sexta-feira, 1 de junho de 2018

SOMOS APENAS UM PONTO DENTRO DE UMA PAISAGEM

Enquanto um corpo ativo, pertencemos a um plano de experiencia de objetos e pessoas, somos parte de uma paisagem existencial. Não é nossa consciência que define nossa inserção neste plano, mas os efeitos limitados que ocasionamos sobre tudo que nos rodeia. Há uma exterioridade do interior e um interior da exterioridade que nos perpassa, que nos reduz a um ponto dentro de uma paisagem.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

QUASE ANATOMIA DO EU




Aquilo que sou....
O eu onde estou....
É o que é pensado no acontecer das  palavras,
É o que se transforma
Quando o lado de fora da linguagem
Se torna o lado de dentro do mundo verdade.

Mas quem sabe todos os labirintos de um enunciado?
Não se pode dizer das coisas a forma
Ou traduzir a vida em uma formula.

O eu é o ponto de encontro entre o dizer e o fazer.
Ele só existe através da ilusão de uma exterioridade.
O eu não tem um lado de dentro.


O INTEMPESTIVO



Considere sempre o intempestivo,
Aquilo que carece de razão e juízo,
Que passeia no vento em todas as direções
E cresce na paisagem como mato ordinário.

Busque sempre o hibrido, mutável e imprevisível
Principio de liberdade.
Não se acanhe diante do inesperado ou indesejável.
A vida é feita de surpresas
E as grandes mudanças são imperceptíveis
Pois acontecem como devir.



segunda-feira, 28 de maio de 2018

O OUTRO DA NARRATIVA

A narrativa sem direção dos delirantes da escrita tem por matéria o próprio dizer. Não visa a descrição de um objeto, mas a experiência da linguagem como uma coisa que se faz a si mesma,  que nos escapa a cada frase, fechada no encadeamento dos enunciados que se combinam por afinidade, como peças de um quebra cabeça.

Não há como ter controle. O texto porta seu próprio segredo e acontece através dele. É como um transe. Há um outro dentro do autor delirante. É sempre ele quem fala.

sábado, 26 de maio de 2018

ÉTICA, ESTÉTICA E PENSAMENTO

Nenhum saber normativo ou racional nos fornece ferramentas eficientes para o cotidiano exercício da existência. Para tanto é necessário um saber que fundamente uma ética, um modo de vida, que não seja uma representação ideológica do mundo, mas o dizer da experiência rasa em seu modo mais destilado.

O conhecimento deve acontecer no plano da vida convertida em uma experimentação estética. Nada de um saber verdade que nos ensine a julgar, a normatizar, e reproduzir relações de autoridade e poder.   

Pensar, afinal é uma arte. É consciência e não ciência.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

COORDENADAS EXISTENCIAIS

A multiplicidade de todas as manifestações da existência nos definem como um pequeno ponto em uma paisagem povoada por fatos em constante movimento e encadeamentos. 

A ideia de totalidade é uma fantasia inútil em meio ao caos e da proliferação constante de acontecimentos simultâneos. O todo não existe. É indefinível em macros e micros movimentos e transmutações constantes. A indeterminação é um princípio. Só nós resta  como estratégia de cognição apreender as simultaneidades, diálogos e distâncias entre tudo o que acontece. Nos reconhecer como um ponto, uma coordenada à estabelecer precárias referências em meio a uma paisagem onde desaparecemos.

ATO E POTÊNCIA



O hábito é a casa do obra.
Através dele cada um toma a si mesmo
Como matéria viva de mundo.
Não há persona que o defina.
Ele é potência,
Consistência e imanência.
O hábito é o virtual dos atos.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

ENTRE O OLHAR E O DIZER

Existe uma insuperável distância entre o visível e o dizível. Por isso,  mais do que observar é preciso saber com os olhos, tocar com o pensamento.

Tal habilidade não é proporcionada por nenhum saber ou ciência. Pressupõe certa intuição, uma espécie de automatismo da percepção e a sensibilidade de um olhar que recusa a paisagem, que se prende aos detalhes, e preenche o dizer com delicados silêncios.

O significado das coisas é um ato de linguagem, mas não se esgota no dizer. O visível é irredutível ao dito. Há sempre algo que escapa ao sentido e que deve ser acolhido na narrativa. É isso que nos leva a recusar ingenuas pretensões a  verdade como premissa de um enunciado.

O olhar é sempre relativo a astúcia da observação. O dizer nunca é uma descrição. Mas entre o visível e o dizível inventamos o comunicável como experiência imanente de um sentido que nasce do que não faz sentido. Há sempre algo que nos sequestra entre o olhar e o dizer.

EXISTENCIA EM MOVIMENTO


Não existo em qualquer ponto fixo de tempo e espaço, mas através de um deslocamento constante.

Percorro imaginações através do desejo,
Vivo uma busca sem objeto em permanente estado de movimento.

Onde isso me leva?
Talvez ao não lugar do vento.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

O CUIDADO DE SI COMO UM MODO DE VIVER




Foi no terceiro volume de sua Historia da Sexualidade que Foucault nos apresentou o conceito de cuidado de si, problematizando de forma original as configurações da subjetividade na cultura ocidental. Para tanto regressou as paisagens da antiguidade greco romana, dando um colorido novo a filosofia de Platão, dos estoicos e dos cínicos. Este tema preencheria seus últimos cursos ministrados no College de France interrompidos em 1984 por sua morte prematura.

Segundo Foucault, em algumas comunidades monásticas do inicio de nossa era, foram elaboradas técnicas que visavam um dizer constante da verdade de si mesmo a um superior hierárquico, definindo rígidas regras de obediência. Trata-se de uma confissão permanente de faltas e medos pessoais que põe em evidência os mais íntimos desejos.

Mas ele também nos fala sobre autores como Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio, que na antiguidade tardia apontavam para um outro relacionamento entre sujeito e verdade. Em lugar de uma sujeição a autoridade e controle, os últimos filósofos da era pagã elaboraram em suas praticas discursivas uma verdadeira ética da imanência e estética da existência que, embora pressuponha trabalho e disciplina, não está condicionada a valores transcendentais ou a afirmação de qualquer ordem social.

O bios torna-se, assim, matéria de uma arte onde o ocupar-se de si mesmo é também um ocupar-se com os outros e com o mundo, um qualificar-se para a vida publica, como Foucault demonstra através de uma minuciosa analise do diálogo de Platão consagrado a Alcebiades, no curso A Hermeneutica do sujeito, ministrado em 1982.

Todo um modo de vida é definido através de exercícios de meditação e de ascese que tornam o conhecimento de si um cuidado de si, ou seja, uma ética e uma estética. Não se trata aqui, portanto, do sujeito enquanto objeto de um discurso verdadeiro, mas do sujeito afetado e transformado por uma verdade que se torna forma de vida.

Pode-se falar sem pudor do conhecimento como um modo de existência, redimensionando a construção da subjetividade. De fato, trata-se aqui de ir além do jogo da verdade e do poder, da sujeição a identidades. O estudo dos sistemas de pensamento e das praticas discursivas conduzem a um questionamento dos saberes normativos e estratificados, da direção pastoral e autoritária da produção coletiva do conhecimento orientadas para disciplinar e estabelecer praticas de controle.

Pode-se mesmo fazer um uso normativo das praticas do cuidado de si, sucumbir a verdade e reduzi-las a mera disciplina. Mas é o oposto disso que nos leva a invenção de nos mesmos como experiência de si, do mundo e dos outros. É preciso aprender a inventar-se através das coisas.