segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

CORPO ENIGMA

Meu corpo é mundo
e movimento.

É dentro e fora,
longe e perto,
ausência, tempo
Percepção e consciência.

É ato indeterminado,
anti -verbo,
 efêmera matéria
 provisoriamente organizada
  em vida,
 afeto e ilusão.

Meu corpo é revolução,
 devir, natureza e morte,
vertigem, enigma e imaginação.

Apesar disso,
ele só existe onde não é,
onde um outro persiste
como necessidade.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

NIILISMO ESTRUTURAL

Ninguém acredita naquilo que pratica.
 Ninguém se reduz a persona de sua identidade. 
Não há realidade em nossos belos discursos. Nenhum valor significa a vida.

 Nossa condição humana 
não passa de um grande deserto
 e o amor é uma mentira. 
Infelizmente, 
nada disso nos é ensinado na escola
Mas configura o tédio de todas as nossas possíveis rotinas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O EQUÍVOCO DA VERDADE E DA CIVILIZAÇÃO

Cada um segue,
ao seu próprio modo,
cego e enganado
por meia dúzia de convicções,
princípios e ilusões.

Eis o resultado de alguns anos de educação:
Cada pobre indivíduo contemporâneo
Vive mansamente  condicionado
a alguma impressão de verdade,
certeza, vaidade ou vontade de mundo,
que o faz levantar todos os dias
para uma rotina vazia 
que hipotetica ou hipocritamente
o torna útil a sociedade.

Sociedade esta, cabe dizer, 
formatada por  poderes absurdos, desigualdades e insanidades inimagináveis,
que fazem parecer  utópico qualquer ideal de bem comum ou felicidade.

Mas mesmo se horrorizados ou indiferentes a tudo
nos entreguassemos aos  prazeres efêmeros
de um raso viver amoral e imediatista,
ainda assim permaneceriamos como vítimas da ilusão
de qualquer convicção vazia.

Afinal, É próprio do humano
inventar justificativas, motivos e identidades
para suportar a brutalidade de sua própria insignificância e miséria existêncial.

É próprio do humano julgar,
esperar e querer o infinito 
em lugar de simplesmente experimentar e perecer sem qualquer vontade ou espectativa
que transcenda o instante.














segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

ENTRE OS CONVICTOS, NÃO DIALOGUE

Gosto de ter alguns silêncios guardados comigo.
Nunca sei quando poderão ser úteis
para refutação de tagarelices.

Ignorar certos discursos é um sinal claro de lucidez
 quando as línguas dançam insanas nas bocas fanáticas  dos convictos .

 Contra elas o silêncio é sempre o melhor argumento. Pois não se deve perder tempo com os obsessivos amantes da verdade. 
É preciso evitar  o contágio, a armadilha de falsos diálogos.

PASSEIO NA PRAIA

Saturado de informações, 
Opiniões e conclusões, 
Foi passear na praia, 
 Beber o mar, 
deitar no colo de uma preguiça 
e esquecer o mundo. 

 A ignorância, 
afinal, é um dos nomes do paraíso. 
As vezes tudo que importa 
É não ter nada a dizer, 
Não pensar,
Não querer, 
Não ser,
viver as ondas do mar.

domingo, 22 de janeiro de 2023

O PENSAMENTO COMO NATUREZA CONTRA O PESADELO DAS ALMAS ELEVADAS

Pensar é uma forma de imaginar,
uma modalidade do sonhar,
de ser mundo, terra e natureza.

Todo bom pensamento deve dançar descalço,
aprender a intimidade de um chão.

Afinal, a  realidade é tudo aquilo que escapa
a nossa elevada e abstrata ilusão de humanidade,
a vertigem de céu dos nossos sublimes discursos,
a nossa aversão a carne e a morte,
que nos manteve, por séculos ,
reféns do abstrato pesadelo anti natural das almas.

Apenas as crianças sabem pensar.
Pois pensar não passa de um modo de brincar.

domingo, 15 de janeiro de 2023

MITO, VIDA E MEMÓRIA

A vida acontece além de nós,
in illo Tempore,
como uma marca,
um padrão,
que em sua singularidade
sempre retorna impessoal 
como um outro de si
através da singularidade
de cada organismo vivo.

A vida está sempre do lado de fora do tempo
e na inconstância do espaço.

Ela é consciência,
ação do espírito sobre a matéria
ou, simplesmente, memória
intercalando eternidades e sonhos.

A vida é mitologia,
criação e ato,
uma imaginação que nos inventa
na medida que se reinventa incerta.

A vida, talvez, não exista.


A VIDA DE HOJE

Todas as coisas que hoje definem a vida
são inexatas, provisórias e detestáveis.
Alguns dirão que assim sempre foi e será 
através das épocas
demonstrando uma sensibilidade duvidosa
para as questões últimas do devir humano.

Hoje, como nunca antes, somos governados pelo efêmero e o particular.
Deus está morto
e fomos condenados a liberdade.

As leis e as autoridades não convencem ninguém,
não acreditamos na razão moderna
e soa ridículo todo poder e hierarquia.

Aos que repelem as opiniões de manada,
a realidade revelou-se a mais sofisticada forma de ficção.
Poucos sabem aprecia-la como se deve
e rindo de tanta ilusão.




quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

CONTRA A VERDADE, A RAZÃO E A FÉ

Transcendi,
Sem grande esforço,
o peso das identidades,
convicções e tradições
que me definiam o mundo.

Troquei o possível pelo imprevisível.
Provei a liberdade dos mendigos
e a sensibilidade de um deus vadio.

Descartei toda mania de poder,
toda ilusão de verdade
e dogmática miséria de qualquer forma de fé.

Aprendi o acaso como caminho
e me abriguei no silêncio mais sublime
para nunca mais me perder
na prisão abstrata
da afirmação leviana
de alguma  certeza universal e sem graça. 


sábado, 24 de dezembro de 2022

A MORTE DA REALIDADE

A crise é um modo de ser
em tempos em que tudo
é linguagem,
informação,
e todos os valores
estão em colapso
tornando precária
toda significação.

A maior parte de nós
é inconsciente
e não configura
modos de subjetivação.

O tempo é o espaço do agora
onde quase existimos
em nossa delirante imaginação.

O mundo se torna,
cada vez mais,
uma metáfora impossível.