"A emoção não diz 'eu'. Como você mesmo disse, se está fora de si. A emoção não é da ordem do eu, mas do acontecimento. É muito difícil apreender um acontecimento, mas não acredito que essa apreensão implique a primeira pessoa. Antes seria preciso recorrer a terceira pessoa, como Maurice Blanchot, que diz haver mais intensidade na preposição 'ele sofre' do que em 'eu sofro'."
Guilles Deleuze. A pintura inflama a escrita in Dois Regimes de Loucos: Textos e Entrevistas ( 1975-1995)
A emoção é uma espécie de possessão. É algo que vem de fora, que invade o eu, a consciência e, simplesmente, transborda.
Ela nos lança ao afeto sem a racionalidade eletiva e a teleologia do sentimento. Mas não há sentido em qualquer oposição entre emoção e pensamento. Ambos são grandezas psicológicas que transcendem o ego.
A emoção não é escolha. É sequestro. Ela acorda em nós um outro, um excesso. Ela nos põe em risco, nos ultrapassa, sufoca e nos embriaga de caos.
A emoção é mais do que afeto. É grito e ofuscação.
Aquele que sente não existe dentro do acontecer da emoção. Ela transcende o dualismo entre sujeito e objeto, fazendo o corpo confundir-se com o mundo na intensidade da experiência do dentro e do fora.