“Tempo disso, tempo
daquilo,
falta
o tempo de nada!”
Carlos
Drummond de Andrade
Com a segunda revolução
industrial europeia do seculo XIX, sociedades como a da alemanha,
Inglaterra e França, tornaram-se definitivamente urbanizadas e
formatadas pelo tempo das fábricas ou do relógio mecânico. As
relações sociais no Ocidente, desde então, passaram a ser
reguladas pelos artifícios tecnológicos, tanto no âmbito publico
quanto privado do viver coletivo.
O relógio mecânico, neste
contexto, tornou-se um poderoso dispositivo de controle e
normalização da vida, algo sem paralelos na história das sociedades
humanas. O tempo antropologizado encarna o dia de 24 horas regrado
pelas atividades produtivas e comerciais .O tempo do relógio é o tempo
do trabalho, da alimentação e do descanso, como ethos formatador de
novos saberes e relações de assujeitamento e poder biopolitico no
controle da população e dos corpos nos recém estabelecidos
territórios nacionais.
Mas o tempo do relógio e da
domesticação através das horas é também o tempo do cansaço e do
esgotamento universal. Afinal, contra o tempo do relógio, o corpo,
como todo organismo vivo, possui um ciclo circadiano ( processo
biológico de 24 horas que dita o rítmo de nossa existência
biológica.). Toda forma de vida dependente da luz solar possui algum
tipo de ciclo circadiano que lhe permite aproveitar o máximo a luz e
a escuridão. É isso que popularmente é chamado de relógio
biológico, no caso humano, localizado no hipotálamo. Mas todas as
células do nosso corpo e órgãos corporais possuem seu próprio
relógio biológico que são sincronizados pelo relógio principal
localizado no cérebro. A falta de sintonia entre eles imposta
racionalidade disciplinar do tempo do relógio nos adoece.
Em outras palavras, contra
todas as ilusões de nosso cotidiano pós industrial, não é o tempo
social do relógio que regula nossas vidas, mas o tempo natural
definido pelo movimento da terra em torno de si e do sol.