As pessoas são sempre o centro de
suas próprias vidas na medida em que a realidade só existe enquanto consciência
de algo fora de nós. Em contrapartida, não é obvio o que significaria o oposto “dentro
de nós”. Pois o que somos é pura abstração. A auto consciência é um dado, mais
do que um conceito. Não há como julga-la de fora dela mesma. Logo, somos em
nossa consciência e ela é a medida de todas as coisas concebidas.
Pode-se dizer, entretanto, que a
própria autoconsciência, em suas atuais configurações, é formatada pelo mundo exterior através da
cultura. Logo, a própria auto consciência é uma construção social. Tal hipótese não exclui a primeira. Apenas a
complementa. Pois a auto consciência é, paradoxalmente, as duas coisas. A auto consciência
se define como consciência de alguma coisa estabelecida na dialética com o
mundo. Ela é auto representação que se forma como consciência de alguma coisa
que ela não é, que a transcende e, ao mesmo tempo, engendra.
Assim, se tradicionalmente, a
questão da auto consciência remete a ideia de identidade e de Ser, hoje tais
grandezas já não exercem grande importância na definição da questão. Pois o Ser
e sua metafísica já não são entidades do pensamento, não dizem quem somos
enquanto abstração coletiva.