quarta-feira, 13 de novembro de 2019

O DIZER DO SILÊNCIO


Um silêncio  fala através  de mim
Todas as coisas da vida.
É  através  dele que existo
No ato e na palavra
Que me procura
E me torna visível 
Entre os outros. 

O silêncio me escuta
E me faz dizer.
Guardo dentro dele
Todos os pensamentos.

No silêncio  não  há interdição, 
Nenhum segredo.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

FILOSOFIA DO QUASE SER DA GENTE

Não  existe ser que não  seja um se fazer permanente na experiência de um mundo que nos inventa e ultrapassa.

Viver é  não  ter certeza de si mesmo,
É  ser conduzido pelas afetações ,
Pelas imagens e imaginações 
Que inventam pensamentos
Em um corpo que se faz entre corpos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

ALÉM DA VERDADE





A verdade não define a vida.
É a imaginação, a paixão,
e o sonho  
o que nos define como seres vivos.

Vivemos para as indeterminações,
as incertezas, inconstâncias,
e permanentes transformações
do pensamento e  da matéria.

Viver, para nós, 
é ser mais verdadeiro
do que a verdade
na arte de inventar-se
como  algo existente.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O TRANSBORDAMENTO DO POSSÍVEL


Uma história que não seria aquela do que poderia haver de verdadeiro nos conhecimentos; mas uma análise dos ‘jogos de verdade’, dos jogos entre o verdadeiro e o falso, através dos quais o ser se constitui historicamente como experiência, isto é, como podendo e devendo ser pensado.”
Michel FOUCAULT
in História da Sexualidade vol. 2: O Uso dos Prazeres

A experiência de si é sempre a vivência dos limites do tempo presente. Pois esta condicionada a um dizível e a um visível, conformada a diversas formas de assujeitamento, de normalização da vida e do pensamento.

O “eu” através do qual escrevo, por  exemplo, é um componente do discurso que se confunde com os valores que condicionam qualquer enunciado,  estabelecendo os limites do possível do meu dizer.

O que me parece, portanto, desafiador e útil é buscar,  naquilo que permaneceu em estado virtual, que foi  objeto de interdição para viabilizar o possível, alguma sinalização de um outro futuro alternativo, de qualquer conteúdo rejeitado que ainda aguarda para nascer reinventando o presente. Estamos sempre grávidos de alguma palavra que foge as gramaticas vigentes, que se insinua como paixão, paradoxo e descontinuidade.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

UMA OUTRA INFÂNCIA





Existe uma infância que nos persegue.
Ela não é um tempo,
uma idade do corpo.
Mas um não lugar abstrato
onde acumulamos modos de sentir,
sensibilidades outras,
que nos deslocam do presente,
que nos conduzem ao sem tempo,
a irrazoabilidade de um devir-devaneio intenso.

Trata-se de uma infância carente de linguagem.
Nela domina a imagem e o afeto
na ambivalência do riso e do choro,
na instabilidade do ter e do perder.

Ela não pode ser educada,
domesticada ou superada.
Pois demarca um espaço de consciência
através do qual tudo escapa.

Esta infância é a inocência suprema
onde nada se sabe,
nada é dizível.
Nela se esconde
o radicalmente outro
de nós mesmos,
além do saber,
além do poder,
do cognoscível,
do agir e do ser.



DIZER O MUNDO



Encontrar minha própria forma de dizer o mundo é o único propósito que vejo no sem sentido da vida. Por outro lado há uma pluralidade irredutível a qualquer enunciado neste meu processo de dizer. Isso o torna inultrapassável  como meta. É  no próprio movimento de dizer que digo o mundo a minha maneira sem nunca esgotar meu modo de dizer o mundo. O dizer é sempre um vazio  rasurado pelo provisório da narrativa. Ele é um trabalho inacabado, inconclusivo, como a própria existência.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O PENSAMENTO QUE SENTE



Pensar é compor conceitos,
transvalorizar palavras,
até o limite do inteligível.

Não falo do pensar banal
de ensaios e tratados abstratos,
Refiro-me  ao pensar
que  promove o ajuntamento
do diverso,
reunindo frases  pelo sabor,
textura, volume, afetos,
estabelecendo conexões e sentidos inusitados
que reinventam as coisas,
que produz  a vida
como um texto sempre aberto.

Falo do pensar que sente,
que relaciona tudo e nada,
que inventa a realidade
como experiência complexa,
como imagem mosaico
irredutível a si mesma
e em constante mudança.

Trata-se do pensar da pele,
dos olhos,
das mãos e da boca....
um pensar com o corpo.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A PAISAGEM




A paisagem convida os olhos.
Ela nos envolve e nos consome
como geografia viva de signos.

Ela existe na medida em que somos
no sentir das coisas,
através de percepções e  ambiências.

Nossos olhos inventam pinturas
na imaginação que expressa o corpo
como um ponto contido
na imensidão de um lugar.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

TEMPO, NATUREZA E NÃO SER


O presente se estende ao dia seguinte,
Inventa seu próprio duplo,
Na multiplicidade de um agora inumano
Entranhado na paisagem viva
De uma terra em transe.

Já  não  faz sentido o tempo
Ou a eternidade.
O instante é a persistência da paisagem
Além da presença do humano.

A natureza , indiferente a si mesma,
Persiste sem tempo
No devir do espaço.

A vida transcende todas as suas formas e fórmulas
Na composição mutante do orgânico e do inorgânico.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

TEMPO PRESENTE E PÓS HISTÓRIA


O tempo presente sempre nos escapa como vivência plena através da experiência precária de cada momento. Ele se confunde, assim, com a permanente erosão de  seu próprio esboço.

Este presente colapsado e inconstante, que vinculamos a vivência concreta do imediato de um agora, não é linear, nem cíclico, mas  heterogêneo e múltiplo em sua fugacidade. Ele não comporta, ainda, interpretações ou significados. Pois simplesmente acontece a margem de todo sentido possível e do simulacro de qualquer memória. Ele é puro esquecimento em sua unicidade , mas, simultaneamente, é  sequência replicante de um outro de si sempre atualizado.

É a partir deste incerto agora que o tempo presente ganha forma e conteúdo enquanto território de ação e durabilidade, como lugar do acontecimento e da memória, como fato escrito em nossos corpos como ato e palavra.    

Este presente não é o efeito de qualquer passado, não semeia futuros possíveis. Ele é a eternidade de seu próprio momento cujas fronteiras indefinidas configuram uma experiência fluida do real. Trata-se de um tempo que é espaço, estado e matéria, e não uma percepção abstrata do simples fluir das coisas.

Podemos dizer também que ele é próprio a cada singularidade. Não é um tempo universal e objetivo. Cada um vive seu próprio presente definido por sua trajetória especifica no tempo e no espaço de sua existência.