domingo, 31 de maio de 2020

O TEMPO DO DIA

O tempo do dia já não é mais o tempo da vida.
É um tempo suspenso onde corre o interdito,
Onde o provisório, o ilegível,
Anunciam a finitude como horizonte de consciência. 
É um tempo sem progresso,
Um tempo de sombra e angústia,
Onde tudo é  incerto.
O dia guarda uma eternidade morta
No quase avesso da vida.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

A MÁSCARA

A máscara inventa no rosto a peste ,
Apaga sorrisos,
Reinventa os olhos.

Os olhos expressam o mundo,
Um mundo triste, 
Absurdo,
Onde domina a peste. 

A máscara é um outro rosto....
Que vê outra realidade
Dentro do nosso grito silencioso.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

DIAS DE EMERGÊNCIA

Em dias de emergência
Tudo é urgente,
A vida grita contra o tempo.
A necessidade gira no relógio. 
Tudo é  precário em nossa vulnerabilidade.
E o mundo faz pouco sentido.
São dias de deserto
Na experiência do trágico. 

sábado, 16 de maio de 2020

O ALÉM DO HUMANO

Há algo de intenso
No limite da história,
Do significado do mundo,
No vazio da sociedade,
Na saturação dos discursos,
Que nos ensina a vertigem do agora.

É onde o humano desaparece
Como acontecimento moderno.
É onde se apresenta
Dentro de nós no fora do eu
A grandeza da natureza 
Na invenção do além do humano
Através da força de novos afetos. 

quinta-feira, 14 de maio de 2020

FIM DOS DIAS

Não há mais dias,
Apenas o inatual do agora,
O provisório e precário
Como desordem das coisas.

Não há mais dias,
Apenas a rotina da perplexidade, 
Do luto e das vulnerabilidades.

O que existe agora é o absurdo,
O susto e o vazio.

Em breve
Todos seremos outros,
Ressiclagem de nós mesmos
Em busca de tempo contra o próprio tempo. 

Não há mais dias. 
Todos os dias se foram.
Agora há outra coisa
Que não atende por qualquer nome.
Nós mesmos já  não somos mais
O ser de qualquer coisa,
Quase não somos humanos
No gritar primal do corpo
Em busca de tempo e espaço.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

VERTIGENS DO ALÉM DO HUMANO

Não  me reconheço mais em meus atos,
No diário exercício da minha finitude,
Em estado de carne, informação  e fome.
Me debato contra todo conformismo,
Sedentarismo que nos define em 
No arcaísmo de velha sociedade.

 
Quero ultrapassar o humano,
Meu caos cotidiano e as angustias do  mundo contemporâneo. 
Pular o muro do possível 
E  explorar o indizível da natureza,
Habitar a terra além dos limites da cidade.

Quero rir ao infinito,
Extrapolar todo significante,
Todo significado,
Todo dizer e fazer pré moldado e antropomórfico.
Quero inventar em mim qualquer outro mundo, outra vida, 
Onde me assuma experimental e póstumo.









O MEDO QUE NOS HABITA

O medo que nos habita 
Não é mais o mesmo.
Não é um medo da morte,
Da guerra ou da fome.
Mas um medo da própria vida,
Uma incerteza quase absoluta
Que pesa no corpo,
Turva pensamentos,
Em uma tempestade de tristes afetos.

É um medo que se respira,
Que contamina,
Que se compartilha.
Um silêncio,  lamento ,
Que adoece a vontade
No trágico sentimento
De uma ausência de mundo.
O medo que nos habita 
É nossa própria casa.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

ALGUMA COISA

Qualquer coisa tola nos traduz a vida na simplicidade  do dia,
Qualquer coisa absurda,
Infantil e selvagem,
Um estado de quase melancolia.

Há algo de absurdo e sem sentido
Dentro e fora da consciência 
Que nos define como corpo,
Como matéria e mundo
Até  o limite da imaginação. 

Algo que nos torna imunes a verdade,
Aos artifícios do verbo e ilusões  do coração. 

Sei vazios de pensamentos 
Brincando
Entre o eu e os outros
Do dizer ordinário. 

Alguma coisa sem nome
Nos conduz além  do simulacro do humano.
Alguma coisa não precisa ser dita,
Mas acontece onde não somos nós
Em delírios de liberdade e expressão. 





domingo, 26 de abril de 2020

PALAVRA ENIGMA

A palavra vento,
A palavra ausência,
A palavra experiência, 
A palavra morte,
A palavra jogo,
A palavra sorte,
A palavra oca.

A palavra é sempre outra
Ferindo a tela em branco
Como indecifrável objeto texto.

A palavra através  da qual 
Desapareço. 

O RETRATISTA


Entre a esperança e o medo,
Ele descobriu a confiança em si mesmo.
Fez da sua arte barata uma arma contra a incerteza,
Uma resposta ao caos do  mundo,
A morte e a vida,
Colhendo ecos da natureza
No retrato de dias banais.
Não era um pintor,
Era um retratista.
Dedicava-se a beleza dos pormenores,
A singularidade de cada momento,
Na nulidade de sua vida de artista.