O "bergsionismo", mesmo aquele
proposto por Deleuze, apresenta a intuição como um procedimento metódico que se
destina a apreensão da materialidade movente das durações.
Ele se inventa contra a
descontinuidade de momentos espalhados pelo indefinitivamente divisível
(quantitativo), oferece como alternativa um tempo que corre indivisível (qualitativo)
e que se prolonga como uma melodia, como um devir sem suporte e sempre em
transição. Para Bergson esta duração é a essência do Ser, do absoluto. A
mudança é indivisível e substancial. Fluxo é sinônimo de duração. A intuição
como método é justamente a apreensão desta substância, o método filosófico de
uma nova metafísica, que vislumbra um
além da condição humana.
Não seria descabido tentar aproximar
as formulações de Bergson sobre memória do conceito de inconsciente coletivo de
Jung. Afinal, para o filosofo da intuição, a memoria é uma força imaterial que
evoca uma realidade transpessoal (espirito) que não é incompatível com o
conceito de psique objetiva ou inconsciente coletivo. Afinal, os arquetípicos são
informes. Apenas sabemos seu conteúdo através das imagens arquetípicas manifestas
no campo da consciência de modo dinâmico e plástico. Através delas o homem
arcaico e moderno coincidem em uma única experiência de realidade que poderíamos
considerar intempestiva, pois pressupõe um devir manifesto através de manifestações
históricas.
A memória é um acontecimento
coletivo que nos atravessa e comove no plano mais intimo e pessoal porque nos
oferece a percepção de nosso lugar no ininteligível do drama da própria espécie
humana. Eis, talvez, a medida de nossa
criatividade....