quarta-feira, 18 de julho de 2018

O NÃO LUGAR DO EU

Quando me ponho diante de um espelho e tento me descrever, surpreendo diante de mim uma anônima versão de mim mesmo.

Não sou aquele que revela a visão. Não sou minha voz e nem mesmo meus pensamentos. Sou qualquer coisa indeterminada, sem substância, entre o corpo e o mundo. Mas também não sou este eu que se inventa através de um discurso.

Ser qualquer coisa é uma pretensão tola. Tudo que faz sentido é não fazer sentido.

ETERNO RETORNO



O limite do possível é onde as coisas sempre acontecem.
É a dobra que separa o inatual da atualidade sempre provisória e que nos lança cada vez mais longe. Não há um ponto a ser alcançado que não conduza a outro mais distante. Entretanto, todos os pontos são iguais considerados em seus respectivos momentos. Estamos sempre retornando a um estágio inicial que nunca é o mesmo. Viver é constantemente começar de novo, devorar-se neste eterno circulo vivo que nos ensina o tempo.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

HISTORIOGRAFIA E ACONTECIMENTO

É aquilo que nunca mais se repete que interessa a historiografia na criação de memoria, na conversão em fato histórico daquilo que se perde na atualidade de cada novo momento. Mas não é apenas a individualidade e a singularidade que caracterizam os acontecimentos. Sua vulnerabilidade é o seu traço mais fundamental.

Afinal, tudo passa,  nos envolve e transcende. Estamos contidos no tempo, mas ele não nos contem. Ele nos atravessa. Todos os acontecimentos nos escapam, mas ganham materialidade quando coletivamente o inventamos no plano da experiência e da significação. Para tanto é preciso  transcender a imaginação do agora e apreender o devir que através deles nos surpreende  sempre. Em poucas palavras, o inatual nos habita e é exatamente isso que justifica a escrita da História.  

terça-feira, 10 de julho de 2018

HÁBITOS SEDENTÁRIOS E CONSCIÊNCIA


Uma metafísica da consciência busca a materialidade dos discursos como praticas e modo de ser, como um lugar dentro de um mundo. O discurso é onde se habita, onde a realidade se torna hábito. Mas a realidade não se reduz a práticas discursivas. Ela guarda sempre algo de indeterminado, de impertinente. Há sempre uma inquietude em relação ao real que engendra hiper realidades, ou que nos leva a o simulacro de palavras de ordem, de imagens de pensamento que reduzem o conhecimento a mera informação cotidiana ou, simplesmente, a uma performance discursiva.



sexta-feira, 6 de julho de 2018

SOBRE O DEVIR

O futuro, seja ele o que for, não será superior ao nosso presente, tanto quanto ele não é superior ao nosso passado. Apenas será outra coisa. O decisivo é sempre responder ao aqui e o agora buscando apreender o intempestivo, o incondicionada ou, simplesmente, o devir.  Seu movimento constante, sua durabilidade mutante, é o que sempre nos persegue através do tempo, das variações das formas históricas.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

NAUFRÁGIO



GEOGRAFIA EXISTENCIAL




Quem existe é o meio no qual me movimento.
É toda esta multiplicidade de objetos, processos,
Que transformam qualquer lugar em um acontecimento.

A singularidade é uma espacialidade dada que comporta o corpo.
Corpo onde o dentro e o fora inventam consciência das coisas.

Sou em todos os sentidos esta singularidade,
Este movimento que se transforma em lugar de existência.

Assim, a Terra inventa o universo como abstração
E duvido de tudo aquilo que me define a existência.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

JUNG E BERGSON: APROXIMAÇÕES



O "bergsionismo", mesmo aquele proposto por Deleuze, apresenta a intuição como um procedimento metódico que se destina a apreensão da materialidade movente das durações.

Ele se inventa contra a descontinuidade de momentos espalhados pelo indefinitivamente divisível (quantitativo), oferece como alternativa um tempo que corre indivisível (qualitativo) e que se prolonga como uma melodia, como um devir sem suporte e sempre em transição. Para Bergson esta duração é a essência do Ser, do absoluto. A mudança é indivisível e substancial. Fluxo é sinônimo de duração. A intuição como método é justamente a apreensão desta substância, o método filosófico de uma nova metafísica, que vislumbra  um além da condição humana.

Não seria descabido tentar aproximar as formulações de Bergson sobre memória do conceito de inconsciente coletivo de Jung. Afinal, para o filosofo da intuição, a memoria é uma força imaterial que evoca uma realidade transpessoal (espirito) que não é incompatível com o conceito de psique objetiva ou inconsciente coletivo. Afinal, os arquetípicos são informes. Apenas sabemos seu conteúdo através das imagens arquetípicas manifestas no campo da consciência de modo dinâmico e plástico. Através delas o homem arcaico e moderno coincidem em uma única experiência de realidade que poderíamos considerar intempestiva, pois pressupõe um devir manifesto através de manifestações históricas.

A memória é um acontecimento coletivo que nos atravessa e comove no plano mais intimo e pessoal porque nos oferece a percepção de nosso lugar no ininteligível do drama da própria espécie humana. Eis, talvez,  a medida de nossa criatividade....