sexta-feira, 18 de junho de 2021

O ÚLTIMO CANSAÇO

Cansado de estar cansado
deito hoje inconformado
sobre o tumulo da minha vontade.
Dormirei agora o sono dos naufragos afogados
que souberam o futuro como desastre.
Amanhã será,  outra vez,
muito tarde.

domingo, 13 de junho de 2021

ARCAICA METAMORFOSE ANTI CIVILIZATÓRIA

Quero ser livre de tudo que me define,
arrancar de mim esta roupa
que me veste de mundo, 
até  saber a liberdade de sonhar a vida mais que vivida,
produzir outra realidade,
sentindo meu corpo nu  
e em  um outro regime de voz e existência,
além do tempo e cultura,
que me prende ao triste acontecer do presente.

Quero fazer parte do futuro da natureza,
dos animais, das plantas,
e das pedras,
em palavras sem berço,
iletratas, selvagens,
e indiscretas.




sábado, 12 de junho de 2021

SILÊNCIOS REBELDES

Há sempre silêncios 
gritando em nossas palavras,
desdizendo enunciados banais,
certezas midiaticas,
e conformismos.
Há dentro de nós uma raiva muda,
uma vingança adiada,
uma revolta oculta,
contra o tempo e o mundo.

Há sempre um monstro no espelho...




sexta-feira, 11 de junho de 2021

ESTRANHAMENTO

Ontem acordei diferente.
Mas nada havia mudado.
Apenas qualquer coisa,
no dentro do fora de mim,
tinha se quebrado.

Surprendia- me no instante
um vento novo 
que escapava ao momento. 

Já não  era antes ou depois.
Apenas me sentia longe,
despido da vida 
que me vestia todos os dias.


segunda-feira, 31 de maio de 2021

O SILÊNCIO DA VIDA

Hoje em dia as palavras governam a vida,
mas a vida não  inventa as palavras.
A vida segue perigosa ,selvagem 
& insensata
nos subterrâneos de nossos silêncios.
A vida se insinua em tudo que é  obscura sombra
e ainda carece de nome
no mais profundo e fundo
do corpo dentro do mundo.
A vida é o intempestivo do caos e da revolta.


LIMITE

Não há vagas.
Não é justo.
Não faz sentido.
Não afeto.

Acabou a esperança.
Resta gritar.
Arrombar a porta do sonho.
Enfim, delirar.

terça-feira, 25 de maio de 2021

O FILHO DO VENTO

Tudo é  tarde demais.
Seja agora,
ontem,
ou amanhã. 

Meu momento é  a superfície  profunda
do indeterminado finito do sempre,
do urgente,
que foge ao mundo,
ao transcendente,
e brinca com o tempo.

Há em mim um sempre sem esperança ou eternidades,
niilista,
impertinente.


Tudo é  tão  intenso
enquanto dura
que ignoro a intuição  do nada
e a verdade do silêncio. 

Sou imagem e semelhança  do vento,
livre e selvagem,
nas vertigens do pensamento
como corpo e matéria  em movimento.



segunda-feira, 24 de maio de 2021

INCONSTÂNCIA

Vou te contar um segredo:
Amanhã,  pela manhã,
o mundo não será o mesmo.

Mesmo que ninguém perceba,
a vida muda o tempo todo.
Há mortes e nascimentos
como existem dias e noites.

Amanhã seremos outros,
mesmo persistindo em nós mesmos,
através de um hoje que não existe.

Jamais seremos felizes.
Vivemos no incerto do rosto
que contradiz o reflexo no espelho. 





sábado, 22 de maio de 2021

CONSCIÊNCIA NEGRA

Não  quero um rosto decorando minhas palavras.
quero meu corpo negro, 
urgente e vidente,
no presente da fala,
no texto e nos silêncios, 
que me tornam um segredo
contra o ouvido de todos em qualquer movimento de mandala,
de si mesmo quebrado e espalhado
em pesadelos  de antigas senzalas.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

ESCRITA DE SI

As palavras que desenham meu corpo
em uma escrita de si
estão sempre fugindo
no traço do meu desaparecimento.

O subjetivo em mim
é  impessoal e íntimo.
Ele é intenso movimento inerte.

Tenho edificado com letras duras
um caminho sem rumo
na geografia do pensamento.

Pouco me importa a ordem do discurso,
a prisão dos enunciados.
Gagejo, uivo,
no hermetismo da ficção.
Sei que só há  ciência 
na literatura
e que a verdade dança 
no ritmo do irrazoável,
do inclassificável.