quinta-feira, 8 de outubro de 2020

AS DESVENTURAS DO EU

O mundo não cabe no eu,
O corpo ignora o eu.
O cérebro não  sabe do eu.
A palavra inventa seu próprio eu.
A consciência é  a prisão  do eu.
O eu é  apenas o tu invertido,
A angústia do nós, 
E um sinônimo de ninguém. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

TEMPO, CORPO E MEMÓRIA

O passado é no agora e sempre
Uma atualização constante
Do meu corpo no tempo 
Através da memória.

Ele é transformação e movimento
De uma consciência que se expande
Na persistência de um futuro
Sempre movente.

O passado é o amanhã em movimento
Como lembrança e insistência da vida dentro e fora da imagem tempo,
Na recusa da morte
Através da intensidade
De experiência de ser.

sábado, 26 de setembro de 2020

O QUE É A VIDA?

A Vida é  encontro entre corpo e ambiente.
Não  depende da consciência,
Da intencionalidade.
A vida não  é  humana.
Iguala a ameba, o homem é o carrapato.

Os arranjos da matéria em movimento
Quê definem o organismo vivo 
É  um acidente dentro da natureza,
Algo que ignora o universo
Na composição  de afetos.

A vida é indiferente 
A linguagem e ao pensamento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

DO FIM DA HISTÓRIA A REALIZAÇÃO DO TERRESTRE

O mundo futuro não será  humano.
Há de ser terrestre,
Verde e profundo,
De uma materialidade radical
Na irracionalidade intensa dequalquer outra vida.

O homem, este animal triste,
Há de de ser desconstruido por suas máquinas,
Reduzido a uma lembrança  triste,
A uma consciência antiga. 

O mundo, então,  será sem história, 
No eterno retorno do  assignificante.

O homem há de perder para sempre
A possibilidade de ser para si
No saber do mundo
Através  do colapso da linguagem.

A liberdade da Terra
Será  a morte do homem.



quarta-feira, 23 de setembro de 2020

OS OLHOS E AS COISAS

As coisas falam aos olhos.
Compartilham segredos 
Sobre a existência,
O tempo e imanência,
Além de toda possibilidade 
Da linguagem e do pensamento.

Tudo é  dito como imagem e presença.
Tudo são as coisas
Inventando o olhar
Como lugar do outro, 
Do multiplo e do incerto
Das sensações mais concretas.

As coisas habitam os olhos.
Mas não  são o que diz a visão. 
Elas ensinam o informe, 
A indeterminação dos espaços,
Dos corpos,
 Na intuição  de uma quarta dimensão.

As coisas são umas nas outras.
Estão  sempre em fluxo de composições,  de composições.
Elas ensinam aos olhos o primado da incerteza do ser é do estar.

Os olhos são  um apêndice das coisas.
Qualquer pintor sabe disso
Contra a objetividade da fotografia.







sábado, 19 de setembro de 2020

O INUMANO DA VIDA

A vida não  pensa.
Ela acontece na multiplicidade 
E encontro das coisas
Em uma trama insana
De conflitos e composições.

A vida não  tem razão. 
Ela apenas existe
Nas metamorfoses do sensível,
Na afirmação  do terrestre,
Que transcende o humano.

Tudo  coexiste,
Metavive, 
Transborda,
E se transforma
Em um tempo sem história.

A vida não  é  humana.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

NOTAS DE FUGA

DEVIR Mulher
DEVIR criança 
DEVIR pássaro....

Desmistificar,
Desterritoriarizar,
Terrificar, 
Até aterrar
E tocar o inumano,
O esquizo,
Transfigurado
A palavra em rabiscos  oníricos.

Não  ser,
Perecer em um golpe de ar
Entre pensamento e memória,
Fugir a razão  e as normas.
Escrever o corpo inerte
Em sei movimento infinito.

Nunca buscar conclusões, 
Representações. 
Apenas produzir acontecimentos,
Saber afetos,
Antes que seja tarde demais
Para ser ontem. 


GAIA INSURGENTE

A Terra já não  é  mais palavra,
Conceito, signo,
Ou qualquer representação abstrata
De uma natureza escrava
A razão e a técnica 
Do progresso vil do humano.

A Terra é a vida insurgente
Contra a História,
Geo acontecimento violento,
Intenso e insubmisso,
Um novo enigma da revolta.

A Terra é  corpo,
Um absoluto e inumano devir mundo.

domingo, 13 de setembro de 2020

DIZER ESQUIZO

Quero assignificar o dito
Até que a palavra
Fuja do pensamento
E dance no abismo  do não  sentido.

Quero gritar a música de um silêncio,
Revelar todo caos escondido
No fundo raso  da ordem das coisas
E  na agonia dos sentimentos.

Quero escutar o corpo
Em suas múltiplas falas de ser
Sem sentido.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DESENCANTAMENTO DO MUNDO

Não há mais muita  realidade 
No fundo das palavras
Ou das vivências. 

Nossa consciência não penetra o mundo 
Modelando vazios e acordando potências que atravessam os corpos.

Não sabemos mais as intensidades de uma transbordadante existência,
Movente no imanente 
De um  permanente estado de infância e devir.

A realidade hoje carece de encantos,
De verdadeiros encontros,
Que a livre da prisão das palavras
E das máscaras dos egos,
Reinventando o aberrante
Que assignifica o real
Na indiscrição do eu e do mundo. 

Nós tornamos escravos da falsa liberdade 
De nós  mesmos.