sábado, 24 de fevereiro de 2024

FILOSOFIA DA COMUNICAÇÃO

Ninguém mais escuta o que disse
ou sabe o que ouviu.
Há apenas informação circulando
acima dos fatos e opiniões
na racionalidade burra dos algoritmos.

Em breve seremos todos devorados
pelo entusiasmo das convicções.
Pois os fatos não ultrapassam
a banalidade dos enunciados
no fundo do poço de tanta retórica.

 já superamos toda teoria da representação
e sabemos que as palavras não correspondem as coisas
nem dão conta da imaginação.

Há discursos demais,
informações demais.
Palavras demais.
Muita tagarelice.

Ninguém mais escuta o que disse
ou sabe o que ouviu.
Todos falam demais
se fazendo de sábios
 ou sabichões.
 cada um segue preso
a sua pequena bolha de  razão.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

NASCER & MORRER

Nascer e morrer
são experiências que transcendem
nossa auto consciência.
São limites além de nossa própria existência.

Nascer e morrer 
são as fronteiras do corpo,
os frágeis limites que separam
o eu e o nada,
o silêncio e a palavra,
o ato e o esquecimento.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

QUASE CEDO

Sei que ainda é cedo 
para arrumar as malas
 e ensaiar despedidas. 

Mas um fim já nos aguarda 
onde começa o resto de nossas vidas.

 Sei que ainda é cedo
 para nossa partida, 
Mas parte de nós Jaz desde já ausente 
e comedida.
 Pois há ponto final,
mas não há saída.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

SEM NOVIDADES

Não há novidades contra a normalidade,
contra toda modernidade que nos rouba futuros e sonhos.

O mundo não para de morrer
e o amanhã, ainda, está longe de nascer.

Sendo assim, tudo que importa é sobreviver
entre o passado e o futuro
equilibrados no possível
do quase distópico.

Lamento por todos que irão nascer,
 sobreviver, sem novidades,
nos últimos dias das humanidades.
 







quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

PSICOLOGIA DO ALTRUÍSMO

Há algo sombrio
no coração daqueles que reivindicam bondade
ou fazem apologia do altruísmo e da mais desinteressada generosidade.

Há quase sempre
uma motivação  inconfessável
 no coração dos agentes da  solidariedade,
uma obscura necessidade de poder, controle e  superioridade,
que não ousa diagnosticar
a mais profunda psicanálise.

Cuidado com os benfeitores da humanidade
que quase sempre alimentam
a brutal autoridade dos mais cruéis  ditadores
apenas para satisfazer  sua infinita vaidade.

O fato é que quase sempre,
no coração da bondade,
bate algum tipo de insuspeitável  maldade.




sábado, 3 de fevereiro de 2024

A NATUREZA DA PSIQUE

O homem é o cérebro.
O mundo é o cérebro.
O dentro e o fora
são o cérebro.
A alma é o cérebro.
A linguagem é o cérebro.

O Si mesmo está, entretanto,
de alguma forma,
além do cérebro,
do homem e do mundo.
Pois ele é natureza,
o não lugar de todas as coisas,
o simulacro absoluto.


quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O QUE ME IMPORTA

O que me importa
é o que nunca será dito
ou escrito.

O que permanecerá inaudito,
incompreensível,
dentro do nosso mudismo.

O que me importa
é o que faz toda palavra morta.
É este silêncio que apaga
tudo que foi possível.
É está faltando que me preenche
como um rio que me afoga.

O que me importa
é tudo que não tem resposta.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

SUBJETIVAÇÃO

Nunca serei sujeito de nenhuma verdade 
ou prisioneiro de qualquer identidade.

Minha subjetividade se faz na arte
de me reduzir a miragem,
de me deixar seduzir pelo devir e a paisagem.

Ser é, para mim,
 sempre me perder em algum ponto móvel
entre o mundo e mim mesmo,
entre silêncio e linguagem,
além da aparência e da essência.

Viver é não ser parte de nada
na experiência de tudo.
É nunca ter expectativas.
É aprender a morrer
na eternidade de cada segundo.

Não há diferença significativa
entre um ser humano e uma barata.


domingo, 28 de janeiro de 2024

EXISTÊNCIA E INCERTEZA

O não lugar de mim mesmo
é o canto incerto de cada coisa
que define o mundo
ou acontece  muda
na mudança do simples passar  das coisas.

Sou eu uma não referência de tudo,
o paradoxo do dentro do fora.
Meu lugar é a morte
que me sustenta a vida
como vertigem e incerteza.

Desde sempre,
tudo que sei,
é que quase existo.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

MEU MODO DE SER NO MUNDO

Eu sou o que vejo
e o mundo é como eu sou.
Mesmo que eu seja ninguém
e o mundo seja sempre muitos,
apesar de único.

Sei que  mudo o tempo todo
e o mundo é sempre um  outro
inventando o futuro.

Talvez um dia eu me torne alguém,
antes que o nada me arranque de tudo.

Mas, bem lá  no fundo,
onde eu não vejo
e não sou o mundo,
há um rosto mudo
esperando por mim,
ou por alguém,
que nunca chega,
e sempre está por vir,
ou esperando que o dia amanheça.

Na vida,
tudo que há é transição ,
indeterminação e incerteza.

Sou como me vejo no mundo
e não como o mundo me enxerga.