A ilusão fundamental do intelecto
moderno é a ingênua crença de que a realidade, em sua suposta e decantada
objetividade, possui uma regularidade, um ordenamento intrínseco, sendo a
natureza, portanto, inteligível e, portanto, racional. Assim fica assegurada,
desde que observado o método adequado, a conivência entre o dizer e o viver das
coisas. No acontecer das culturas e sociedades, o trabalho humano sobre a
natureza faz seguir a marcha do desenvolvimento da espécie, destes estranhos
bípedes, desde sempre predestinados a reinar neste pequeno e belo planeta.
A ilusão de tal raciocínio está
na ignorância do fato de que somos nós que inventamos a
natureza que observamos , que todo conceito, qualquer fenômeno, é uma
construção ou condição de nossa percepção. Tudo que para nós existe só pode
existir em termos humanos. Projetamos em tudo que existe nossa condição humana.
Decorre desta simples constatação
que nenhum conhecimento é esclarecimento ou desvelamento de um ser oculto das
coisas pelo precioso dom de nossa racionalidade. Não somos especiais. Apenas
narcisos a ponto de fazer de sonhar o mundo a sua imagem e semelhança. Compreender
o mundo é entender como pensamos e produzimos a realidade.