quinta-feira, 1 de junho de 2023

VISLUMBRES DO SÉCULO VINDOURO

O século XXII não será assombrado por nós.

 Com um pouco de sorte, 
 ele será o século da pós história, 
do pós Estado e da pós razão,
consumado o colapso da nossa triste civilização.
 
 Será o tempo dos corpos, da natureza, do caos, 
no devir das metamorfoses e transições infinitas.

 Este século que nos procederá,
que hoje ainda  transcende 
todo poder de nossa imaginação,
não será governado pela razão,
seja ela humana, divina ou natural.
Será uma época livre do peso dos tempos idos,
Será um reinício,
um novo e pós humano  princípio do mundo.

CONTRA O ARDIL DE NOSSAS CONVICÇÕES

Seja inspirada pela vaidade,
 pelo amor divino,
 pelo bem comum,
 ou, ainda, 
 pela sedução ardilosa de qualquer ideal de verdade, 
é sempre indigna a  pretensão a colonização imaterial do outro,
 a intenção de conformar consciências e sensibilidades 
 á imperativa vontade que nos escraviza através do desejo de eternidade.

 Recusar sempre a intenção de rebanho,
a pretensão a monumento,
 é cultivar a liberdade como modo de vida,
a margem de todas as idolatrias modernas,
de todas as prisões que nos definem,
é ousar principiar um mundo novo.

A VONTADE DESCRENTE

Falta em nosso estreito horizonte de ação  
a inspiração de uma grande descrença.

Falo daquela coragem inconsequente que move os niilistas
que sem ter nada a ganhar ou perder
renunciam a nossa anêmica e humana existência.

Como selvagens
eles investem contra a realidade,
valores e formas de vida 
hoje dominantes
certos de que tudo morre,
tudo cai,
frente uma vontade insurgente
que antecipa o nada que move o amanhã .

Não somos senhores de nosso tempo, 
Verdades e vidas.
Somos algo que passa e morre,
como tudo que porta vida.

Não há esperança no cemitério de crenças dos dias atuais.
Há apenas uma vontade de nada 
que cresce em todas as direções da existência
dando forma a uma intensa e libertária rebeldia.










sábado, 27 de maio de 2023

TEMPO, MEMÓRIA E SUBJETIVIDADE

Somos inventados
pelas lembranças que carregamos
desvelando a metafísica dos acontecimentos
que nos transformam.

O tempo, a vida e os outros,
 afinal,
apenas existem
como um exercício de imaginação e linguagem.

A realidade só  possível
 através de um jogo injusto 
entre esquecimento e memória
que nos acorda qualquer sentimento de verdade.

Existimos como passados que se alimentam do próprio futuro.
Para nós o amanhã não existe.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

EM NOME DA LIBERDADE

Faz parte da luta pela liberdade perceber as grades
 que nos limitam os atos,
 sacudir as correntes que nos prendem, 
e as opressões que cotidianamente sustentam
 a miséria da ordem vigente.

 Faz parte da nossa revolta compartilhar a angustia,
 desconstruir verdades,
 destruir ídolos e autoridades,
reinventando a vida
todos os dias.

Faz parte da luta pela liberdade
questionar a si mesmo,
reconhecer a fragilidade
de toda subjetividade.

domingo, 21 de maio de 2023

TEMPO ENIGMA

O tempo é a grande angústia dos viventes
e o pesadelo de quem ama.

É o mais franco inimigo 
dos valores, dos amores
e de todas as realizações humanas.

Pois o tempo se faz  no avesso do ser,
Coincide  com a virtualidade da vida e da morte do corpo
em um mundo que sempre continua a ser.

O tempo, de tão concreto, corrosivo
e abstrato,
paradoxalmente, não existe.
 É puro não ser em seu fudio modo de acontecer.

Ele é a mais radical das ausências.
Não é  uma condição, lugar
ou presença.

O tempo é aquilo que a tudo escapa
como experiência e conceito.
Ele tem sempre o nome do que nos mata.
O tempo é a contra face do esquecimento.
É como um sonho desfeito  no próprio ato de ser sonhado.


sábado, 20 de maio de 2023

UMA VIDA SEM ESPERANÇAS

 Sigo de um dia ao outro 
Sobrevivendo 
 de pequenas  rotinas
em minha quase invisível existência
sem nenhuma grandeza
ou dignidade.

Não esperem, portanto, 
de mim 
qualquer heroísmo.
Nem tentem me fazer crer
 em  ilusões de redenção,
progresso ou sucesso.

O futuro é a morte
 em um mundo 
onde a vida  não vale  a pena.
Onde nossos problemas não terão solução.

Todas as infâncias morrem precocemente.
Nunca terminamos de nascer.
Nunca começaremos a viver.
Existimos, todos,
de maneira muito duvidosa.






domingo, 14 de maio de 2023

NIILISMO & LIBERDADE

Liberdade é não estar preso a nada,
nem mesmo ao efeito da palavra liberdade.
É desconstruir toda línguagem
construindo distâncias.
Seja em relação a si mesmo, 
aos outros, a vida, ao tempo, 
a verdade, aos aplausos,
 aos silêncios,
ao momento e a todos os lugares 
que  um dia provaram 
a incerteza
dos meus pés descalços e desaparecimentos.

Liberdade é não acreditar em nada,
é desmobilizar -se,
desmoralizar -se,
desterritoriarizar-se,
desconfiar de tudo,
desvelando a arte como uma arcana
forma de nada, ilusão e morte.
É nunca ter sorte.

Liberdade é acontecer na preguiça,
no sono,  na ausência absoluta.
Surpreender-se em solitário e anônimo protesto contra tudo que existe,
que não existe, 
até desaparecer 
 na imanente metafísica do informe,
do esquizóide, do nada de qualquer fim de tarde 



segunda-feira, 8 de maio de 2023

A REALIDADE É O QUE FOGE DE NÓS

A realidade está sempre
em outra parte,
além do pensamento, 
da palavra e do ato,
como um impreciso constrangimento.

Ela é o silêncio depois do discurso.
O vazio de um livro fechado
e o cheiro agradável de um prato de boa comida.

A realidade é o que foge de nós
em todos os lugares.
É o além do objeto.
É o quase do acaso
de um acidente subjetivo...

domingo, 7 de maio de 2023

A VIDA COMO PATOLOGIA

A vida irreal de todos os dias,
nossa teatral existência vazia,
Aquém de toda representação, 
além dos atos de linguagem,
 dos jogos de imaginação e disciplina,
é o que nos define,
mas não nos explica.

A vida despida de si mesma,
 simulada, produtiva,
 desfigurada, violentada
e prostituída por toda forma de fé e poder,
é tudo o que somos, ou que nos tornamos,
contra nós mesmos.

Fizemos de nossas vidas a quase morte
de uma existência apodrecida.
Assim procedemos para o triunfo da razão e da boa ordem das coisas vivas.