segunda-feira, 31 de maio de 2021

LIMITE

Não há vagas.
Não é justo.
Não faz sentido.
Não afeto.

Acabou a esperança.
Resta gritar.
Arrombar a porta do sonho.
Enfim, delirar.

terça-feira, 25 de maio de 2021

O FILHO DO VENTO

Tudo é  tarde demais.
Seja agora,
ontem,
ou amanhã. 

Meu momento é  a superfície  profunda
do indeterminado finito do sempre,
do urgente,
que foge ao mundo,
ao transcendente,
e brinca com o tempo.

Há em mim um sempre sem esperança ou eternidades,
niilista,
impertinente.


Tudo é  tão  intenso
enquanto dura
que ignoro a intuição  do nada
e a verdade do silêncio. 

Sou imagem e semelhança  do vento,
livre e selvagem,
nas vertigens do pensamento
como corpo e matéria  em movimento.



segunda-feira, 24 de maio de 2021

INCONSTÂNCIA

Vou te contar um segredo:
Amanhã,  pela manhã,
o mundo não será o mesmo.

Mesmo que ninguém perceba,
a vida muda o tempo todo.
Há mortes e nascimentos
como existem dias e noites.

Amanhã seremos outros,
mesmo persistindo em nós mesmos,
através de um hoje que não existe.

Jamais seremos felizes.
Vivemos no incerto do rosto
que contradiz o reflexo no espelho. 





sábado, 22 de maio de 2021

CONSCIÊNCIA NEGRA

Não  quero um rosto decorando minhas palavras.
quero meu corpo negro, 
urgente e vidente,
no presente da fala,
no texto e nos silêncios, 
que me tornam um segredo
contra o ouvido de todos em qualquer movimento de mandala,
de si mesmo quebrado e espalhado
em pesadelos  de antigas senzalas.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

ESCRITA DE SI

As palavras que desenham meu corpo
em uma escrita de si
estão sempre fugindo
no traço do meu desaparecimento.

O subjetivo em mim
é  impessoal e íntimo.
Ele é intenso movimento inerte.

Tenho edificado com letras duras
um caminho sem rumo
na geografia do pensamento.

Pouco me importa a ordem do discurso,
a prisão dos enunciados.
Gagejo, uivo,
no hermetismo da ficção.
Sei que só há  ciência 
na literatura
e que a verdade dança 
no ritmo do irrazoável,
do inclassificável. 


quarta-feira, 19 de maio de 2021

DEVANEIO EM JANEIRO

 Bom seria poder dançar no vento

e fazer sumir o dia

na mais profunda superfície

invisível do mundo.

 

Queria embriagar versos e prosas

na lua cheia,

redescobrir 

a imaginação de criança,

Reinventar a vida 

antes que seja tarde demais

para saber minha existência insana.

sábado, 15 de maio de 2021

A MORTE DO DEUS SOL ( Guaraci)

A luz do sol é ausente
em um mundo opaco,
quase um filme em preto e branco,
Onde a vida é simulacro
no cotidiano exercício 
de um existir impossivel.

Tudo em nós é precario.
Artificio e espetáculo 
de fins e meios
onde o consumo é medida de sobrevivência. 

O sol e as cores nos escapam
na rotina do emprego.
Escutamos atônicos as mentiras dos governos
embriagados de novas midias
e intorpecentes tecnologias so vurtual.

O sol não cabe na tela fo telemóvel ou da TV 4K.




quinta-feira, 6 de maio de 2021

VIDA TÓXICA

A terra gira
sem o peso das quatro estações.
A natureza não  sabe Vivaldi.
O clima agride o ano todo
no inferno das cidades
onde o progresso nos mata
e o futuro é  quase impossivel
enterrado por toneladas de esgoto e lixo.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

ESCRITA DE SI

 A escrita é uma estratégia  de "outramento de si", de produção do outro da palavra como portador da errância. Este outro que nos habita como uma passageiro misterioso, está sempre em movimento através do desregramento dos modos cotidianos de existir, de se deixar entre os outros. Ele personifica toda estratégia de devaneio, de saudade viva do não acontecido, do desconhecido, ou, simplesmente, nossa auto representação  aberrante que transcende o limite da persona e do social.  

O exercício do "outramento de si" é um cultivo de desconhecidas infâncias, uma técnica de alteridade através da qual o eu, vazio de si, confronta-se com o mundo no além de suas normativas e codificações. Trata-se de um esquecimento, de um desaparecimento, como processo de ser e viver em diálogo, em exteriorização e composição de si através dos outros.

ESQUECIMENTO

 


Persisto informe

entre um mundo desfeito

e um corpo que desfalace.

Insisto em um dizer selvagem,

sujo e provisório,

enquanto o silêncio desenha o tempo,

nossas ausências e limites,

apagando os anos.