quinta-feira, 23 de novembro de 2023

MINHA VIDA

Minha vida é pequena,
precária e provisória.
Quase não cabe no mundo
que lhe é indiferente,
que mal sabe o tempo
que lhe torna efêmera e urgente.

Minha vida são todas as vidas
das quais ninguém sabe agora.
É o que passa,
o que se esquece,
o que devora a hora
ignorando o mundo
que agora morre lá fora.


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

SEM FUTURO

Vimos nosso futuro morrer
diante de nossas atonicas infâncias.
Vimos o pesadelo acordar entre os fatos,
o deserto crescer contra a realidade
e o dia escurecer nossos sonhos.

O passado cobriu os telhados
de nossa cidade morta.
Nada nos restava fazer
a não ser contemplar o outono
do mundo que nos viu nascer.

O tempo roubou a vida
que nos esperava 
depois do dia seguinte.
Devorou nossas lembranças,
quebrou nossas certezas.

Tínhamos apenas o agora,
sem antes e depois,
contemplando o vazio da eternidade 
com o cadáver do futuro
aos nossos pés.




RADICALIDADE NIILISTA

Apenas os niilistas são radicais.
pois a raiz, 
a profundidade das coisas,
é nada,
sem deuses, razão ou humanidade.
Fora isso somos animais estranhos
que se envergonham da própria animalidade.



sábado, 18 de novembro de 2023

A TEMPESTADE COMO REVOLTA

Preciso somar todas as chuvas da minha vida
no caos de uma tempestade quase infinita.

Destruir com fúria toda cidade,
toda ordem e autoridade,
desfazer todas as rotinas,
conformismos e silêncios,
entre raios, trovões e ventos.

Preciso reinventar o mundo,
redescobrir  a vida,
através da fúria dos quatro elementos
pelos quatro cantos do planeta.

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

O NÃO SENTIDO DA VIDA

Nada é feito de fatos .
Tudo é interpretado ,
inventado, transformado,
pelos atos de nossa imaginação.

A realidade é mais frágil que a vida.
Tudo é jogo,
uma grande ilusão.

Não acredite em grandes explicações,
ou nos que insistem em impor 
algum propósito a nossa existência
para controlar nossas vidas.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

VARIAÇÕES SOBRE O NADA

Tudo que faço guarda um silêncio
um vazio que me preenche,
que me acontece,
como o mar acontece
a insignificância da gota d'agua.

Não importa o que eu faça.
Tudo que sou é um nada
dentro do nada
em busca de alguma coisa
que resultará em nada.

Nada é suficiente.
Nada me basta.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O CORPO COMO MEDIDA DA EXISTÊNCIA

A consciência é frágil, limitada e insignificante.
É um quase fora do corpo,
algo que lhe acontece
quase a revelia do sistema nervoso.

A consciência não vale
as palavras que cospe.

 Tudo que importa é o corpo.
É ele o que existe,
 quem nos define.

O que morre e o que mata
é o corpo.




VELHICE

Vivo para a atualidade do meu  passado,
para a memória
que me enraíza nas pessoas,
lugares e coisas,
que desfilam semi mortas pelo meu efêmero e pequeno mundo de imagens vivas,
 sempre definhando,  em seu paradoxal eterno retorno do para sempre perdido.

Vivo para o tempo dos meus dias quase extintos,
para contemporâneidade das ruínas,
dos mortos e dos silêncios
que definem agora toda minha existência.
 

domingo, 5 de novembro de 2023

INVENTO MINHA LIBERDADE

Invento minha liberdade
na medida em que me faço cotidianamente rebelde,
em que rejeito toda autoridade,
seja humana, divina
ou narcisista.

Faço -me livre 
sempre que repúdio todo poder,
toda norma,
 que que me diminui
e domina,
que me reduz a letra da lei,
a ação da polícia, do juiz ,
 dos doutos, dos moralistas
e das gramáticas.

Recuso todas as mentiras feitas e ditas pelos escravos da Igreja e do Estado.
Não me submeto aos seus tribunais,
delitos, prisões, penas e rótulos.

Invento minha liberdade
na medida em que excedo limites,
em que  tenho veementemente  questionado, desqualificado,
e cuspido em toda repugnante autoridade e hierarquia
esculpindo no escuro da civilização 
a sombra do meu corpo nu,
bárbaro e bruto.

Invento minha liberdade na medida em que nunca me enquadro
e juro lealdade ao diabo.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O ESTRANHO ESPETÁCULO DA REALIDADE

A imaginação,
a fantasia e a ficção
são a prima matéria da realidade.
Realidade que nos invade o corpo  como percepção e sonho,
traduzindo as metamorfoses da natureza
através  da alquimia das multiplicidades e singularidades das coisas
que se comunicam,
que se movem e transmutam,
dançando a vida e a morte,
cantando o eterno retorno do fim e do início,
realizando, assim, 
através de um magnífico esforço despido de qualquer sentido,
o agonistico espetáculo de um universo
que, além da terra mãe,
como um insondável precipício,
transcende toda realidade
no sem fundo de sua escuridão infinita.
Cada um de nós é um pequeno planeta
insignificantemente grande
em sua valiosa irrelevância.
Somos imagem e semelhança da terra mãe.