O cérebro e o sistema nervoso, suas propriedades físicas, são realidades mensuráveis para explicar a percepção e comportamento humano, a mente, por sua vez, (enquanto entidade subjetiva autônoma) é algo evidentemente sem substância ou realidade mensurável. Como considera-la como personificação de nossa " essência"?
No fundo, questionar se existe uma mente ou um sujeito por trás dos enunciados produzidos por uma máquina, não é diferente do questionamento se tal sujeito existe em nós.
O fato é que não somos mais suficiente mente ingênuos para , hoje em dia, ainda supor, conforme ainda insistem os tantos dualistas de ocasião, a Nous ( mente) como uma substancia universal e criadora, algo além e independente do sistema nervoso e da matéria. Conhecemos demasiadamente o funcionamento de um corpo humano para perder tempo com tal asneira metafísica.
Mesmo assim, a maioria de nós permanece determinada a negar o fato de que a razão não nos torna especiais, nem detentores de uma alma ou essência imortal independente do corpo.
Neste sentido, o problema da inteligência artificial e seu desenvolvimento pode nos ajudar a entender nossa inteligência natural ao servi-lhe radicalmente cada vez mais de espelho. Talvez a velha pergunta sobre quem somos nunca tenha feito sentido, pois não somos...
Por outro lado, contra o dualismo metafísico podemos invocar a unidade materialista entre mente e corpo para reivindicar a subjetividade não como um simulacro,mas como uma realidade pragmática.
Lembrando Kal Popper:
"Um bebê recem- nascido é um " eu"? Sim e não. Ele sente; é capaz de sentir dor e prazer. Mas ainda não é uma pessoa no sentido de duas afirmações de Kant: "Uma pessoa é um sujeito que é responsável por suas ações.", e " Uma pessoa é algo que é consciente, em momentos variados, da identidade numérica do seu "eu". Assim, um bebê é um corpo humano que se desenvolve- antes de se tornar uma pessoa, uma unidade de mente e corpo."
O eu e o cérebro by Kal Popper e Jonh C Ecces in O eu e seu cérebro
A questão é se realmente, em algum momento, nos tornamos uma pessoa sobreposta ao corpo que nos define, ou, permanecemos sendo unicamente um corpo do qual a percepção e a consciência não passam de mero apêndice.