segunda-feira, 1 de abril de 2019

UM ECO DE INFÂNCIA


Espero sempre ter diante da vida a inocência de uma criança,
Um misto de inconsequência e prudência.
Fazer de tudo experiência
aventura,
Com uma irreverente pitada de delinquência.

Que nada seja previsível,
Pré definido por convicções baratas.
Que tudo seja absurdo, intenso,
Como uma obra de arte.
Quero em tudo que eu veja
Um brilho de liberdade.

O FUTURO NÃO SERÁ HUMANO

Impomos ao mundo às formas humanas, nossas fantasias coletivas de verdade.

Rejeitamos a experiência da natureza crua em nome da ilusão das civilizações.

Toda história humana tem sido uma recusa do mundo, um delírio de transcendência.

Submetemos a existência aos caprichos de nosso intelecto imodesto. Apenas para nos tornamos escravos de nossos próprios artifícios.

Agora somos a principal ameaça a nossa própria sobrevivência. Não há mais futuro dentro de qualquer forma de "humanismo".

sábado, 30 de março de 2019

INTENSIDADES

É na ausência das palavras que fala minha consciência,
Que as intensidades e velocidades do pensamento  dão nova dimensão a existência.

Tudo se resume as superfícies das coisas,
Ao saber da pele

Na orgia de afetos.


Sentir é um modo de saber o mundo
Como uma intensa experiência.
Sentir é quando o corpo pensa.


sexta-feira, 29 de março de 2019

AQUI E AGORA



Estou aqui e agora.
Não em qualquer outra parte.

Este é o meu limite,
O chão que me sustenta
E o tempo que me inventa.

É onde acontecem os encontros,
Onde ganha forma o múltiplo,
O possível.

Estou aqui e agora
Sem qualquer ilusão ou espectativa,
Sem saber o que demasiadamente sei...

terça-feira, 26 de março de 2019

EXCESSOS


Há um excesso de lugares,
De palavras,
De vontades,
De afetos,
De rostos,
De alegrias,
De tristezas,
De livros,
De medos,
De angústias,
Identidades,
Desejos,
Mentiras,
Hipocrisia,
Gritos,
Silêncios,
Filmes,
Vertigens,
Deslumbramento...
Os excessos são quase infinitos,
E tudo que escrevo convida ao silêncio,
A esta miserável impotência de ser
Através da qual escapo a mim mesmo
Me desfazendo em mundo.

A AGONIA DE EXISTIR

É sempre isso que tentamos: criar mundos impossíveis diante de possibilidades possíveis. 

Há de fato em nossos atos e sentimentos  sempre uma boa dose de voluntarismo, de ilusão e desespero de vontades feridas.


O existente, o tempo presente, nunca nos basta. Somos por natureza, circunstância ou destino, seres inconformados, inadaptados a própria vida. Mas é isso que nos torna criativos,
Que inventa em nós o devir.

domingo, 24 de março de 2019

O INATUAL


Sigo ao encontro do inatual,
Daquilo que não cabe no momento,
Que recusa o tempo,
Atravessando todas as épocas.
É um misto de corpo e silêncio.
Um pulsar de vida,
Onde a fragilidade da presença
Inventa um mundo sem tempo
E livre de urgências.
Por um instante me surpreendo
Fora de tudo,
Dentro da natureza.
É como se fosse sempre
O primeiro dia do humano.

sexta-feira, 22 de março de 2019

MODESTAS ESPERANÇAS



A vida ainda comporta algumas modestas esperanças. Coisa pequena que pode parecer restrita ao âmbito da chamada vida privada. Falo de uma polidez de gestos e palavras decorrentes de um modo particular de sentir e agir. 

Dizendo de forma bastante simples e direta, a vida deve nos acontecer como uma boa musica. A esperança nasce disso: da possibilidade de comover e ser comovido no jogo cotidiano das pequenas coisas. É cultivar a sensibilidade para perceber que somos, através de tudo aquilo que nos rodeia, um simples pedaço de natureza.


quinta-feira, 21 de março de 2019

NOMADISMO

Sou aquele que não se move,
Que permanece inerte
No meio das coisas.

Sou a paisagem em seu movimento.
Não sei um rosto,
Não tenho casa.

Tudo em mim é acontecimento,
Poesia e afeto
Que não se conforma a palavra.

Existo fugindo do que me define fora da paisagem.
Existo como vivem às pedras,
E, entretanto, nada em mim é inércia.

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quarta-feira, 20 de março de 2019

FORA DO MUNDO



Ignoro a urgência cotidiana das coisas.
Sou indiferente as pressões do trabalho,
Aos assuntos de família,
E aos eventos sociais onde impera sempre o efêmero e o dispensável.
Cultivo a paz de minhas inercias,
O silêncio da minha preguiça
E os afetos que me consomem.
Não estou disponível às dores do mundo.
Aprendi a ser intenso através de ausências.
Não tenho interesse em participar de nada.