terça-feira, 26 de março de 2024

AUTONOMIA & ALTERIDADE

Autonomia é a arte 
de viver para si
e não para os outros.

É inventar-se com criatividade 
na impessoalidade do mundo,
esboçando-se sempre como permanente e inconclusa experiência de singularidade.

É ser independente em todos os intercâmbios e associações
 afirmando, assim,  a liberdade
como  radical premissa
 do viver comum.

É escapar ao conformismo moral,
as verdades universais,
as relações de poder,
hierarquias e rebanhos.

É exercer a ética como prática de alteridade.
É co-habitar,
conviver,
saber sempre o outro
sob o filtro da igualdade,
 do mutualismo,
na composição dos corpos
através dos afetos que nos transbordam.



domingo, 24 de março de 2024

MEU ÚLTIMO DESAFIO

Meu novíssimo objetivo
é ultrapassar a modernidade,
a humanidade e a linguagem.
Transcender de uma vez por todas
qualquer resquício de metafísica, humanismo,
 iluminismo e eurocentrismo
que por acaso ainda me   entorpece a percepção,  a imaginação e os sentidos.

Não quero ser parte de nada,
não ser assujeitado por qualquer efeito de verdade
ou permanecer preso a ilusão dos outros e de mim mesmo.

Meu novíssimo objetivo
é a intuição da liberdade
de ser fora de mim,
de qualquer relação de necessitade e poder,
na indeterminação do devir que me consome
como tempo e espaço.

A LETRA E A VOZ

A voz transcende a escrita,
o livro e a escola.
Circula entre os corpos
conectando ouvidos e bocas.

A voz não tem dono, 
não conhece limite 
e faz do som o seu corpo
em movimento e sonho.

A voz é repetição,
esquecimento e memória.
É singular e plural
e desafia a tradição,
o elitismo e a erudição.

A voz recusa o coro,
a ilusão do rebanho,
é metalinguagem
na ressignificação da solidão.

quarta-feira, 20 de março de 2024

INDIGENTE

Antes de morrer
pode ser
que eu me faça
subversivamente um ninguém.
Que eu me torne alguém
que escapou da civilização,
da Razão,
do moralismo cristão,
da prisão de ser e ter
em um mundo apodrecido
por toda forma de poder e ambição.

O melhor futuro possível é ser indigente, inconveniente e impertinente,
reivindicando o impossível
contra o questionável progresso 
de nossa maldita humanidade.
Só há liberdade onde se inventa a resistência e margem.


segunda-feira, 18 de março de 2024

O PARADOXO DO ESPAÇO TEMPO

O tempo muda as coisas
que morrem ao sabor dos anos
enquanto as coisas mudam o tempo
e inventam os anos.

Nunca há acordo entre os anos e o tempo.
Há apenas movimento,
depois inércia e silêncio,
a indeterminação e incerteza de cada momento.

O tempo  é sempre um mesmo
e diferente instante
que jamais se repete.

Ele é o que passa
e não aquilo que  inventa
a memória.
Pois tudo nele se perde.

INCERTEZAS

Viver é estar a espera,
ser em espectativas.

É inventar o previsível,
o estável e o regular
na necessidade do possível.

Assim, ignoramos o inesperado,
o imprevisível,
fazendo de conta
que há segurança
onde nada é estável ou definitivo.

Viver é estar sujeito a mudanças
que ninguém controla.
É perder-se sempre de novo
diante do desconhecido.


domingo, 17 de março de 2024

DEFINIÇÃO DE LIBERDADE



Liberdade é uma palavra para o que não tem e nunca terá um nome.
É o sem tempo de uma  infância
sorrindo sempre dentro da gente,
é uma existência potente,
um viver contra o Estado
e ser além de toda  opressão.


Liberdade é  coisa que não se aprende,
que ninguém ensina.
É algo que todo mundo cria,
 inventa.
É um existir sem deuses, senhores ou reis.
É o jeito que a vida dá para acontecer.

quinta-feira, 14 de março de 2024

O MUNDO SEGUE EM DESASTRE

O mundo segue em desastre
por toda parte
 enquanto o tempo passa e a gente envelhece.

 Amanhã será o mesmo dia 
que me viu acordar para suportar silêncios 
 conformado a rotinas
 e acumulando arrependimentos.

 O mundo segue em desastre
 e cada um de nós é parte ativa
 desta triste fatalidade.

 Nas horas tardias 
insônias ensinam
a suportar a realidade. 

 É tarde demais para viver de verdade,
 é cedo demais para morrer.

 O mundo segue em desastre...

domingo, 10 de março de 2024

CRISE EXISTENCIAL

Estou cansado de sobreviver
neste tempo, nesta vida,
neste lugar  e momento,
acumulando passados,
saudades e silêncios.

Estou cansado de uma existência rasa,
Farto de simulacros,
de existir como uma consciência
quase indiferenciada
deteriorando lentamente
ao sabor dos anos.

Estou cansado do progresso da civilização,
do desenvolvimento nacional,
da tutela do Estado e de todas as mentiras da religião.

Estou cansado ...



domingo, 3 de março de 2024

A MORTE DA LITERATURA E O SUMULACRO DA REALIDADE

Nasce morta hoje em dia
toda forma de escrita,
de criação de sentido
ou invenção semiótica.

Toda literatura está morta,
confinada a prisão do comércio de livros,
ao capricho dos críticos,
a vaidade dos autores
e a indiferença de alguns poucos leitores
prisioneiros de bibliografias.

Hoje nasce longe da vida
toda forma de escrita
ou coleção de palavras.
Não há mais  virtude entre os bem letrados
que redescobriram a realidade
como um modo de ficção
ou sofisticada forma de simulacro
e ilusão
mas intensa do que a própria existência.