibilidade relativizar a convicção dogmática de que deus existe e isso absolutamente não é passível de qualquer questionamento relevante.

Caberia apenas discutir, segundo este ponto de vista, as razões que conduzem os “ateus de boa vontade” a recusa de uma verdade dada e tão “evidente” quanto à religiosa.

O que o novo ateísmo busca, entretanto, é muito mais do que a simples recusa ou critica das institucionalidade religiosa e suas praticas coletivas. O que realmente encontra-se em questão é a possibilidade de uma cultura social totalmente desvinculada de qualquer premissa religiosa.


O  ateísmo afirma  que vivemos em uma sociedade plural onde nenhuma verdade é sagrada, nenhum ponto de vista é privilegiado, e convicções religiosas não passam de mais uma entre tantas outras possibilidades de construção de uma realidade socialmente significativa. 

POR UMA VIDA AUTÊNTICA

É muito trivial que nossa conduta seja conduzida pela reprodução acrítica de hábitos de pensamento e não pela primazia de escolhas inspiradas pela crítica dos fatos e das circunstancias.

O acriticismo é o princípio do mimetismo da vida cotidiana.  Isso serve tanto para um acadêmico nova iorquino de esquerda quanto para o individuo mais tacanho de um aldeamento rural localizado em algum recanto da Asia.

Vivemos da microfísica de nossos hábitos mais elementares. O que realmente faz diferença, é o quanto de subjetividade conseguimos investir em nossas praticas coletivas e objetivas, o quanto somos capazes de individuar nossas experiências e imprimir nelas a marca de uma singularidade que contradiz seus próprios lugares comuns.


As ferramentas fornecidas pelos hábitos e práticas de determinada cultura, valores, costumes e padrões de pensamento, já não são suficientes para garantir ao indivíduo o pleno exercício de si mesmo. Nenhuma divindade lhe apaziguará sua auto-consciência ou a percepção de suas contradições internas.

A ARTE DO POSSIVEL

Ninguém faz da própria vida aquilo que quer.
Na maior parte do tempo estamos apenas tentando sobreviver,
Administrar nossas ansiedades
E seguir entre os outros
Por qualquer lugar nenhum de viver.
Nos abrigamos em alguns silêncios
Exercendo sem expectativas

A arte do possível.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MIOPIA

Somos em nossas ansiedades,
Frustrações e inquietudes.
Somos onde não somos,
Onde não vivemos
Ou, simplesmente,
Em tudo aquilo
Em que reconhecemos
Nossa falsa incompletude.
Somos tão radicalmente
Aquilo que acreditamos
Que quase nunca

Nos enxergamos.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

INTRODUÇÃO AO DESAFIO DA BIOSSEMIÓTICA

Não sou biologo, mas me arrisco aqui a fazer um breve comentário sobre um campo relativamente novo da biologia que nos oferece uma original imagem de ciencia e de vida. Refiro-me a biossemiótica.

O termo "biossemiótica" foi pela primeira vez utilizado por F.S. Rothschild, em 1962. De um modo geral, biossemiótica é a ideia de que a vida é baseada em semiose, isto é, em signos e códigos.

Assim, o código genético é apenas um dentre as várias codificações orgânicas que formatam a teoria da evolução, a partir de dois processos elementares: copiagem e codificação. A copiagem dos genes, por exemplo, funciona em moléculas individuais, enquanto que a codificação das proteínas opera na coleções/ordenações de moléculas.

Assim, a evolução atua de modo diferenciado e em contextos variados através de diversas codificações orgânicas.


Trata-se aqui de um novo paradigma cientifico que me parece interessante na construção de nossas codificações cientificas de mundo ao propor um inusitado dialogo entre semiótica e biologia.   Pode-se surpreendentemente considerar, com certas ressalvas, a biossemiótica como um tipo especial de extensão da semiótica peirceana.  

A VIOLÊNCIA DA SIMPLICIDADE

Pretendo sonhar tão profundamente a realidade até atingir o ponto de saber meu querer em movimento através dos fatos.
Não importa o limite do viver de agora.
Meu abismo é a cotidiana realidade de desfazer e refazer o mundo
No grito mudo de cada dia.
Não tenho limites.
Sou os desejos e os sonhos que me transcendem
Através da febre
De  no mais simples das coisas redescobrir

O mais simples da vida.

sábado, 6 de setembro de 2014

O MAIS POSSÍVEL DA VIDA


Espero da vida

Apenas a oportunidade

De me desfazer e refazer

No exercício duvidoso

De um dia depois do outro.

Não espero da vida a mesmice

De mim mesmo

Ou o futuro

De meus antigos erros.

 

domingo, 31 de agosto de 2014

A DOR


Nos define a dor que nos inventa,

Que sentimos e construimos

Nos lugares comuns da palavra aberta.

Nos define o tédio

E o vazio de nós mesmos.

Pois sempre buscamos inutilmente

Algo mais verdadeiro

 que a própria vida.

 

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CONTRA A FALÁCIA DO CONCEITO DE ALMA


Evito utilizar, mesmo que de forma meramente figurativa, a palavra ou conceito de alma para descrever os estados abstratos da condição humana.

Sendo ainda mais radical, considero qualquer recurso a este conceito um arcaísmo de linguagem. Pois me parece definitivamente superada na contemporaneidade qualquer superstição inspirada na falácia do dualismo corpo/alma.  Referir-se a alma, para mim, aliais, não passa de uma anedota neurológica.

Se ainda existem tantas pessoas que se deixam iludir por algo tão absurdo, ignorando o mais elementar avanço do conhecimento cientifico contemporâneo, é porque a ignorância e obtusidade do pensar humano não é definitivamente uma questão de bom senso.

Vivemos ainda em uma sociedade que nos educa para sermos idiotas e perpetuar as mais ridículas formulas do pseudo conhecimento por séculos acumulados ao longo da marcha patética das civilizações.  

O mais curioso é que desde os gregos homéricos ou desde Alcmeon de Crotona, filósofo e médico que viveu por volta de 500 - 450 a.C. e foi, até onde sei, o primeiro a atribuir ao cérebro o merecido lugar de destaque na anatomia humana, sabemos da importância das atividades cerebrais na definição da experiência humana. Alcmeon fora seguido por Hipócrates, até hoje lembrado como pai da medicina. Lhe é atribuida a autoria da chamada Corpus hippocraticum ou "Coleção Hipocrática", principal fonte do conhecimento medico da antiguidade.

Em outras palavras foi à revelia do bom senso cientifico que a tradição do dualismo se afirmou e sobreviveu até os dias de hoje, mesmo sendo tão francamente inverossímil.

Não é nosso conhecimento objetivo das coisas, portanto, que desfaz superstições. Elas existem independente do desenvolvimento de qualquer forma de saber cientifico. As estruturas mentais mudam muito lentamente. Foram necessários séculos para que, por exemplo, a ideia de que a terra era plana fosse descartada pelo imaginário ocidental.

Algum dia estima-se que o mesmo aconteça com a hipótese de uma alma imortal.

 

O EU QUE AGORA LEMBRA O PASSADO


O eu que agora lembra meu passado

Não sabe de todos o outros eus

Que o viveram intensamente,

Toda lembrança é parcial e fragmentária.

Não diz os cotidianos e pessoas

Que me definiram em algum momento.

Não diz minha vida

Ou me permite saber quem eu sou.

O eu que agora lembra meu passado

É quase um estranho.