segunda-feira, 3 de maio de 2021

ESCRITA DE SI

 A escrita é uma estratégia  de "outramento de si", de produção do outro da palavra como portador da errância. Este outro que nos habita como uma passageiro misterioso, está sempre em movimento através do desregramento dos modos cotidianos de existir, de se deixar entre os outros. Ele personifica toda estratégia de devaneio, de saudade viva do não acontecido, do desconhecido, ou, simplesmente, nossa auto representação  aberrante que transcende o limite da persona e do social.  

O exercício do "outramento de si" é um cultivo de desconhecidas infâncias, uma técnica de alteridade através da qual o eu, vazio de si, confronta-se com o mundo no além de suas normativas e codificações. Trata-se de um esquecimento, de um desaparecimento, como processo de ser e viver em diálogo, em exteriorização e composição de si através dos outros.

ESQUECIMENTO

 


Persisto informe

entre um mundo desfeito

e um corpo que desfalace.

Insisto em um dizer selvagem,

sujo e provisório,

enquanto o silêncio desenha o tempo,

nossas ausências e limites,

apagando os anos. 


domingo, 2 de maio de 2021

ULTIMAS NOTICIAS

O futuro anda em falta nas pratileiras do tempo vivido.
O passado, ao contrario, anda encalhado, enquanto o presente, é campeão de consumo. 

O perecível dia de hoje é  servido frio em todas as mesas com sua data de validade sempre vencida na midia. Mas ninguém se importa. Mesmo que o amanhã  não  seja outro dia, que o futuro seja o impossivel de nós.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

NATUREZA E DIVERSIDADE

Qualquer  existência, 
humana ou não humana,
é  acima de tudo um provisório arranjo de matéria e  energia,
destinado a inquietude, 
a integração voluntaria a um lado de fora de si.

A natureza faz de cada coisa
o destino da outra.
Ela é  ecossistema, sinfonia, 
ou matéria em movimento,
no devir da vida,
que se desfaz em encontros,
 e sinfonia,
onde cada coisa não existe pra si,
mas entre tudo,
entre mundos e desaparecimento.
Tudo é  intercâmbio nas pulsões do universo. 





ESCOLA

A escola não  ensina o mundo.
Nela não aprendemos a vida. 
Apenas  ilusões e metafisicas,
conformismos e normalidades.

A escola  nos conforma
a contramão da liberdade,
ao silêncio  da poesia.



domingo, 25 de abril de 2021

A ANGUSTIA DA FALA

Através do exercicio da fala
o silêncio me abraça em palavras,
 me afogo em signos,
metáforas e memórias.

Minha fala da voz ao interdito,
 ao não sentido,
ao incomunicável onde existo
como  avesso da palavra
que me inventa um rosto e significa.

Falar é escapar a si mesmo
na ilusão do legivel.
Sou um silêncio que fala,
uma falta que transcende a ausência. 

Falar me sufoca
na agonia da boca.


quarta-feira, 21 de abril de 2021

VITALISMO

Não  quero ser gente.
A humanidade é  uma falácia,
uma falência  da existência. 
Já que a vida é terra,
animal e planta,
composição e mistura
do diverso
em Unus Mundus.
A vida não  é  humana,
mas devir e imanência,
multiplicidade , encontro
e alquimia.
 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

A ARTE DE OLHAR

Olho o hoje
com os olhos de ontem.
Quase não  vejo  novidades
no precario horizonte
que desenha o amanhã. 

Meus olhos recusam o caos,
as insurgências dos detalhes.
O olho não  pensa
no corpo que inventa a razão. 

Olhar é uma arte abstrata 
além da concretude da representação
e a realidade
não  passa de um quadro surrealista.


terça-feira, 13 de abril de 2021

MUNDO E EXISTÊNCIA

O mundo é a geografia existencial a qual somos lançados pelo nascimento. Ele é  composto por tudo que nos  circunda ou participa de nossa consciencia de si e das coisas. Desta forma, é  no mínimo suspeita a noção "positivista" da objetidade de um mundo comum e independente de nossas percepções é afetações. Somos parte do mundo tando quanto ele é  parte de nós. 
O mundo é  um acontecer vivo da natureza, é a  ambiência de um meio vivente.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

INFÂNCIA SELVAGEM

Onde respirar o ar de fadas,
saber o vento de outroras
e reinventar a selvageria,
a agressividade lúdica,
do inominável da infância?

Nunca fui a criança que que queriam os adultos.
Nunca  fui inocente,
mas expressão fisica da vontade,
Da natereza crua
e estranha a toda  cultura.

 Fui corpo de muitos sonhos  despertos.
Pois o que é  um infante
além de uma ponte
entre o animal e homem?